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ROBERTO CARLOS - GRANDES NOMES DA MPB - 100 (FINAL)



100 GRANDES NOMES DA MPB

Há mais de dois anos que venho escrevendo sobre artistas da música popular brasileira. O trabalho é feito mais nos finais de semana e procura traçar um perfil de ídolos do nosso cancioneiro popular. A MPB, nesta série, não é um gênero musical específico, criado nos anos 60 e que ao longo das últimas décadas legou ao país dezenas de cantores e cantoras, compositores e intérpretes de excepcional qualidade.

Os 100 nomes retratados são de artistas nacionais, que cantaram ou cantam o Brasil em sua língua, retratando nas letras realidades do país.

Assim temos desde Vicente Celestino, Francisco Alves e Nélson Gonçalves, ídolos do passado, até estrelas surgidas mais recentemente, como Zeca Baleiro, Ana Carolina, Chico César e Vanessa da Mata.

Passamos pelo regionalismo de Luiz Gonzaga, com o baião e o forró; o frevo de Capiba e Claudionor Germano; o pop rock de Skank e outros grupos, o ecletismo de Caetano Veloso, a música engajada de Chico Buarque e o romantismo exacerbado, brega, de Reginaldo Rossi.

João Bosco, Ivan Lins, Milton Nascimento, Gilberto Gil, Geraldo Azevedo, Alceu Valença, Fagner, Belchior, Ednardo e outros nomes importantes que decolaram nos anos 70 mereceram breves biografias entusiasmadas, sem esquecermos, no entanto, grandes compositores e vozes do passado, como o quase garanhuense Augusto Calheiros, Ataulfo Alves, Noel Rosa, Pixinguinha, Eliseth Cardoso, Ademilde Fonseca, Ângela Maria e Núbia Lafayete.

Fenômenos populares também receberam a atenção do autor. Caso do baiano Raul Seixas, com uma obra irregular, cheia de altos e baixos, artista que morreu moço, mas que deixou marcas profundas no universo da música popular brasileira, inclusive contribuindo com sua transformação.

Resgatamos figuras um tanto injustiçadas, como é o caso de Jessé, um cantor de voz maravilhosa, que gravou grandes discos, porém foi rotulado de brega por conta da maneira como surgiu no cenário musical do país.

Do que foi publicado no blog até hoje, Cazuza terminou sendo uma grande e agradável surpresa. Seu post terminou sendo um dos mais lidos, superando inclusive as postagens políticas ou com notícias de morte, que sempre atraem enorme público.

Embora seja um trabalho superficial, pois seria muito difícil se aprofundar muito na obra de 100 compositores e cantores, acreditamos que contribui para salientar o papel da música nacional, a partir do registro ou resgate de cada artista.

Na pesquisa para o perfil dos artistas, foram fundamentais as consultas aos livros, aos sites oficiais de cada cantor ou cantora, aos jornais e a discografia dos pop star. Felizmente guardo todos os LPs e CDs que comprei ao longo dos últimos 40 anos e muitas vezes recorri a esses álbuns para citar uma música ou resolver alguma dúvida.

Buscamos um padrão de qualidade, valorizando o cantor, cantora, compositor ou intérprete que efetivamente disse alguma coisa de importante para o Brasil, seja gravando ou fazendo shows. Alguém pode discordar do brega Reginaldo Rossi, mas ninguém pode ignorar que ele representa uma faixa de público importante. Foi escolhido por ser pernambucano, estar mais perto de nós e pelo tempo que se mantém no topo como ídolo popular. Ele entrou na série em nome de todos os românticos que se voltaram para o povão, como Aguinaldo Timóteo, Lindomar Castilho, Altemar Dutra, Odair José e Amado Batista.

Não foi impossível incluir todos, claro, e bons nomes ficaram de fora. É o caso de uma grande voz, de um bom intérprete, como Emílio Santiago. Outra ausência é Dick Farney, um cantor importante do passado.

É que o critério teve muito de pessoal e o jornalista preferiu enfocar mais os artistas com o qual ele conviveu em algum momento de sua vida, ouvindo rádio, assistindo shows ou os descobrindo através do disco.

