Por Junior Almeida
A
Vila Atoleiro no município de Caetés, uma simpática comunidade quilombola que
fica distante seis quilômetros da sede, teve um domingo (20) diferente. Para
comemorar o dia da consciência negra, população, poder público, através da
escola, secretarias da prefeitura e também a associação quilombola local, se
juntaram e fizeram uma bonita festa, onde o destaque foi a cultura popular. Enquanto
as dependências e frente do educandário eram ocupadas pela exposição dos
trabalhos dos alunos e um bazar beneficente, a praça da vila era tomada por uma
multidão para ver as apresentações culturais.
Primeiro
os alunos da Escola Manoel Isidoro, crianças de cinco, seis anos, se
apresentaram no samba de coco, mostrando que a comunidade já está colhendo
frutos do resgate cultural, depois alunos do “EJA Médio Campo” subiram ao palco
para dar o seu recado com cartazes e poesia, falando das dificuldades dos
negros na sociedade. Após essas duas apresentações, o grupo de coco “Trupé de
Arcoverde”, que surgiu há sete anos de uma dissidência do Coco Raízes de
Arcoverde, fez uma apresentação sublime, que levou o público ao delírio.
Ainda
como parte da programação do dia, crianças e adolescentes fizeram performances
com músicas que fala da cultura afro. Também uma roda de capoeira foi aberta no
meio da rua e um grupo também da localidade, fugiu um pouco do contexto,
fazendo uma apresentação de street dance, manifestação cultural mais comum em
grandes cidades. Voltando a cultura popular, Atoleiro pode acompanhar o
maculelê.
O
ponto culminante da festa foi a apresentação do grupo de coco de Atoleiro, o Santa
Luzia, formado em sua maioria por agricultores locais, e que em sua apresentação, levou o público todo pra dançar numa roda de
coco, numa bonita manifestação de cultura popular. O dia de festa ainda teve a
banda de pífanos local e terminou com a escolha da garota quilombola desse ano.
O encerramento foi com muito forró pé de serra, o que fez todo mundo cair na
farra.
O
prefeito Armando Duarte com alguns dos seus secretários foram prestigiar a bonita
festa realizada na comunidade, e de cima do palco foi convidado pelo Mestre
Cícero, do Trupé de Arcoverde, a conhecer seu trabalho na antiga Rio Branco.
A
VILA ATOLEIRO
A
povoação de Atoleiro teve início bem no comecinho do século XX, quando por
volta de 1904 quatro famílias remanescentes de quilombos vieram para região. Os
negros já libertos vieram de Alagoas, Pesqueira e de dois sítios de Garanhuns:
Alto do Tejo, hoje pertencente a São João, e Castanhinho.
Com
uma história de privações, preconceito racial, mas também de muita superação, segundo o presidente da Associação Quilombola Atoleiro, José Moreira, a
comunidade passou a ser enxergada e seus moradores tiveram uma considerável melhora
no padrão de vida a partir do governo Lula. Até então a comunidade, como tantas
pelo país eram esquecidas pelo Governo Federal tanto em assistência social como
o incentivo da sua própria história e sua cultura. A mudança ocorreu com a lei
10.639 de 2003 colocou na grade curricular o ensino da cultura afro em
comunidades quilombolas como Atoleiro.
Em
setembro de 2013 a Fundação Cultural Palmares reconheceu Atoleiro como
remanescente de quilombo, desde então várias ações foram implantadas na
comunidade para fomentar a economia e cultura local. Primeiro foi feito um trabalho de conscientização
das pessoas, da importância dela se declararem negras, pois até então isso de
certa forma era um tabu, depois foram sendo resgatado o grupo de samba de coco
e também a banda de pífanos.
Conversamos
como o presidente da associação quilombola local, o ativo José Moreira, de 37 anos, um
dos responsáveis pelo resgate dos grupos culturais da comunidade. Ele nos disse
que no início, há seis anos atrás, tiveram muita dificuldade, principalmente financeira, que só veio
melhorar de quatro anos pra cá, quando comunidade e escola puderam trabalhar em
parceria com a prefeitura local.
Moreira se disse muito preocupado com o futuro dos projetos da comunidade, pois mesmo tendo total
apoio do governo local, através do prefeito Armando Duarte, o governo Temer vem
cortando algumas conquistas da população local, como por exemplo, a construção
de 150 casas para famílias carentes da localidade que já estavam programadas e o
corte na distribuição de cestas básicas. Outra coisa que revolta Moreira, é a suspensão
de bolsas de estudo para universitários, que atingiu quatro alunos de Atoleiro que cursam zootecnia em Garanhuns.
-Isso é um crime. Estão tirando a chance de
nossos filhos vencerem na vida. Aqui mesmo temos um doutor, que só conseguiu
fazer sua graduação em zootecnia e pós em doutorado por conta do incentivo do
governo. Agora com esse corte, os que estudam atualmente vão ter que trancar a
faculdade por não poder pagar. Disse o presidente da associação.
*Fotos: 1; prefeito Armando Duarte no palco com o grupo Trupé de Arcoverde. 2; Grupo de Coco Santa Luzia, de Atoleiro. 3; presidente da Associação Quilombola de Atoleiro, José Moreira.
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