Por Junior Almeida
Luiz Gonzaga além de toda história musical maravilhosa que
todos já conhecem, e foi protagonista de fatos incríveis em sua vida pessoal,
relatos que mostram o lado humano do Rei do Baião. O cearense Raimundo Fagner contou
certa vez numa entrevista na TV, que os dois viajavam numa turnê do show que
faziam em parceria, de um disco, dos vários que gravaram juntos, quando
passavam de carro por uma cidade no interior do Ceará, e Luiz Gonzaga avistou
um pequeno circo às margens da estrada. O circo era o chamado “tomara que não
chova”, pois a lona de cobertura tinha mais buracos do que uma tábua de
pirulitos.
O Rei mandou o motorista encostar o carro, e Gonzaga foi falar com o
dono do circo. Conversou com ele, e disse que ia fazer uma apresentação no
local, com o cachê dividido meio a meio para os dois, que mandasse o carro de
som anunciar. Claro que o homem nem pestanejou. Depois dos anúncios na cidade,
na hora do espetáculo o circo estava derramando de gente, e isso com o preço do
ingresso majorado. Na hora da divisão do dinheiro, Gonzaga pegou a parte que lhe cabia e deu ao
dono do circo, mandando que ele ajeitasse sua casa de espetáculos,
principalmente as lonas. O homem foi ao céu com a atitude do Rei. Assim era
Gonzaga.
Outro caso parecido se deu em Capoeiras, interior de
Pernambuco. O ano era 1985 e o país estava na mão do primeiro civil depois de
20 anos de ditadura, José Sarney, o vice-presidente que assumiu depois da morte
de Tancredo Neves. Pernambuco era governado pelo professor Roberto Magalhães e em
Capoeiras o prefeito era Manoel Reino da Silva. O colégio municipal de
Capoeiras era dirigido pelo pulso forte Padre Geraldo Batista de Lima, tendo
como vice a professora Maria Nazaré.
Nesse ano já se desenhava a disputa do ano
seguinte para governador e deputados federais e estaduais. Em 1986 venceria a
eleição em Pernambuco o experiente Miguel Arraes, derrotando o jovem usineiro
José Múcio Monteiro. No educandário a preocupação da turma de segundo ano do
curso de magistério era outra, as moças se preocupavam com a festa de formatura no ano seguinte.
Algumas alunas da turma, dentre elas Célia Rodrigues, Jozelma Macedo, Maria
Quitéria Nunes, Valdete, Maria Almeida, Vandinha Reino, Cleonilda Reino, Lúcia
de Belizário e Vera de Ginaldo, debatiam para decidir quem convidar para
padrinhos e paraninfos de sua turma.
Uma certa frustração existia em meio o
alunado, pois alguns convidados para serem padrinhos e paraninfos além de não
virem para solenidade, não se davam ao trabalho de nem dar uma satisfação.
Outra coisa que não agradava era a censura, pois nome de Marcos Freire foi
sugerido como paraninfo de uma turma, e foi vetado pela direção, que sugeriu
Nilson Gibson ou Cintra Galvão, os deputados da situação local. Resquícios da
ditadura.
O corpo docente do colégio era enorme, e alguns dos
professores do magistério eram Gesseraldo, Oliveira, professor de educação
física e sargento do exército, João Moura e Agostinho Jessé, sendo que esse
último foi quem deu a ideia as alunas para que elas ao invés de convidar um
político para ser paraninfo de sua turma, chamassem um artista. Agostinho sugeriu
três nomes: Alceu Valença, nascido na vizinha São Bento do Una, a qual
Capoeiras pertenceu, Dominguinhos, da também vizinha Garanhuns e o mais
distante e mais difícil artista, o Rei do Baião Luiz Gonzaga.
As moças da turma
redigiram um ofício/convite, dizendo local e data da formatura, e enviaram pra
Exu, no endereço de Gonzaga. Foi um convite despretensioso, as alunas nunca
receberam resposta de Luiz Gonzaga ou de sua assessoria, portanto não esperavam
o “velho Lua em sua festa”. Seria o artista assim como os políticos, mais um a
ignorar um convite de alunos do colégio de Capoeiras.