Vicente Celestino e Augusto Calheiros ouvia quando criança, eram cantores queridos por meus avós, pelos meus pais quando pequenos. Na juventude esse que vos escreve descobriu a Jovem Guarda, ficou encantado com a maluquice dos Secos e Molhados e Raul Seixas, curtiu o rock de Rita Lee e desde o primeiro momento gostou da voz e da performance no palco de Ney Matogrosso.

Numa época em que a “MPB está exilada em seus próprio país”, em que se tenta transformar em cantor esse rapaz de nome Luan Santana e se investe tanto em porcaria, principalmente na televisão, alguém há de defender a música autêntica, boa, inteligente representativa da cultura e de valores nacionais.

Ninguém é dono da verdade, mas gosto se discute sim. É preciso ter um mínimo de informação para separar o descartável do que perdura. Assim, ao ouvir música, ao escrever sobre música brasileira, é necessário estar atento a quem realmente tem valor. Dos 100 nomes publicados, acredito que cada um deles de uma forma ou de outra contribuiu para a evolução da MPB. Formou público, deu o seu recado, foi consumido pela massa, acrescentou alguma coisa a esse verdadeiro “caldo de cultura” de um país chamado Brasil.

Renato Teixeira, Nana Caymmi, Lenine, Jorge Benjor, Luiz Gonzaga, Clara Nunes, Beth Carvalho, Geraldo Vandré, Tom Jobim, João Gilberto, Moraes Moreira, Zé Ramalho, Tetê Espíndola, Maria Rita, Quarteto em Cy, MPB 4... Ah! Não há dúvida que é rico esse universo. Dos autores, dos cantores, da constelação de estrelas da Música Popular Brasileira.

ROBERTO CARLOS 

Peço licença aos leitores para neste último perfil da série Grandes Nomes da MPB iniciar o texto na primeira pessoa.

Em 1965 eu tinha e apenas 8 anos de idade. Foi a primeira vez que ouvi, pelo rádio, a voz de Roberto Carlos. A música “Quero que vá tudo pra o Inferno”, lançada naquele ano se transformaria num dos maiores sucessos do Brasil em todos os tempos.

Tocou no rádio seis meses sem parar. Fez o cantor, até então ainda desconhecido na maior parte do país se transformar no maior ídolo brasileiro. Querido em todas as regiões do território nacional. Sua voz com essa canção, feita por conta da saudade de uma namorada – Magda Fonseca -, chegou a outros países da América Latina, a Portugal e a outras regiões da Europa.

Naquela época nunca tinha ouvido falar em MPB, Chico Buarque ou outros artistas “cabeça”. Vivia numa cidadezinha que até um ano atrás não passava de um distrito de São Bento do Una. Nem Luiz Gonzaga, havia descoberto ainda.

Como garoto sonhador e romântico, achei Roberto Carlos o máximo. Aqueles versos iniciais – “De que vale o céu azul sempre a brilhar/se você não vem e eu estou a esperar...” – eram simplesmente maravilhosos e entravam pelo coração, fazendo com que a cabeça, ao mesmo tempo pensasse uma porção de coisas diferentes.

A voz era gostosa, o som era irreverente. A música tinha tudo para mexer com as estruturas de um menino do interior sem a menor noção do que acontecia no mundo.

Pouco tempo depois, acho que no ano seguinte, aquele cantor voltou a encantar o garoto com a tal de “Namoradinha de um Amigo Meu”.

A partir desses dois sucessos iniciais, Roberto Carlos entrou na minha vida, como fez na de muitos brasileiros e não saiu mais.

Mesmo depois,  tendo conhecido a Bossa Nova, os tropicalistas, o som dos cearenses, a poesia de Noel Rosa e Chico Buarque, a música clássica e erudita, aquele rapaz de cabelos encaracolados continuou a fazer parte do meu universo. Com seus rocks, baladas, boleros, músicas demasiadamente românticas,  como que traçou uma trajetória do país, representando o brasileiro médio, o pequeno burguês, o alienado, o sujeito que deseja apenas ser feliz ou viver um grande amor.

Roberto Carlos, para o bem e para o mal, tem muito a ver com a história deste país nos últimos 50 anos.

