Odair José é a principal atração da quinta noite do FIG, com show na Praça Mestre Dominguinhos, a partir da meia noite.
Cantor rotulado como brega, o artista emplacou seus maiores sucessos na década de 70. Já está setentão, mas em forma e hoje deve relembrar algumas canções que marcaram época, como "Cadê Você" e "Vou Tirar Você Desse Lugar".
Conheça um pouco mais de Odair:
Natural de Morrinhos (GO), cidade de
44 mil habitantes a pouco mais de 100 km de Goiânia, Odair José apareceu na
cena musical brasileira quando a Jovem Guarda vivia seus últimos momentos.
Como Fernando Mendes e Paulo Sérgio,
em suas primeiras músicas fazia o estilo Roberto Carlos.
Só que os três eram menos
“sofisticados” e conseguiram atingir um público mais povão do que o do então
rei da música brasileira.
O primeiro sucesso de Odair, “Minhas
Coisas” tinha muito a pegada de RC e já revelava o grande frasista que
consagraria o estilo do cantor goiano.
“Meu violão caiu de cima do armário,
suas cordas rebentaram, pondo fim a minha voz/o meu relógio com você se
acostumou, depois que ficou sabendo (da separação do casal) nada mais ele
marcou”, escreveria o autor da canção, que tocou bem nos rádios, na época.
Na década de 70 foi que Odair José se
tornou conhecido em todo o Brasil, com músicas falando de sexo, de
prostituição, do controle da natalidade e da vida das empregadas domésticas.
“Deixe essa vergonha de lado, pois
nada disso tem valor, por você ser uma simples empregada, não vai modificar o
meu amor”, foi o refrão de um dos maiores sucessos do artista goiano, que a
partir daí foi rotulado como “o cantor das empregadas”.
Ele foi ainda mais longe quando
compôs uma música dedicada às prostitutas.
Na canção, conta a história de um
cara que vai a um puteiro pela primeira vez apenas em busca de sexo, volta
porque sentiu saudades e então anuncia: “Eu vou tirar você desse lugar e não me
interessa o que os outros vão pensar”.
Caetano Veloso, cantor e compositor
intelectualizado, um dos nomes mais respeitados da MPB, surpreendeu o Brasil no
início dos anos 70, ao dividir o palco com Odair cantando exatamente essa
música: “Eu Vou Tirar Você Desse Lugar”.
Apesar de ser um cantor popular, com
repertório romântico, Odair José teve problemas com a censura quando estava no
auge da carreira. Teve mais de uma música proibida pela ditadura militar, como
a conhecida “Pare de Tomar a Pílula” (Uma Vida Só), que não agradou o governo
por protestar contra o uso de anticoncepcional, quando as autoridades estavam
distribuindo comprimidos para controlar a natalidade.
Além de Deixe Essa Vergonha
de Lado, Eu Vou Tirar Você Desse Lugar e Uma Vida Só, Odair José compôs
quando estava na onda a celebrada “Cadê Você”, que seria regravada por Leandro
e Leonardo, nos anos 90, e também por Roberta Miranda.
É uma música muito simples, com
apenas três acordes e que fez sucesso tanto com o autor, quanto com os outros
intérpretes.
O fato é que Odair, hoje com 69 anos,
mas ainda em atividade, tem quase 50 anos de carreira e em quatro ou cinco
décadas gravou 37 discos, compôs mais de 400 músicas e foi um dos artistas
destacados no livro “Eu Não Sou Cachorro Não”, do jornalista e historiador
Paulo César Araújo.
Em 2006 o artista natural de
Morrinhos foi homenageado por 18 artistas do rock pop nacional que fizeram um
tributo ao “cantor brega”.
No álbum estão nomes como Pato Fu
(Uma Lágrima) Mombojó, Paulo Miklos (Vou Tirar Você desse lugar), Eu Você e a
praça (Zeca Baleiro) e Mundo Livre S.A (deixe essa vergonha de lado).
Zeca Baleiro, o grande nome da MPB
que despontou nos anos 90, não apenas participou desse tributo, como produziu
um disco de Odair em 2012, dividiu palco com o goiano e compôs uma canção em
que chama o autor de “Cadê Você” de poeta.
Odair também já dividiu o palco com a roqueira baiana Pitty e durante o show cantaram músicas dele e pelo menos uma dela, "Me Adora, aquela com o verso "diga que me acha foda".
Odair também já dividiu o palco com a roqueira baiana Pitty e durante o show cantaram músicas dele e pelo menos uma dela, "Me Adora, aquela com o verso "diga que me acha foda".
Voltando um pouco lá atrás,
novamente, em 1977 Odair José gravou um disco, considerado uma “ópera
rock”, intitulado O Filho de Maria e José.