Dezembro de 1986, dia da festa de formatura e conclusão
na cidade. Desde cedo os salões de cabeleireiro e manicures estavam lotados.
Toda mulher queria ficar bonita pra festa de logo mais. O que mais se via na
cidade era mulher com bob e papel alumínio na cabeça, parecia um desfile desses
acessórios. À noite a missa na igreja, solenidade no colégio e um baile no
clube local faziam parte da programação. Já ao entardecer um carro estranho na
cidade rodando a praça principal. Era Gonzaga, em corpo, alma, talento e
simpatia que tinha vindo pra festa. Foi uma agonia danada das formandas, pois
ninguém esperava o Rei do Baião na festa.
Célia Rodrigues, uma das novas
professoras foi encarregada de receber o homem, e o levou para casa do seu
irmão, o empresário José Carlos, que viria a ser vice-prefeito do município a
partir de 1988. A casa de Zé Carlos ficou lotada de gente querendo ver Gonzaga.
Não era todo dia que se tinha uma oportunidade de ver tão grande forrozeiro, o
maior de todos, o rei. No meio de tanto tiete, estava eu e meu amigo Josival
Santana, o Treze, os dois com quatorze anos de idade. Queríamos conhecer Luiz
Gonzaga, falar com ele, tocá-lo, se desse conseguir um autógrafo ou uma foto. Só
tinha um pequeno problema: A vergonha de chegar ao Rei. A timidez da idade,
misturado com a nossa matutisse e mais a imponência do nome Gonzaga, nos
deixava sem coragem de fazer nada.
Treze mais afoito disse que enfrentaria. Do
lado da casa existia um mercadinho, que era de Natércio Melo, e na fachada um
cartaz de propaganda do Café Ouro Verde, o qual nós rasgamos para tentar a
assinatura do Rei. Treze embocou na frente de casa adentro, e eu atrás dele. Já
na sala de visitas o Rei estava. Sentado num sofá, de perna cruzada, vestido
num conjunto de mescla claro e contrastando com a roupa cancaceira, um moderno
tênis esportivo. Ele de costas para que estivesse entrando na casa, conversava
com as muitas pessoas que foram lhe ver. Assim que entramos, falamos igual, eu
e Treze:
- Seu Luiz...
Ele se virando no sofá, soltou aquele tradicional “ho ho”,
e perguntou o que queríamos. Prontamente mostramos a caneta e o pedaço de
papel, dizendo que queríamos um autógrafo. Com a maior simpatia do mundo ele
nos atendeu, e conseguimos nossas relíquias. Ainda ficamos um tempo vendo e
ouvindo Gonzaga conversar.O que prestei atenção nele, é que ele sempre usava o “ho
ho”, se admirando ou respondendo algo.
Da casa que estava, Luiz Gonzaga seguiu
para igreja matriz, onde no altar de São José, entôo apenas no gogó, algumas de
suas poesias em forma de música. Foi inesquecível para cidade. A igreja que
normalmente lotava em missas de formatura encheu mais ainda de gente querendo
ver o Rei do Baião de perto. O sanfoneiro de Exu ainda foi para o colégio
municipal, onde como paraninfo da turma de magistério cortou o bolo da festa,
fazendo com que aquela formatura de 1986 fosse inesquecível para a cidade e
principalmente para as formandas, que ainda nos dias de hoje se gabam de serem
afilhadas o pernambucano do século XX, o maior ícone da música nordestina, o
Rei do Baião.
*Foto de Luiz Gonzaga, Manoel Reino, prefeito na época, Monsenhor Geraldo, professores e convidados no CMC.
*Foto de Luiz Gonzaga, Manoel Reino, prefeito na época, Monsenhor Geraldo, professores e convidados no CMC.
Que privilégio hein! Vcs guardam o autógrafo do "Lua"até hoje? Como deve ser bom ter essas boas histórias pra relembrar!
ResponderExcluirCapoeiras é privilegiada por esses acontecimentos históricos que vao ficar pra sempre na memória de quem viveu tudo isso,que bom que o tempo nao apagou esses momentos inésqueciveis como esse e também as missoes de Frei Damiao e tantos outros...
ResponderExcluirChega quem é de outro município fica com inveja
ResponderExcluireu tenho ate hoje guardado
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