Neste mês de janeiro de 2017 completa
100 anos que ocorreu a hecatombe de Garanhuns.
Uma página triste da história do
município, quando mais de duas dezenas de pessoas foram assassinadas em função
de atitudes intempestivas, equívocos, brigas políticas e por vingança.
A ORIGEM DO CONFLITO - Do fim do século XIX até 1912 a
família Jardim deteve o poder em Garanhuns. A partir desse ano a política
passou a ser comandada pelo coronel Júlio Brasileiro.
A rivalidade entre essas duas facções políticas era grande e envolvia também a família Miranda, aliada dos Jardins.
Em 1916 é formado um forte grupo de
dissidentes, com a participação da família Jardim, para concorrer à prefeitura,
tendo candidato o Dr. José da Rocha Carvalho.
O grupo tinha o apoio de nomes de
prestígio na época, como o major Sátiro Ivo, os
médicos Rocha Júnior e Borba de Carvalho e do próprio prefeito da época,
Francisco Vieira dos Santos, que foi eleito pelo grupo do coronel, mas rompeu
com este.
Os situacionistas, então, para não
perder o poder lançaram a candidatura do deputado Júlio Brasileiro ao Governo
Municipal e este obteve uma vitória expressiva.
A eleição foi anulada por conta de
denúncias de irregularidades, o povo teve de voltar às urnas e Júlio, sem
concorrentes, ganhou outra vez. Não chegou a assumir por conta da tragédia do
ano seguinte.
Segundo os historiadores o coronel
era um “fidalgo rural educado”, que fazia amigos com facilidade. Ele não era
violento, mas tolerava abusos de seus correligionários.
Foram os familiares do coronel,
principalmente seu irmão mais novo, Eutíquio, que precipitaram a tragédia.
SALES VILA NOVA – O capitão Sales
Vila Nova era amigo e compadre de Júlio Brasileiro. Tinha, no entanto, um
caráter irrequieto e mania de ser do contra. Começou a denunciar, através de
artigos de jornais, abusos praticados pelo grupo que estava no poder.
Eutíquio então, contratou seis homens
para dar uma surra de cipó de boi no
Capitão.
Embora fosse pacato - ninguém podia
julgar que pudesse matar alguém - Vila Nova não suportou a humilhação. Pegou um
trem para o Recife, foi até o Café Chile, que era vizinho ao Diário de
Pernambuco, e neste local, encontrando o coronel Júlio Brasileiro disparou
vários tiros e matou o líder político garanhuense.
Quando a notícia do assassinato
chegou a Garanhuns a viúva do coronel, Ana Duperon, exigiu vingança.
Disse que
não derramaria uma lágrima pelo marido enquanto ele não fosse vingado.
Vila Nova agiu por conta própria,
tendo matado Júlio Brasileiro como forma de se vingar da surra que lhe fora dada.
Mas a família do coronel botou na cabeça que tudo tinha sido uma trama
envolvendo a oposição, à frente as famílias Jardim e Miranda.
Houve então como que um complô,
envolvendo Ana Duperon, o delegado e tenente Antônio de Pádua, o juiz José
Pedro de Abreu, o oficial reformado Antônio Padilha e diversos correligionários
de Júlio Brasileiro, para assassinar os considerados responsáveis pela morte do
deputado.
Foi formulado um plano para levar os inimigos para a cadeia pública, sob o
pretexto de dar-lhes segurança.
Tudo não passou de uma armadilha e os
que foram detidos foram mortos dentro do prédio público, sem nenhuma chance de
defesa.
Padre Benigno Lira ainda tentou
evitar a tragédia chamando os Brasileiro à razão. Não conseguiu.
A cadeia foi invadida, o Cabo
Cobrinha tombou defendendo a vida dos que estavam sob a sua guarda e a chacina
foi praticada covardemente.
Foi preciso vir um trem do Recife com
reforço policial para acalmar os ânimos em Garanhuns. Depois dos crimes
praticados na cadeia, outras mortes aconteceram, de modo que o gesto
tresloucado de Sales Vila Nova resultou no final das contas em mais de 20
pessoas mortas, entre familiares dos Brasileiro, dos Jardim, dos Miranda, além
de bandidos contratados para a matança que também tombaram.
LIVROS – Os acontecimentos de 1917
foram noticiados por toda a imprensa da capital e jornais do Centro Sul. O
assunto foi abordado também em livros como “A Anatomia de Uma Tragédia – A Hecatombe
de Garanhuns”, do juiz Mário Márcio de Almeida e "História de Garanhuns", do
historiador Alfredo Leite.