O COMEÇO

Em 2010 o cantor Roberto Carlos Braga comemorou com pompa 50 anos de carreira artística. Poderia, se quisesse, ter festejado os 60 anos de luta para chegar à condição de maior ídolo popular do país em todas as épocas. Porque na verdade o “rei” começou sua jornada em 1950, com apenas 9 anos de idade, quando se apresentou pela primeira vez na rádio de Cachoeiro de Itapemirim, sua cidade natal.

Foi à emissora incentivado por sua mãe, a costureira dona Laura, e cantou uma música espanhola “Amor e mas amor”. Garantem seus biógrafos que se saiu muito bem, ganhou balas doces do apresentador e foi convidado a retornar todos os domingos para o Programa Infantil.

A partir desse dia o garoto deixou pra lá o sonho de ser médico – um desejo também dos pais – e fixou-se na meta de ser cantor. Quando rapaz, imaginava não apenas ser um artista, gravar seus discos, mas já ambicionava ser um grande ídolo popular.

Roberto aprendeu um pouco de piano ainda em Cachoeiro, com sua mãe e no conservatório. Também muito novo começou a dominar o violão. Seu ídolo, nos tempos da terra natal, era Bob Nélson, um artista brasileiro que se vestia de caubói.

Pouco antes de fazer 15 anos de idade, Roberto Carlos resolve ir morar no Rio de Janeiro, na casa de uma irmã de sua mãe. Estava determinado a se tornar cantor profissional e sabia que só podia vencer na vida morando na cidade grande.

Na então capital do país conheceu a chamada Turma da Tijuca. Dentre esses rapazes estavam Tim Maria e Erasmo Carlos. O primeiro se tornaria um grande cantor, no futuro e o segundo seria o parceiro mais constante do rei, em sua carreira. Juntos Roberto e Erasmo compuseram cerca de 500 músicas.

O jovem de Cachoeiro de Itapemirim chegou a fazer parte de um conjunto, o Sputniks. O foco principal, no entanto, era conseguir espaço nas rádios da época. O início foi difícil e RC deu muita viagem perdida as principais emissoras cariocas.

Em 1958 Carlos Imperial (apresentador, produtor musical e compositor) convidou Roberto e Tim Maia para se apresentar no seu programa na Rádio Tupy, o Clube do Rock. O futuro “Rei da Jovem Guarda” era então o “Elvis Presley brasileiro”.

Com muita luta RC gravou em 1959 seu primeiro disco, um compacto simples com as músicas João e Maria e Fora do Tom.

O disco passou despercebido, mas o cantor continuou batalhando, se apresentando em boates e cantando nas emissoras de rádio. Em 1961, com a ajuda de Imperial, lançou seu primeiro LP, “Louco por Você”.

Estranhamente – Roberto Carlos é cheio de manias, algumas inexplicáveis – esse disco é mantido fora do catálogo do artista. Ele não permite que seja relançado.

Embora ele fosse muito jovem e não tivesse ainda uma definição de estilo (até a voz ainda está longe dos seus melhores momentos), é um bom disco. “Louco por Você” traz boleros, sambas, bossa nova e twister, um tipo de música que daria origem ao iê-iê-iê e aos primeiros rocks brasileiros. Destaque para a faixa título e Linda, que antecipam um pouco o Roberto Carlos dos discos seguintes, quando ele se consolidaria como o grande cantor do país.

O primeiro LP de Roberto não traz sua foto na capa, tem uma qualidade de som inferior a dos discos seguintes e vendeu pouco mais de 500 cópias. Talvez por isso o artista implique com o álbum.

O cantor continuou na luta e em 1963, com o lançamento do segundo LP, conseguiu alguém êxito com a música “Parei na Contramão”, carro chefe do disco. O álbum inclui ainda Splish Splash,  Oração de Um Triste e Quero me Casar Contigo, três canções que ainda hoje se ouve com prazer.

No ano seguinte Roberto voltou a acertar com “É Proibido Fumar”. Além da faixa título, de boa aceitação popular, o disco traz Um Leão está solto nas ruas, Rosinha, Amapola, Nasci para Chorar e o Calhambeque, que seria um dos grandes sucessos do rádio em 1964.

