Natural de São Carlos, no
interior paulista, Ronald Golias teve uma vida que se confunde com a história do rádio e
da televisão do Brasil.
Neto de italianos, de família
humilde, Golias já aos oito anos estreava nos palcos, numa escola de sua cidade
natal.
O humorista e ator nasceu em
1929 e em 1940, ainda menino, foi morar em São Paulo, onde foi funileiro e alfaiate.
Depois entraria para um grupo chamado Acqua Loucos, um dos pioneiros em
espetáculos aquáticos no Brasil.
Por sugestão do futuro
artista, as apresentações passaram a incluir diálogos e a performance de Ronald
Golias chamou a atenção, terminando por levá-lo ao rádio.
Trabalhou primeiro na Cultura
e mais na frente na Rádio Nacional, então a grande vitrine de artistas no
Brasil.
Na emissora, conheceu Manuel
da Nóbrega, pai de Carlos Alberto Nóbrega, que o levou para a televisão.
Passou a integrar o elenco de
“A Praça é Nossa”, um dos maiores humorísticos da TV Brasileira.
No programa, o ator criou o
personagem Pacífico, que ficou conhecido nacionalmente, assim como o bordão que
repetia sempre nas suas apresentações: “Ô Cride, fala pra mãe...”.
Com o sucesso obtido no rádio
e na TV, Golias foi convidado também para trabalhar no cinema, estreando em
diversas produções como Um Marido Barra Limpa, Os Três Cangaceiros, Os Cosmonautas e o Dono da
Bola.
Num desses filmes, atuou ao
lado de Ankito e Grande Otelo, duas lendas do humor e do cinema nacional.
Um dos maiores êxitos do
artista de São Carlos foi o programa “A Família Trapo”, na antiga TV Record, a
dos tempos da “Jovem Guarda”, não essa emissora atual, pertencente ao bispo
Edir Macedo.
“A Família Trapo” estreou em
1967 e ficou no ar até 1971, com grande audiência em todo o Brasil.
Além de Ronald Golias,
participavam do humorístico Jô Soares, bem jovem mas já gordinho, Otelo
Zeloni, Cidinha Campos, Renata Fronzi e Ricardo Côrte Real.
Foi na “Família Trapo” que o
humorista paulista criou um dos seus mais famosos personagens: Carlos Bronco
Dinossauro, o Bronco, que anos mais tarde, na TV Globo, virou o “Super Bronco.
No YouTube estão disponíveis
muitos vídeos de Ronald Golias na “A Praça é Nossa”, “A Escolinha de Golias” e
mesmo no antigo “A Família Trapo”.
Num episódio de 1967, Golias,
Zeloni, Renata e Jô Soares contracenam com Pelé, numa gostosa brincadeira em
que Bronco não reconhece o então Rei do Futebol brasileiro e trata ele como “um
perna de pau”, querendo lhe ensinar o que fazer com a bola.
Pelé tinha em torno de 25
anos, nesta época, e dá boas risadas com as intervenções do humorista. O
público presente ao auditório do teatro Record foi ao delírio nesse dia, rindo
muito com as tiradas de Bronco Dinossauro e aplaudindo com a admiração o
jogador Pelé, quando este começou a fazer embaixadinhas com a “pelota”.
Golias trabalhou até perto de
morrer, em 2005, tendo como companheiro de jornada, durante muitos anos, o
comediante Carlos Alberto Nóbrega.
Num desses trabalhos, no SBT,
fez uma sátira a “Romeu e Julieta”, de Shakespeare. Desse episódio participou a
apresentadora e cantora Hebe Camargo, que quase não consegue interpretar suas
falas porque ria o tempo todo das palhaçadas do Golias.
Pacífico, Bronco, Golias e seu Ôcride estão no céu, quebrando a rotina do paraíso com seus
gracejos.
Algum tempo depois da morte
do humorista, no programa “A Praça é Nossa”, Carlos Alberto Nóbrega fez uma
homenagem ao amigo. Emocionado, com lágrima nos olhos, o parceiro de tantos
anos de “Pacífico”, olhou pra cima e confessou diante do público:” Ô Cride,
diga pra ele que eu aqui estou com muita saudade”.
Querido pelas crianças, pelos
adultos, admirados por colegas do meio artístico como Renato Aragão e Jô
Soares, dos melhores humoristas que o Brasil já teve, Ronald Golias deixou
mesmo saudades e faz falta neste Brasil sombrio e sisudo que estamos vivendo,
em que até os bons programas de humor da televisão praticamente sumiram.
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