Clementina de Jesus e Orlando Silva
HISTÓRIA - Publiquei
neste blog uma série intitulada 100 Grandes Nomes da MPB. Dela ficou de fora o
cantor Orlando Silva. Ele não entrou na relação simplesmente porque eu não ouvi
o artista na infância, adolescência nem na maturidade. Embora tenha tido noção
de quem foi Vicente Celestino, Augusto Calheiros, Eliseth Cardoso, Dolores
Duran, Noel Rosa, Pixinguinha e outros nomes importantes da música nacional,
não sei por que razão era um completo ignorante em matéria da produção de
Orlando, tendo ouvido falar dele vagamente.
Esse
analfabetismo musical em relação ao excepcional cantor acabou durante o
Festival de Inverno de Garanhuns. Encontrei na Praça da Palavra, tenda
literária montada na Praça Souto Filho, no período do FIG, um exemplar antigo de
um livro intitulado “Nada Além”. É a biografia de Orlando Silva, escrita pelo
jornalista Jorge Aguiar, um fã apaixonado do intérprete de grandes clássicos da
música brasileira.
Deixei pra lá dois ou três livros que estavam na fila e mergulhei na leitura de Nada Além,
aliás esse o título de um dos grandes sucessos do cantor.
Fiquei
empolgado e após terminar a biografia li mais alguma coisa na internet e
assisti alguns vídeos do cantor. Uma voz realmente privilegiada e com um
repertório de primeira. Basta dizer que foi Orlando quem lançou clássicos até
hoje executados nas rádios, como a citada Nada Além, Rosa, Carinhoso, Lábios
Que Beijei e a marcha carnavalesca Jardineira. Essas canções e outras foram
regravadas por nomes como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Marisa Monte, Gal Costa
e Nélson Gonçalves. Este último tem a voz e o estilo parecidos com o de Orlando
Silva.
PÉROLAS - Dentre
os vídeos que vi, uma verdadeira pérola. Um encontro de Orlando Silva com
Roberto Carlos, em 1976. Eles cantam juntos A Deusa da Minha Rua, de Newton
Teixeira e Jorge Faraj. Essa é, na minha opinião, uma das músicas mais bonitas
feitas no Brasil em todas as épocas, assim como Chão de Estrelas, Bandeira
Branca, Ternura Antiga, Rosa, Ave Maria
(cantada por Augusto Calheiros), Caminhemos e tantos outros clássicos do
passado.
A
Deusa da Minha Rua cantada por Orlando e Roberto emociona. Faz chorar as
pessoas sensíveis. Mas é um choro bom. Estético. De prazer, de felicidade.
Orlando
Silva nasceu num subúrbio do Rio de Janeiro e perdeu o pai com apenas três anos
de idade. Sua mãe, Dona Balbina Garcia, precisou trabalhar como lavadeira para
sustentar os filhos.
Desde
muito pequeno Orlando gostava de cantar e chamava a atenção com seu potencial
de voz. Antes de entrar no mundo artístico, foi entregador de marmitas, operário
de máquinas e cobrador de ônibus. Aos 16 anos um bonde passou por cima de um
dos seus pés, arrancando quatro dedos e provocando um defeito físico que o incomodou para sempre
Mulato,
pobre e mancando de um pé, o futuro cantor teve a sua auto estima abalada para
o resto da vida.
Incentivado
por amigos e pelo irmão Edmundo criou coragem e procurou uma das rádios do Rio
de Janeiro na década de 30. Foi ouvido pelo compositor Bororó que ficou
entusiasmado e apresentou o rapaz a Francisco Alves, o grande ídolo da época,
conhecido como O Rei da Voz.
Chico
Alves passou a ser o padrinho, um verdadeiro pai, que possibilitou uma ascensão
meteórica de Orlando Silva. Começou a cantar no rádio com apenas 19 anos e aos
23 já estava famoso.
De
1935 a
1943 Orlando gravou um sucesso atrás do outro e se apresentou nas principais cidades
do país. Nas primeiras vezes que foi a São Paulo arrastou públicos imensos e foi
ovacionado como nenhum artista antes.
Quando
retornou ao Rio, para apresentar seu programa na Rádio Nacional, a mais
importantes naqueles tempos, ganhou o slogan que o acompanhou pelo resto da
vida: “O cantor das multidões”.