O artista vai aos poucos fazendo seu nome, porém até então é mais conhecido no eixo Rio-São Paulo. A grande virada aconteceria mesmo em 65. Neste ano ele lança dois discos: “Roberto Carlos canta para a Juventude”, que tem mais ou menos a qualidade dos dois anteriores, com destaque para História de um homem mau, A Garota do Baile e Brucutu. “Jovem Guarda”, o outro LP, inclui a citada “Quero que vá tudo pra o inferno”, sucesso absoluto no Brasil e outros países, que fez Roberto ficar conhecido em todos os recantos do país.

Mesmo com o estrondo de “Quero que vá tudo pra o inferno”, que escandalizou a Igreja Católica, houve espaço para as rádios tocarem músicas como Coimbra, Lobo Mau, Pega Ladrão e Mexerico da Candinha.

O POP STAR

A partir daí RC virou mesmo um grande pop star. O programa na TV Record, Jovem Guarda, se tornou um campeão de audiência e os discos do cantor, lançados anualmente, se tornaram produto obrigatório na casa dos brasileiros. Aí foi um sucesso atrás do outro. Em 1966 veio o disco “Eu te darei o Céu”, no ano seguinte “Roberto Carlos em Ritmo de Aventura”, em 68 “O Inimitável” e depois “As Flores do Jardim da Nossa Casa”. A canção título deste último LP, linda, ele compôs para o filho, que nasceu com sérios problemas de visão.

Roberto sempre foi de botar a sua vida nas canções. Em “O Divã”, de 1968, ele recorda de sua casa, sua infância e o acidente com o trem, no qual perdeu uma perna.

Nos anos 70, com o fim da Jovem Guarda, começa mais uma mudança na vida do artista. Ele deixa para trás o iê-iê-iê, o rock, e vai se tornando mais romântico. Tem início também o sentimento messiânico, com a composição de músicas religiosas. O primeiro LP da década traz a delicada Ana, O Astronauta, 120, 150 e 200 km por hora, a gravação de Meu Pequeno Cachoeiro, de Raul Sampaio e Jesus Cristo, onde o cantor fez as pazes de vez com a Igreja.

Em 1971 o romantismo se acentuou e surgiu Detalhes, uma das grandes criações do Rei. O LP daquele ano inclui Como Dois e Dois, de Caetano Veloso, Traumas, Amada Amante e Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos. Esta última foi composta para homenagear o artista baiano quando estava no exílio.

Como “Rei da Juventude” e como cantor romântico, RC consolidou sua carreira no Brasil e no exterior. Em 1968 venceu o então prestigiado Festival de San Remo, na Itália, o único brasileiro a conseguir esse feito. Passou a ser ídolo não somente no Brasil, mas também na Argentina, no Chile, no Paraguai, no Uruguai, México, Cuba, Portugal e muitos outros países da América do Sul, da Europa e da África.

Mesmo sendo acusado de repetitivo e alienado continuou emplacando um sucesso atrás do outro nos anos 70, 80 e 90. Na década passada gravou pouco, mesmo assim anda nos brindou com o álbum “Pra Sempre”, de boa qualidade, e o disco em que interpreta Tom Jobim, juntamente com Caetano Veloso.

Roberto Carlos cantou e canta sobretudo o amor, em músicas que se tornaram clássicos, como A Distância, Cavalgada, Como é Grande o Meu Amor por Você, Fera Ferida, Proposta, Os seus Botões, Amiga, Você não sabe, O Portão e Amor Sem Limites.

Emobora tenha sempre evitado se posicionar politicamente, tendo sido omisso na época do regime militar, ele também foi dos primeiros artistas a revelar preocupações ecológicas. Isso aconteceu já em 1976, com O Progresso, e depois com As Baleias, já da década de 80.

Foi feliz em algumas músicas com temas religiosos, como em O Homem, Todos Estão Surdos e Nossa Senhora, e acertou quando homenageou algumas profissões populares, como fez em O Caminhoneiro, de 1984.

Roberto já vendeu cerca de 200 milhões de discos em toda sua carreira. Além de gravar sua músicas, feitas normalmente em parceria com Erasmo, já ajudou a impulsionar a carreira de muita gente, ao incluir nos seus discos trabalhos de outros compositores. Luiz Ayrão (Nossa Canção), Milton Carlos e Isolda (Outra Vez), Wando (A Menina e o Poeta), Ronnie Von (Pra ser só Minha Mulher), Fagner (Mucuripe), Djan (A Ilha), entre muitos outros artistas ganharam muito dinheiro e ficaram mais conhecidos depois que tiveram uma música gravada pelo rei.