"Maria e José
se amaram e um lindo menino nasceu
Depois eles dois brigaram e o menino sofreu
Maria seguiu seu caminho, José voltou pra Belém
E o pobre menino sozinho sofreu mais que ninguém
Seis meses na casa da mãe, seis meses na casa do pai
E nessa roda da vida, a vida vai..."
Depois eles dois brigaram e o menino sofreu
Maria seguiu seu caminho, José voltou pra Belém
E o pobre menino sozinho sofreu mais que ninguém
Seis meses na casa da mãe, seis meses na casa do pai
E nessa roda da vida, a vida vai..."
Já na música título,
como o leitor pode observar na letra acima, ele toca numa questão delicada,
mexendo com um dos dogmas da religião cristã.
O cantor desagradou
seu público, a crítica e principalmente a Igreja Católica, que deve ter tido
vontade de excomungar o “cantor das empregadas”.
Duas décadas depois
o disco seria visto com outros olhos e recebido elogios de parte da crítica.
“Eles não entenderam na época”, diria Odair numa entrevista.
O que chama a
atenção no artista goiano é que ao contrário de outros grandes nomes do brega,
como Reginaldo Rossi e Agnaldo Timóteo, ele não é arrogante, não se acha o
máximo e tem um discurso inteligente e coerente.
Depois dos 60 anos ,
deu diversas entrevistas em programas como o Estação Plural (TV Brasil), Jô
Soares Onze e Meia, Danilo Gentil, TV Cultura, sempre demonstrando ter
conhecimento tanto de música quanto da realidade social do país.
Numa dessas
entrevistas, por exemplo, ele falou que quando fez a música revelando a
realidade das empregadas domésticas elas eram como que “invisíveis”,
verdadeiras escravas e só recentemente foram reconhecidas e ganharam alguns
direitos trabalhistas.
Ele disse também que
quando compôs “Pare de Tomar a Pílula” o assunto era tabu e atualmente até
adolescentes vão à farmácia comprar anticoncepcionais.
Enfim, o artista que
começou seguindo a linha de Roberto Carlos - chegou a gravar composições de Raul
Seixas e foi rotulado como brega - chega perto dos 70 anos produzindo, participando
de shows até no Teatro Municipal de São Paulo, como aconteceu na Virada Cultural
de 2013, e gravando discos novos, apesar da falência da indústria
fonográfica.
Não faz muito tempo
ele voltou a polemizar com “A Moça e o Velho”, abordando o preconceito de idade
na relação amorosa, no CD de 2012 gravou músicas de Carlinhos Brow e Chico
César, em 2015 lançou o álbum “16” e o ano passado colocou no mercado “Gatos e
Ratos”. Os dois discos com um som mais rock roll, que podem surpreender quem só
conhece o Odair cantando para prostitutas ou empregadas domésticas.
O disco
"16" tem uma curiosidade. Na capa, em letra de máquina de escrever, o
compositor revela que nasceu num dia 16 de agosto, no dia 16 de abril de
1964 saiu o primeiro álbum dos Rolling Stones e no dia 16 de agosto de 1977
morreu Elvis Presley.
São citados diversos
outros fatos importantes que aconteceram no dia 16, daí o título dado ao CD.
Odair José não
gostou de ser chamado de “cantor das empregadas”, quando fez sucesso com a
música homenageando as domésticas, nem aprovou o título de “Bob Dylan brasileiro”,
quando lançou a ópera rock “O Filho de Maria e José”.
Não aceita nem mesmo
o rótulo de brega, que considera pejorativo. Ele diz que admira Chico Buarque,
o qual considera o maior compositor brasileiro, mas sabe que muita gente gosta
da música dele (Odair) e não curte o trabalho do autor de A Banda, Cálice e
Carolina.
“Brega é uma coisa
mal feita, sem qualidade, e isso tenho certeza não faço”, disse Odair José numa
de suas entrevistas.
Aliás, ele gosta ou
tenta se definir. Já fez isso até numa música, intitulada “Assim Sou Eu”.
“Um andar apressado,
Um olhar tão distante
Um sorriso apagado,
Uma tristeza constante
Um rosto sofrido de alguém que muito
vive
Assim sou eu..."
Esse é o Odair José.
Curioso é que Belchior também foi chamado de o "Bob Dylan Brasileiro",
apesar de fazer uma música bem diferente daquela do artista goiano.
Antes de Odair
José, no Palco Mestre Dominguinhos, três shows vão resgatar algumas cantoras que
durante tempos brilharam no cenário da MPB.
Gonzaga Leal e
Áurea Martins vão interpretar sucessos de Dalva de Oliveira, a “Rainha do Rádio";
Cristina Amaral canta Nubia Lafayette e Bárbara Eugênia desfila no palco as
músicas de Diana, a partir das 22h.
*Foto: Facebook
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