DECADÊNCIA - A
partir de 1943 o cantor começou um relacionamento turbulento com a atriz Zezé
Fonseca. Teve problemas dentários e a companheira o convenceu a extrair todos
os dentes, substituindo-os por próteses. Isso e outros fatores se juntaram para
enfraquecer a voz de Orlando, que entrou em decadência.
O
artista foi demitido da Rádio Nacional, a Odeon, sua gravadora depois da RCA
Victor (onde gravou a maioria dos sucessos), rescindiu seu contrato e o magistral
intérprete entrou no mais completo ostracismo.
Orlando
bebia muito e era viciado em morfina. Parecia liquidado. Mas em 1952, com a morte
de Francisco Alves num acidente de carro, Orlando Silva é contratado novamente
pela Rádio Nacional. Depois volta a Odeon. Não recuperou a popularidade dos
anos 30 e começo dos anos 40, porém voltou a ser respeitado, gravou novos
discos e passou a ser cultuado pela nova geração de cantores.
RECONHECIMENTO - Em
1973, em seu último disco, Orlando Silva grafou compositores como Taiguara,
Fernando Lobo, Antônio Carlos & Jocafi, Edu Lobo, Caetano Velso, Gilberto
Gil e Capinan.
Do
cantor das multidões, disse Francisco Alves: “Nenhum intérprete brasileiro
atingiu seu nível”. João Gilberto, que ocuparia muito do espaço de Orlando com
a Bossa Nova, reconheceu: “Foi o maior cantor brasileiro de todos os tempos”. E
ainda tem essa, de Paulinho da Viola: “Depois de Orlando cantando com arranjos do
Pixinguinha e Radamés Gnatalli não preciso ouvir mais nada”.
Disponibilizamos
para o leitor o vídeo de Roberto e Orlando cantando a Deusa da Minha Rua. O cantor
das multidões já estava velho, perto do fim (morreu em 1978) e o Rei ainda jovem
o reverencia como um Deus. Confira http://www.youtube.com/watch?v=roZIUIgQKvQ
Fantástico Orlando silva.
ResponderExcluirMinha mãe é fã Nº 1 de Orlando Silva,meu Pai era fã de Roberto Silva,o bom disso tudo é que aprendi várias músicas desses cantores!
ResponderExcluireu modestamente acho que a música brasileira tem três momentos fundamentais: o rádio dos anos 40 e 50, o baião com Luiz Gonzaga e a música "litorânea" com Dorival Caymmi.
ResponderExcluir(pelo facebook)
Como diz o Marcos Cardoso não se faz mais música como antigamente.
ResponderExcluirAo Senhor Roberto Almeida, Agradeço pela ótima oportunidade que me proporcionou com esta matéria sobre o cantor das multidões,.
ResponderExcluirPassei a minha infância, adolescência, e hoje um homem maduro aos 45 anos, ouvindo o meu Pai falar e cantar Orlando Silva, aprendi a gostar também!
lembro-me quando jovem Papai cantando as musicas do Orlando Silva, com toda empolgação, e hoje já cansando pelo peso da idade e sem todo o vigor da juventude, Ele continua cantarolando as musicas do ídolo do passado que ainda é tão presente em sua mente, e quando ele o faz, os seus olhos brilham de alegria!!!
na minha ignorância nunca pude dizer nada sobre Orlando Silva, pro meu Pai, mais hoje Eu li seu texto pra Ele, e a emoção tomou conta ambos!!!
Muito Obrigado!
São comentários como esse que fazem o trabalho da gente valer a pena. Li o livro com entusiasmo, fiz a matéria com carinho e suas palavras me emocionaram. Obrigado Sérgio e um abraço forte no seu pai.
ExcluirSe você tivesse vivido na São Bento do Una dos anos 50 do século 20, certamente teria conhecido como ninguém a obra de Orlando Silva, o maior cantor do Brasil, através dos serviços de alto-falantes do União Sport Club (SAU) e de "A voz de São Bento do Una" (SAS), comandados pelos speakers Adauto Paiva e Doutorzinho Vasconcelos. Todo santo dia, à noite, éramos embalados pelas vozes de Orlando, Chico Alves, Carlos Galhardo, Nelson Gonçalves, Luiz Gonzaga, Carmélia Alves, Ângela Maria, Emilinha Borba, Marlene, a insuperável Dalva de Oliveira, Paulo Molen, Cauby Peixoto e outros ases do cancioneiro pátrio.
ResponderExcluirEu tenho um LP autografado por Clementina de Jesus, Pixinguinha e João da Baiana, gravado pelos três, assim como Orlando Silva são grandes cantores da nossa música.
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