Por outro lado, “quase todo mundo” já regravou Roberto Carlos. Adriana Calcanhoto, Maria Betânia, Ney Matogrosso, Vanessa da Mata, Caetano Veloso, Nara Leão, Elis Regina, Skank, Jota Quest, Titãs, Babado Novo, Reginaldo Rossi, Chico Sciense, Kid Abelha, Chitãozinho e Chororó, Zezé de Camargo e Luciano, Paula Fernandes, Ivete Sangalo, Daniela Mercury, Nélson Gonçaves e Lulu Santos são algumas das estrelas da música popular brasileira que gravaram alguma música famosa na voz do rei.

Aos 70 anos de idade, desde 2003 sem produzir um disco inédito, Roberto Carlos é quase uma unanimidade no país. Mesmo os intelectuais que no passado não o aceitavam por conta da repetição e pela falta de consciência política hoje reconhecem sua importância.

Em 2006 um historiador, Paulo César de Araújo, admirador da obra do cantor de Cachoeiro de Itapemirim, publicou uma biografia não autorizada do artista. “Roberto Carlos em Detalhes” depressa se transformou num fenômeno de vendas.

O livro é bem escrito (embora o autor repita um pouco determinadas expressões), traz um belo trabalho de pesquisa e revela muito da vida de Roberto, desde a infância em Cachoeiro até sua explosão como ídolo popular.

Fala das mulheres da vida de RC. Das oficiais, como Nice, Miriam Rios e Maria Rita, e dos casos esporádicos que o artista teve, incluindo a cantora Maysa e a atriz Sônia Braga. Talvez por isso o livro desagradou o artista que entrou na justiça para proibir a obra, fez um acordo com o escritor e todos os exemplares foram recolhidos.

Um equívoco. “Roberto Carlos em Detalhes” é um bom livro. O foco principal é a música, a carreira de RC, acompanhando toda sua trajetória e – o mais importante – derrubando todos os preconceitos e reconhecendo o valor, a qualidade da obra de Roberto.

Talvez o próprio artista não tenha a dimensão verdadeira de obra que criou. Pode passar pela sua cabeça que soube cantar apenas o amor.

Roberto Carlos Braga, no entanto, vai além desse sentimento. Falando de calhambeques, carrões, caminhões, aviões, amores, alcovas, do pai, da mãe, dos filhos, da tia (que o abrigou quando começou a batalha no Rio de Janeiro), taxistas, loiras, pequenas, velhas, mocinhas, saudades, televisão, rádio, computadores, animais e muita coisa mais ele terminou por fazer um registro sem igual do brasileiro médio. Do pobre, do suburbano, do pequeno burguês.

Conscientemente ou não RC expressou o Brasil como poucos cantores. Mais do que nas cabeças e nas mentes, chegou à alma dos homens e mulheres do Sul, Sudeste, Centro Oeste, Norte e Nordeste. Das grandes e pequenas cidades. Hoje, setentão, tem fãs de todas as idades. Muitas vezes é ouvido pelo pai, o filho e o neto. E já tem bisneto por aí, pequenino, cantarolando alguma canção do rei.

Roberto Carlos é quase uma instituição da música nacional. Está nos cinemas, na televisão, nos jornais, no rádio, na internet, nos discos, nos livros e no coração de um povo que o ama.

Abaixo a letra de três músicas bem diferentes de Roberto Carlos.

