“Advogado do Diabo”, de 1997, é um filme que à época atraiu
multidões aos cinemas e até hoje provoca impacto nas pessoas que o assistem. Tanto
pela história, o roteiro bem elaborado, quanto pelas ótimas atuações de Keanu
Reeves e Al Pacino. Este último, que começou a brilhar como ator ainda jovem,
quando participou de “O Poderoso Chefão”, rouba literalmente as cenas na pele
de um homem que é a representação do próprio satã.
A direção do filme é de Taylor Hackford, que conduz seu
trabalho com competência. Sem os bons atores do elenco, contudo, dificilmente “O
Advogado do Diabo” seria tão instigante e teria o êxito comercial que teve.
No longa, Keanu Reeves é o
advogado Kevin, um talento brilhante da Flórida, que jamais perdeu uma causa. Indicado
para um cargo em uma poderosa firma de
advocacia de Nova York, o rapaz é completamente envolvido pela figura do chefão
John Milton (Al Pacino). Kevin e a esposa Mary Ann (Charlize Theron, bonita e
talentosa) começam, então, a desfrutar as glórias de um apartamento espaçoso
com vista para o Central Park e um polpudo salário.
Advogado do Diabo é um bom thriller, que pode se equiparar aos bons
clássicos de horror do cinema, como O Exorcista, Carrie, A Estranha e o Bebê de
Rosemary. Claro, cada um desses
trabalhos são de diretores diferentes e cada um tem sua proposta.
Vi pela primeira vez este filme há muitos anos, na estreia em Recife. Mas ainda guardo algumas impressões, principalmente da performance de Pacino, um ator realmente acima da média. "Advogado do Diabo" é como uma parábola, é um pouco bíblico, ao discutir as opções entre o bem e o mal e ao advertir sobre o perigo da vaidade excessiva.
O crítico Rodrigo Carrero, no site Cine Repórter, faz
algumas boas considerações a respeito do filme. Vou usar o seu texto para completar essa resenha, já que não pude rever o longa recentemente, como gostaria.
“O trabalho de Taylor Hackfor
tem um enredo sobrenatural. A presença de criaturas das trevas existe e domina
a maior parte dos longos 144 minutos de duração da película. O cineasta Taylor
Hackford não faz nenhuma questão de esconder isso. A maior pista está no nome
do protagonista: John Milton, para quem não sabe, é o autor do clássico “O
Paraíso Perdido”, romance que
narra a maldição que
se abateu sobre a raça humana após a tentação de Eva.
“Por
trás dos toques sobrenaturais, porém, há mais do que isso; há um interessante
olhar sobre o materialismo do ser humano do século XX, um estudo sobre vaidade
e poder, diluído em história de fantasmas e conduzido com pulso firme. “O
Advogado do Diabo” é um filme de terror que funciona além da esfera de
entretenimento puro. A história pode ser lida, na verdade, como uma releitura
contemporânea da obra de Milton, o escritor: um conto de tonalidades
fantásticas sobre o processo de corrupção da alma de um ser humano.
“Hackford
tem bons aliados. A fotografia de Andrzej Bartkowiak flagra uma Nova York
decadente, poluída, suja e, ainda assim, fascinante. Os tons de terra
avermelhados e dourados que dominam as imagens casam perfeitamente com a
excelente direção de arte de Dennis Bradford. O imenso lar de John Milton, com
seus enormes espaços abertos e decoração inspirada na arquitetura medieval, é o
maior destaque do filme. Até mesmo a ambientação externa reforça essa sensação
de solidão que emana das imagens: o Central Park no outono, cheio de folhas
secas e vento forte, também rende uma imagem poderosa.
“E
há Al Pacino, claro. “O Advogado do Diabo” é um filme conduzido com cuidado
rumo a um final apoteótico, praticamente um show solo do ator. Taylor Hackford
dá ao longa-metragem o ritmo correto, envolvendo a platéia no mistério que
cerca o protagonista e mesclando a progressão da história com alguns sustos.
Faz isso, entranto, de olho na seqüência final, que captura um Pacino em forma,
agarrado ao papel com unhas e dentes. Pacino grita ardentemente um fascinante
discurso, explica a filosofia por trás do filme e oferece um exemplo de quão
magnética pode ser a figura de um grande ator na Hollywood de fim de século.
“ Aliás, não é possível deixar
de notar a semelhança temática entre o filme de Taylor Hackford e o brilhante “Crepúsculo dos Deuses”,
do mestre Billy Wilder. O diretor austríaco, no entanto, fez um filme bem
característico do seu estilo; sutil, Wilder criou um estudo monumental sobre a
vaidade, travestido de parábola a respeito dos bastidores de Hollywood. Já
Taylor Hackford preferiu colocar Al Pacino gritando suas verdades, em forma de
filosofia popular, para o espectador. Um sinal dos tempos, talvez”, conclui Rodrigo.
Ah, muito boa a referência usada para expor este filme. Rodrigo Carreiro é um excelente analista e crítico de filmes, em diversos gêneros.
ResponderExcluirEle é professor do curso de cinema aqui da UFPE.
E se não me engano é filho do escritor Raimundo Carrero.
Recife-PE.