PIXOTE - A LEI DO MAIS FRACO
O impacto causado por Tropa de Elite (o primeiro e principalmente o segundo) na década atual, foi semelhante ao de Cidade de Deus em 2002. E poderíamos dizer que o mesmo conseguiu Pixote – A Lei do Mais Fraco, em 1981.
Os três filmes tratam da realidade brasileira, mostram o mundo cão das grandes cidades, a violência praticada por adultos e crianças, além da corrupção de policiais, funcionários públicos e ditos representantes do povo. Os três longas tiveram forte repercussão no Brasil e também no exterior.
Pixote, com direção do argentino naturalizado brasileiro Hector Babenco, 31 anos depois continua atual e alguns problemas denunciados com relação à situação do menor no Brasil podem até ter piorado.
Babenco é um dos melhores cineastas brasileiros e além de Pixote – A Lei do Mais Fraco tem outras obras importantes a exemplo de Lúcio Flávio – Passageiro da Agonia, O Beijo da Mulher Aranha, O Rei da Noite, Brincando nos Campos do Senhor e Carandiru.
Embora todos tenham tido ampla repercussão de público e de crítica, com o reconhecimento até mesmo internacional, não resta dúvida de que Pixote, contando a história do menor Fernando Ramos da Silva é o que lhe deu maior projeção, tanto internamente quanto externamente.
O filme que estamos discutindo nesta resenha, realizado três décadas atrás, não tem a qualidade técnica de obras posteriores Não precisa ser um expert em cinema para perceber que o produto nacional evoluiu nos últimos anos e Tropa de Elite 2, lançado no país no final de 2010, do ponto de vista técnico faz de Pixote quase uma produção amadora.
Assim, ao fazer um curto estudo do longa de Hector Babenco, temos de levar em conta a época e as limitações daquele tempo. Além disso, um filme não pode ser analisado só pela produção esmerada, pelos efeitos especiais e outros aspectos que não têm a ver diretamente com o material humano. Há de se observar a direção, o roteiro, os atores, o contexto histórico e os significados da história contada na tela grande.
Outro aspecto importante a salientar é que Pixote tem no seu elenco muitos garotos das comunidades pobres de São Paulo, crianças que estavam diante das câmeras pela primeira fez e se saíram muito bem. A começar por Fernando Ramos, que praticamente interpreta ele mesmo.
Toda a primeira parte do filme de Babenco se passa dentro de uma instituição do Governo, na época a Febem, encarregada na recuperação de menores infratores. Lá dentro o ritmo do filme é mais lento, sem grandes lances capazes de provocar emoções fortes. É denunciada a corrupção dos funcionários, da polícia e outros agentes da sociedade, assim como a precariedade de oportunidades oferecida aos meninos.
Depois, quando os garotos ganham às ruas, o trabalho cinematográfico cresce, os atores podem ficar mais soltos e acontecem os melhores momentos do filme.
Destaque em Pixote para o próprio Fernando Ramos, que tinha apenas 10 anos na época e é inteiramente convincente como o pequeno marginal criado pela sociedade. Outro garoto que dá um show é Jorge Julião, que interpreta o homossexual Lilica. O diretor foi muito feliz com esse rapaz, que vive um gay de muita sensibilidade, muito humano, um tipo bonito, ao contrário do que costumamos ver no cinema nacional e nas novelas, quando as bichas são inteiramente estereotipadas.
Dos veteranos presentes no trabalho, merecem ser citados Jardel Filho, muito bom como o diretor safado da Febem; Tony Tornado que aparece pouco e mesmo assim demonstrou talento nas mãos de um bom diretor, o mesmo se podendo dizer de Elke Maravilha. Marília Pêra, ainda com um corpo perfeito e o talento que sempre teve rouba um pouco a cena quando está presente. É uma grande atriz.
Deixando de lado as cenas de violência, duas cenas do filme são particularmente tocantes: Quando Lilica canta a música Força Estranha, com sua voz sendo "coberta" por imagens de um rio; e Marília Pêra "amamentando" Pixote, um bandido criado pelo sistema simplesmente à procura de uma mãe.
Deixando de lado as cenas de violência, duas cenas do filme são particularmente tocantes: Quando Lilica canta a música Força Estranha, com sua voz sendo "coberta" por imagens de um rio; e Marília Pêra "amamentando" Pixote, um bandido criado pelo sistema simplesmente à procura de uma mãe.
Em Pixote estão juntas a ficção e a realidade. Uma realidade cruel: Fernando Ramos ficou famoso com o filme, tinha tudo para sair da marginalidade, porém as circunstâncias da desumana sociedade brasileira conspiraram para que ele depois tivesse um triste fim.
Foi preciso que o diretor José Joffily realizasse o filme “Quem Matou Pixote”?, num desdobramento macabro do trabalho iniciado por Hector Babenco.
Pixote – A Lei do Mais Fraco não é perfeito. É, contudo, um bom filme. Acima da média da maioria dos filmes nacionais e por isso não poderia ficar de fora dessa série.
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