SERES HUMANOS

Que negócio é esse de que somos culpados
De tudo que há de errado sobre a face da Terra
Que negócio é esse de que nós não temos
Os devidos cuidados com o mundo em que vivemos
Fazemos quase tudo por necessidade
Vivemos em busca da felicidade
Somos seres humanos
Só queremos a vida mais linda
Não somos perfeitos
Ainda
Afinal nem sabemos por que aqui estamos
E mesmo sem saber seguindo em frente vamos
Vencemos obstáculos todos os dias
Em busca do pão e de alguma alegria
Não podemos ser julgados pela minoria
Nós somos do bem e o bem é a maioria
Somos seres humanos
Só queremos a vida mais linda
Não somos perfeitos
Ainda
Só quero a verdade
Nada mais que a verdade
Não adianta me dizer
Coisas que não fazem sentido
Que tal olhar as coisas que a gente tem conseguido
E o mundo hoje é bem melhor
Do que há muito tempo atrás
E as mudanças desse mundo
O ser humano é que faz
Estamos sempre em busca de uma solução
Queríamos voar, fizemos o avião
O telefone, o rádio, a luz elétrica
A televisão, o computador, progressos na engenharia genética
Maravilhas da ciência prolongando a vida
Nós temos amor, ninguém duvida
Somos seres humanos
Só queremos a vida mais linda
Não somos perfeitos
Ainda
Mas que negócio é esse de que somos culpados
De tudo que há de errado sobre a face da terra
Buscamos apoio nas religiões
E procuramos verdades em suposições
Católicos, judeus, espíritas e ateus
Somos maravilhosos
Afinal somos filhos de Deus
Somos seres humanos
Só queremos a vida mais linda
Não somos perfeitos
Ainda
Só quero a verdade
Nada mais que a verdade
Não adianta me dizer
Coisas que não fazem sentido
Que tal olhar as coisas que a gente tem conseguido
E o mundo hoje é bem melhor
Do que há muito tempo atrás
E as mudanças desse mundo
O ser humano é que faz
AQUELA CASA SIMPLES

Naquela casa simples
Você falou pra mim
Que eu tivesse cuidado
E não sofresse com as coisas desse mundo
Que eu fosse um bom menino
Que eu trabalhasse muito
Que o nome do meu pai soubesse honrar
E nunca fosse um vagabundo
Ainda não era dia e você me dizia:
Deus te abençoe, te guarde,
Se mantenha sempre em sua companhia.
E eu te olhei nos olhos, eu te beijei a mão
Eu disse amém
E o meu abraço fez você ouvir meu coração
Vida minha, vida minha
E andando pela rua
Meu pai bem junto a mim
Olhava com ternura
A lágrima molhar meu paletó de brim
Toda a minha bagagem
Num banco da estação
Era de amor, coragem
As bênçãos do meu pai, a fé e um violão
E na cidade grande
Tristeza e alegria
Uma saudade imensa
E a solidão que eu ainda não conhecia
E o tempo foi passando
E então eu compreendi
Cada palavra sua
Naquela manhã do dia em que eu parti
Vida minha, vida minha
Vida minha, vida minha
E veio a primavera
E as flores do jardim
Enchiam de perfume
As cartas que chegavam de você pra mim
Mas hoje com sorrisos
Podemos recordar
Mas sempre que me lembro
A emoção e dá vontade de chorar
Vida minha, vida minha
Vida minha, vida minha

VOCÊ NÃO SABE

Você não sabe quanta coisa eu faria
Além do que já fiz
Você não sabe até onde eu chegaria
Pra te fazer feliz
Eu chegaria
Onde só chegam os pensamentos
Encontraria uma palavra que não existe
Pra te dizer nesse meu verso quase triste
Como é grande o meu amor
Você não sabe que os anseios do seu coração
São muito mais pra mim
Do que as razões que eu tenha
Pra dizer que não
E eu sempre digo sim
E ainda que a realidade me limite
A fantasia dos meus sonhos me permite
Que eu faça mais do que as loucuras
Que já fiz pra te fazer feliz
Você só sabe
Que eu te amo tanto
Mas na verdade
Meu amor não sabe o quanto
E se soubesse iria compreender
Razões que só quem ama assim pode entender
Você não sabe quanta coisa eu faria
Por um sorriso seu
Você não sabe
Até onde chegaria
Amor igual ao meu
Mas se preciso for
Eu faço muito mais
Mesmo que eu sofra
Ainda assim eu sou capaz
De muito mais
Do que as loucuras que já fiz
Pra te fazer feliz

Essas três composições foram feitas sem o parceiro Erasmo. Na primeira uma mostra de que o artista não é tão alienado assim. Na segunda uma forte recordação do pai e da partida para o Rio de Janeiro. A última é uma das suas melhores canções de amor, gravada também por Maria Betânia e Hebe Camargo.

DETALHES – Ao clicar no nome da música, toda em maiúsculo, você acessa o vídeo do yotube com a interpretação de Roberto Carlos na gravação do seu disco acústico.

