Desde criança ou muito moço que escuto falar em dois grandes sucessos do cinema mundial: o 1º deles é “O Bebê de Rosemary” e o 2º “E o Vento Levou”. Por um motivo ou por outro levou anos até que eu pudesse conferir essas produções, incluídas pela crítica entre os melhores da sétima arte.
Do drama americano já tratamos nesta série de filmes considerados inesquecíveis. Hoje vamos comentar o clássico de horror de 1968, dirigido pelo polonês Roman Polanski.
O cineasta europeu nos últimos anos tem sido notícia por supostamente ter estuprado uma menor nos Estados Unidos. Tendo ou não cometido esse crime, nem por isso pode deixar de ser avaliado pelos excelentes filmes de sua autoria, dentre eles O Pianista, Tess, Chinatown, Repulsa ao Sexo e O Bebê de Rosemary. Este último é que é objeto do nosso curto ensaio.
Baseado num romance de Ira Levin, o “O Bebê de Rosemary” não é um filme de terror ou horror na linha de Drácula, Frakenstein, O Exorcista ou Carrie, a Estranha. É um trabalho até certo ponto intimista, cheio de detalhes, conduzido de uma maneira muito peculiar, dando a impressão, num primeiro momento, de ser uma história comum demais, que não “vai dar em muita coisa”.
Polanski, porém, além de ter extrapolado o livro de Levin, superando o escritor com o seu trabalho por trás das câmeras, usou de metáforas e outras leituras podem ser feitas em cima da história do pacto de Guy Woodhouse (John Cassavete) com o demônio.
Segundo o livro “1001 Filmes para ver antes de morrer”, o cineasta polonês “cutuca em medos viscerais ao falar sobre o abuso de confiança conjugal, da ideia de que a segurança fornecida por familiares e amigos pode ser apenas uma ilusão, uma força antagônica e não um apoio”.
O longa é interessante desde o início, quando temos uma visual da cidade, de prédios antigos, do imóvel em que o jovem casal procura um apartamento, tudo isso com a música da trilha sonora, parecendo quase um canto infantil, a meu ver um ironia por conta do que vai se desenrolar daí por diante.
Guy e Rosemary alugam o apartamento, embora já aí sejam dadas algumas pistas de que existe alguma coisa errada com o prédio. Com pouco tempo acontece um suicídio no local e eles fazem amizade com Roman e Minnie Castevet, dois velhos aparentemente simpáticos. Estes dois colam nos recém chegados, oferecem ajuda e apoio e só mais tarde vai se revelar quem são realmente essas duas estranhas figuras.
Guy Woodhouse é um ator caminhando para o fracasso, porém repentinamente as coisas começam a mudar, ele obtém um importante papel numa peça de teatro, substituindo um colega que ficou cego inesperadamente.
Rose fica grávida e aí começa o seu sofrimento. Dores terríveis, o acompanhamento por um médico que lhe receita remédios estranhos, além de vitaminas feitas pela vizinha Minnie tão ineficientes quantos os produtos de laboratório.
Há um clima de mistério e de suspense. O velho casal simpático assusta mais que agrada, o marido de Rosemary parece passar por uma mudança de comportamento, como se estivesse mais próximo das novas amizades do que da própria esposa.
A simplicidade aparente do filme e da história podem até fazer com que o cinéfilo estranhe a fama de “O Bebê de Rosemary”. A trama, contudo, cresce a cada minuto e caminha para um clímax, um final digno das boas produções, de modo que após o fecho a conclusão é se tratar mesmo de um trabalho cinematográfico muito acima da média.
O maior responsável por esse feito, é claro, é Roman Polanski, o criador do filme a partir do livro. Não está só. O bom elenco também ajuda muito a tornar o “Bebê de Rosemary” apaixonante e inesquecível. Ruth Gordon (Oscar de Melhor Atriz) e Sidney Blackmer brilham representando o “simpático” casal de velhos, John Cassavete está muito convincente como o marido ambicioso, capaz de fazer um pacto com o demo, e Mia Farrow, a Rosemary, vive aqui um dos principais personagens da sua bem sucedida carreira.
Rosemary/Mia parece frágil, insegura, sozinha, rodeada por pessoas que não parecem se importar com ela. Mesmo o marido tudo indica se aliou a outros e não há muitas esperanças de que a mulher escape do pior.
Roman Polanski pode ter realizado outros filmes melhores do que este. Tess é soberbo, apesar de extremamente triste. O Pianista foi aclamado e lhe rendeu os principais Oscar da Academia. O “Bebê de Rosemary”, no entanto, permanece atual, envolvente, misterioso e atraente. É de se ver e rever. Comentar com os amigos. Guardar na memória como produto de arte que não pode ser descartado e por isso deve ser objeto de estudo, de discussão e de novas abordagens.
*Alguns dos filmes comentados nesta série:
O Exorcista
A Testemunha
Adorável Professor
Gandhi
Mandela – A Luta pela Liberdade
O Pagador de Promessas.
O Expresso da Meia Noite
As Pontes de Madison
Ben Hur
Amadeus
Os Dez Mandamentos
O Óleo de Lourenzo
Coração Valente
Vidas Secas
Uma Linda Mulher
Ghost
Kramer versus Kramer
A Festa de Babette
Gritos do Silêncio
Laranja Mecânica
Lawrence da Arábia
O Quatrilho
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