Mais recentemente, o professor
Cláudio Gonçalves de Lima publicou “Os Sitiados”, em que narra a história da
hecatombe usando técnicas de romancista.
Desde o ano passado foi criada uma
Comissão do Centenário da Hecatombe de Garanhuns. Esta organizou, de 5 a 15 de janeiro de 2017 uma
significativa programação para marcar os 100 anos da tragédia que aconteceu no
município.
“O fato histórico completará 100 anos
no próximo dia 15 de janeiro e será lembrado com uma exposição, palestras,
culto de ação de graça e missa”, informam os que integram a Comissão.
Haverá também sessão solene na Câmara
de Vereadores, caminhada e uma placa alusiva a data que será fixada no prédio
da Compesa, na Praça Irmãos Miranda, local onde ocorreu a chacina. Naquela
época, no local, funcionava uma delegacia e a cadeia pública da cidade.
CONFIRA A PROGRAMAÇÃO:
05 a 30/01 – Exposição
do Memorial da Hecatombe de Garanhuns. Local: Instituto Histórico e Geográfico
de Garanhuns - Praça Dom Moura, 44 - Centro - Horário: 08:00 às 17:00
horas.
10/01
– Apresentação dos trabalhos da
Comissão da Hecatombe – Vereador Audálio Ramos Machado Filho. Local: Instituto
Histórico e Geográfico de Garanhuns. Horário: 19:30 horas.
11/01
– Palestra: “O Cangaço no Agreste
Meridional” – Professor e escritor Antônio Vilela. Local: Instituto Histórico e
Geográfico de Garanhuns. Horário: 19:30 horas.
12/01
- Palestra: “Hecatombe de Garanhuns –
Interpretação Baseada na Política Salvacionista” – Professor e Escritor José
Cláudio Gonçalves de Lima. Local: Academia de Letras de Garanhuns. Horário: 19:30
horas.
13/01
– Sessão Solene Câmara de Vereadores
de Garanhuns – Homenagem do 9º BPM ao Cabo Cobrinha e aos soldados mortos na
Hecatombe de Garanhuns e palestra: O jovem Tenente Theophanes Ferraz Torres e
suas enérgicas providências na Hecatombe de Garanhuns - Escritor Geraldo Ferraz
– Horário: 19:30 horas.
15/01
– Caminhada da Paz “Caminhantes do
Parque”– Saída ás 07:00 horas do Parque Euclides Dourado.
- Fixação de placa na Loja de
Atendimento da Compesa (antiga cadeia). Local: Praça irmãos Miranda. Horário:
09:00 horas.
- Culto na Igreja Presbiteriana
Central. Horário: 10:00 horas.
- Missa na Catedral de Santo Antônio.
Horário: 19:30 horas.
Apoio: Prefeitura
Municipal de Garanhuns, Instituto Histórico e Geográfico de Garanhuns, Academia
de Letras de Garanhuns, Compesa, 9º BPM, CDL, Caminhantes do Parque, Igreja
Presbiteriana Central, Diocese de Garanhuns e SESC Garanhuns.
Cadeia Pública na época da Hecatombe
*Fotos: 1 e 2) terradomagano.blog.spot.com; 3) Site da Universidade Federal da Paraíba.
Muito bom seu blog, é muito bom conhecer a história da nossa amada Gus. Espero sinceramente que continue com esse perfil de pesquisar e desvendar a história da nossa cidade.
ResponderExcluirParabéns, jornalista Roberto Almeida, pelo excelente blog!- http://blogdomendesemendes.blogspot.com.br/2017/01/cem-anos-da-grande-tragedia-em-garanhuns.html
ResponderExcluirAs notícias são necessárias!! - O blogue fez o seu papel de noticiar. - A imprensa da capital, creio, NEM toca nesse assunto!! - 2. De tragédias e violências, estamos cheios!! - Pra que comemoração??!! - Se houver inferno, além deste da terra, os mortos na tragédia já estão lá!! /.
ResponderExcluirEu mesmo fiquei curioso em saber qual ou quais motivos levaram tanto gente a serem mortas no espaço de pouco tempo.A partir do momento que li nesse blog as notícias da hecatombe de Garanhuns passei a me lembrar das hecatombe que também ocorreram em nossa cidade em menor escala ,mas não deixa de ser também uma coisa anormal.Implicitamente ainda hoje a nossa política é feita em cima de traições, falsidades, hipocrisias, violências e ameaçadas.Quem é do interior sabe muito bem como funciona.Os coronéis ainda existe sim!
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