(Principais fontes de Consulta: "Roberto Carlos em Detalhes", de Paulo Cesar Araújo; Site Oficial do Artista, Discografia do Cantor).

Confira os 100 nomes incluídos nesta série:


1. Nelson Gonçalves
2. Simone
3. Ednardo
4. Fagner
5. Belchior
6. Nara Leão
7. Maria Rita
8. Milton Nascimento
9. Gilberto Gil
10. Vicente Celestino
11. Zeca Baleiro
12. Renata Arruda
13. Chico César
14. Marina Lima
15. Maysa
16. Elis Regina
17.Maria Betânia
18. Reginaldo Rossi e a Música Brega
19. Gal Costa
20. Alcione
21. Martinho da Vila
22. Noel Rosa
23. Adriana Calcanhoto
24. Renato Russo
25. Marisa Monte
26. Paulinho da Viola
27. Dolores Duran
28. Eliseth Cardoso
29. Luiz Gonzaga
30. Dominguinhos
31. Alceu Valença
32. Adoniram Barbosa
33. Gonzaguinha
34. Jessé
35. Ney Matogrosso
36. Marinês
37. Osvaldo Montenegro
38. Zélia Ducan
39. Rita Lee
40. Tim Maia
41. Wanderleia
42. Capiba
44. Ana Carolina
45. Ângela Maria
46. Zizi Possi
47.Cássia Eller
48. Raul Seixas
49. Chico Buarque
50. Dalva de Oliveira
51. Djavan
52. Elba Ramalho
53. Vanessa da Mata
 54. Renato Teixeira
55. Joana
56. Fafá de Belém
57. Dorival Caymi
58. Vander Lee
59. Ataulfo Alves
60. Nana Caymmi
61. Jorge Vercillo
62. Lenine
63. Clara Nunes
64. Zé Ramalho
65. Chico Sciense
66. Ivete Sangalo
67. Geraldo Azevedo
68. Leila Pinheiro
69. Augusto Calheiros
70. Flávio José
71. Quinteto Violado
72. Beth Carvalho
73. Nando Reis
74. João Bosco
75. Tetê Espíndola
76. Ademilde Fonseca
77. Cazuza
78. Quarteto em Cy
79. MPB-4
80. Caetano Veloso
81. Erasmo Carlos e a turma da Jovem Guarda
82. Maria Gadú
83. Ivan Lins
84. Geraldo Vandré.
85. Paula Toller
86. Pixinguinha
87. Amelinha
88. Moraes Moreira e os novos baianos
89. Ângela Ro Ro
90. Cartola
91. Núbia Lafaytte
92. João Gilberto
93. Tom Jobim
94. Daniela Mercury
95. Jorge Ben Jor
96. Claudionor Germano
97. Skank e o rock brasileiro.
98. Toquinho
98. Francisco Alves
100. Roberto Carlos.

Extras:

- Chico Buarque, o cantor
- A MPB está exilada em seu próprio país.

3 comentários:

  1. EXCELENTE TRABALHO JORNALISTICO E DE PESQUISA,EMBORA COMO FÃ DO INESQUECÍVEL NELSON GONÇALVES,TAMBÉM ADMIRO O REI ROBERTO CARLOS NÃO SÓ COMO ARTISTA, SENDO DE UM MEIO DE ALTOS E BAIXOS MORALMENTE FALANDO, O MESMO SEMPRE MANTEVE UMA POSTURA INVEJÁVEL DE HOMEM DE BEM;O ADMIRO COMO ARTISTA E UMA DAS MUSICAS DELE QUE ME MARCOU FOI "DETALHES".FRATERNAL ABRAÇO.

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  2. Sensacional essa última postagem falando sobre Roberto Carlos. É muita emoção meu amigo, quando ouvimos, assistimos Robertão. Quantas histórias!
    Na infância, adolescência, juventude... quem não ouviu Robertão.
    Até na igreja, quem não cantou O TERÇO?
    Nas escolas, década de 70, quem não cantou DETALHES?
    Anos 80, quem não cantou O PROGRESSO?

    A vida continua. E Roberto Carlos está presente em nossas vidas, das famílias, por ser visionário, um Homem de Bem.

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  3. Matéria sensacional mesmo uma pena que o povo só se interesse por política!

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