O escritor mineiro
Leo Cunha fez a palestra de abertura do Filig, na noite de quinta-feira (15), no
auditório Sete Colinas do Sesc Garanhuns. Com quase 50 livros publicados e
vários prêmios, como o Jabuti, o Nestlé, o João-de-Barro, o FNLIJ e o Biblioteca
Nacional, Leo Cunha ressaltou a importância para sua formação como escritor de
ter nascido em uma família-leitora. “Cresci em uma casa que o objeto mais comum
era o livro. Mais do que brinquedos, minha casa tinha livros e sou grato por
isso”, afirmou Leo Cunha, relembrando as tardes que passava na livraria de sua
mãe, simplesmente lendo “todos” os livros infantis existentes no local.
Além desse contato
com o mundo dos livros durante toda a infância, Leo Cunha também foi muito
influenciado por seu avô, homem de poucos anos de estudo, mas com um enorme
interesse pela literatura, sobretudo pela poesia.
Com uma plateia
formada principalmente por professores, Leo Cunha destacou a dificuldade que os
profissionais da educação encontram ao trabalhar a poesia com crianças. “É um
desafio para o professor trabalhar a poesia, porque a poesia não deve ser
entendida como algo linear. A poesia não trabalha com um só caminho, mas com as
dobras, com os desvios”.
Fazendo uma
metáfora com o cubo mágico, brinquedo que tenta unir suas diferentes cores até
que chegue a completude de uma cor, Leo Cunha lembrou que o professor precisa
entender que a poesia não é só lirismo, mas é também um jogo de sentidos, no
qual a criança pode optar pelo estranhamento do óbvio, pela sonoridade, pela
visualidade e pela intertextualidade. “A poesia vai se fazendo na combinação de
todos esses aspectos como no cubo mágico. Poesia são várias coisas ao mesmo
tempo. Quando o professor entende isso, melhor para ele, porque possibilita que
o estudante deixe aflorar aspectos diferentes ao fazer poesia“.
BATE-PAPO – A primeira noite do Filig teve, ainda, a mesa redonda “Onde a poesia para crianças pede passagem?”, com a participação da escritora Lenice Gomes, da radialista, contadora de histórias e cordelista Mariane Bigio e mediação da editora Renata Nakamo. Durante a conversa, as convidadas falaram da importância dos pais e professores e no incentivo à leitura.
“A poesia pede
passagem em todo lugar, em casa, na rua e na escola. Precisamos tirar o livro
da prateleira e dialogar com as crianças”, afirmou Lenice Gomes. Ela contou que
na infância gostava de ouvir as histórias contadas por sua mãe e pelos
cordelistas nas feiras. Foi assim que se tornou uma pesquisadora da tradição
oral. Na década de 80, quando trabalhou em uma biblioteca, desenvolveu o
projeto “Recreio das Palavra”, reunindo crianças para falar sobre poesia. “O
convite para ser escritora surgiu nesse período. Comecei a escrever em contato
com as crianças, foram elas que me ajudaram nessa descoberta”, disse.
Questionada pela
mediadora Renata Nakamo sobre os desafios de despertar o interesse da poesia na
“era da internet, tablets e vídeos-games”, a cordelista Mariane Bigio afirmou
que hoje vivemos numa sociedade ‘adultocrata’, onde tudo e muito objetivo e
concreto. “Percebo que algumas crianças perdem muito cedo o sentido do lúdico,
da imaginação. E nós, que trabalhamos com a ‘oralitura’, precisamos vencer esse
obstáculo, mostrar a beleza e a fantasia que existe dentro de um livro”, disse.
LIVRO – Após sua
palestra, Leo Cunha lançou o livro “Poesia para crianças: conceitos, tendências
e práticas”, editado pela Positivo. O livro ganhou o Prêmio FNLIJ (Fundação
Nacional do Livro Infantil e Juvenil) 2014 na categoria de “Melhor Livro
Teórico”. A proposta da obra é servir como material de apoio aos professores do
Ensino Básico e da Educação Infantil ao Ensino Médio. Dirigido aos professores,
mas podendo ser lido por qualquer leitor interessado no tema, o livro “Poesia
para crianças” apresenta ensaios de cinco autores com experiência na produção e
recepção de poesia. (Da Assessoria de Imprensa).
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