Do
jornalista Homero Fonseca:
Como
tantos inocentes, sou atormentado, todos os finais de semana durante o verão,
pela estridência bárbara da sonoridade dos veranistas ao redor. Eles trazem
seus potentes instrumentos de som e ficam bebendo da sexta-feira à noite até a
tarde do domingo. Imagino que não conversam entre si, porque durante todo o
tempo escutam música no mais alto volume. E nos obrigam a compartilhar seus
gostos musicais, além de danificaram nossos ouvidos. Adeus sossego, descanso,
leitura, soneca, telefonemas e mesmo a possibilidade de ouvirmos nossa própria
música.
A
partir de 80 decibéis (som de um liquidificador em velocidade máxima) já se
registram danos à audição após uma exposição prolongada. Um concerto de rock
vai a 110 decibéis e, dependendo da distância que o incauto estiver das caixas
de som, pode causar prejuízos graves ao ouvido humano. E por aqui rolam
simultâneos concertos de rock nos fins de semana.
Desconfio,
principalmente quando vejo hordas de jovens caminhando com o olhar vidrado
enquanto escutam alguma coisa em seu Ipods, que vem aí uma geração de surdos.
Costumo
brincar dizendo que a altura com que um cara escuta (?) música é proporcional à
infidelidade conjugal que o atazana. Mas a coisa não está pra brincadeira.
Recentemente,
tínhamos um vizinho que reunia um grande entourage nos finais de semana e
atochava nossos ouvidos com um tipo de barulho cujo gênero não sei qual é: as
letras contêm não mais de 50 palavras, 40 delas palavrões; e a música... – na
realidade não era música, pois desprovida de melodia e harmonia, limitando-se a
um ritmo monocórdico, violento, hipnótico, robotizado. Uma noite, Iracema
chamou a polícia. O cara era uma autoridade municipal de uma cidade próxima.
Quando a guarnição chegou, confraternizou com os seguranças da casa, todos PMs
de folga (ou não); baixaram o som por uns instantes e voltaram com força total
cinco minutos depois. No breve período em que o barulho diminuíra um pouco,
ouvimos nitidamente os palavrões cabeludos que me endereçaram. Criou-se um
clima muito perigoso; felizmente o sujeito se mudou para bem longe.
Como
vivemos no País do Privilégio, um jovem trabalhador negro que ouvia seu
sonzinho numa altura inconveniente aqui perto foi levado pela polícia e teve
seu aparelho apreendido. Compareceu a juízo, sendo condenado a pagar uma multa
de R$ 200,00 reais, em duas prestações (juiz consciencioso!), pois a grana era
pesada para seu orçamento de salário mínimo. Rico, não. Ouve som na altura que
quer, e “os incomodados que se mudem”.
Mal
o pequeno soba do incidente anterior mudou-se para outra praia (num caso raríssimo
de incomodador que se muda, para minha sorte), instalou-se bem perto um
sargento do Corpo de Bombeiros Militares, com uma possante máquina de som a
bordo de uma camionete. E tudo recomeçou. Só que desta vez evitamos chamar a
polícia (melhor cantar o verso de Chico: “Chama o ladrão, chama o ladrão”) e
temos tentado negociar. Ele baixa um pouco, mas depois da 10ª dose, lá vem o
inferno de volta.
Esse
final de semana aconteceu um fato curioso: embora ele tenha vindo para a casa
de praia, não se escutou som algum. De manhã cedo, espantado, observei pela
janela, para confirmar mesmo sua presença. A caminhoneta com seus canhões
sonoros estava no terraço, como sempre. Porém, ao contrário de todas as outras
vezes, estava com a frente virada para a rua. Entenderam? O normal é o veículo
ficar estacionado com o equipamento de produzir estrondos voltado para nós.
Quer dizer, nas suas farras o som era mais endereçado ao público do que aos
ocupantes da sinistra casa.
Caiu
a ficha! Tanto quanto os carrões, as roupas de grife e as viagens a Dubai, o
sonzão é um símbolo de status. Andei fuçando no Google e descobri que existe
até campeonatos da modalidade, fórum de discussões, linguajar próprio (“fazer
som”: instalar o equipamento) etc. São os adeptos do paredão de som e dos seus
carros tunados. Discutem a potência dos seus aparatos e exaltam os montadores
de som, alçando-os a uma categoria muito especial, como os DJs. Procurem que
vocês verão.
É
claro que essa patota é minoritária, e por existir mais ou menos organizada, talvez
seja mais fácil controlar seus danos, suponho. O poder público poderia designar
área fora os limites urbanos para suas “reuniões”. Vão lá, exibam-se uns para
os outros, como os halterofilistas.
Os
dispersos, que pululam por toda parte, de todas as classes sociais,
desorganizados, mas arrogantes, igualmente adictos do musicídio, são um
problema maior, justamente por sua dispersão e pelo “você sabe com quem está
falando?”
Como
em todas as searas do Papri (País do Privilégio), os abonados continuarão mandando,
infelizmente. O dilema então tem invadido minhas noites insones: mudo-me ou vou
enfrentar os meliantes? Ou seja: matar ou correr? Bem, nessa história não há o
homem que matou o facínora; os pistoleiros sempre levam a melhor (e eu nem
tenho arma, nem coragem pra atirar em alguém). Outra opção seria recorrer à
Justiça: talvez eu tenha ganho de causa daqui a uns oito anos. Mas até lá
estarei surdo ou morando em Caixa Prego.
*Natural de Caruaru, mas há muito tempo morando no Recife, Homero Fonseca é um dos jornalistas mais conceituados de Pernambuco. Trabalhou nos principais veículos de comunicação do Estado, foi editor da Revista Continente Multicultural e Secretário de Imprensa numa das gestões de Jarbas Vasconcelos na capital do Estado.
E Garanhuns, como fica nesse contexto?
ResponderExcluirBem, a cidade esta jogada as traças no que diz respeito a poluição sonora. Cada qual que ande com o seu Super Som em meio as ruas da cidade (em frente a hospitais, faculdades, igrejas, cursos e principalmente RESIDÊNCIAS). Com som alto de todo tipo, grande, pequeno, colorido, intocado. As vezes fico impressionado, como pode, num semáforo parar uma viatura de policiais que tem o objetivo de manter a ordem e ao lado um boizinho com o SOM estrondando os ouvidos de todos e simplesmente NADA É FEITO.
É triste o que ocorre.
As autoridades tem o DEVER de evitar essa a exorbitação do incômodo à da paz alheia. E simplesmente não o fazem. Vereadores de legislar sobre o assunto, guardas municipais e policiais militares de conter os excessos nas ruas.
A lei deveria ser a mesma para quem dirige com fones de ouvido ou para aqueles “imbecis” que dirigem com o som em volume alto.
Onde vamos parar? Fico contente em saber que não sou único que em alguns momentos sente vontade de fazer com as PRÓPRIAS MÃOS! De onde viemos e para onde vamos?
Melhor não.
Sou policial nao adianta reprimir os delegados nao recebe som agora voce que estar conversando oque nao entende tire sua bunda da cadeira seu otariano e va na promotoria dar queixa
ResponderExcluirOxe! Eita policial aprumado esse que comentou ai. Quer dizer que por que o delegado ou o advogado soltam o bandido a policia finge que não vê?! Tenho muitos amigos da policia e sei que graças a Deus esse pensamento é só seu e de alguns poucos. Tá errado pensar assim! Tomara que essa omissão não seja também com casos mais graves. "Dá sua parte" Porque se for você pode está cometendo crime.
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