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AMELINHA - GRANDES NOMES DA MPB - 87º

Outro dia, nas minhas pesquisas pela internet, encontrei num site de buscas uma pergunta curiosa. “A cantora Amelinha morreu”?, indagava alguém e a resposta era ainda mais inusitada. O responsável por responder a pergunta pedia mais especificações, deixava claro nem saber de quem se tratava.

O universo da música popular brasileira é assim. A carreira dos artistas muitas vezes é efêmera, gente que brilha, durante certo tempo e depois parece ser engolido por algum buraco negro e ninguém consegue saber o que foi feito do artista ou da artista.

Muitos chegam ao ponto de aparecer com um único sucesso. A música é lançada, toca no rádio, chega à televisão, dá o seu momento de fama ao seu intérprete e este ou esta depois some como se tivesse sido vítima de uma maldição.

Lembro que quando ainda era moço surgiu um cantor de nome artístico engraçado: João Só. Parecia uma profecia. Meus irmãos mais velhos (neste tempo bem moços ainda) até brincaram dizendo que o nome já dizia tudo, seria só aquela música mesmo e ele não conseguiria mais emplacar nenhum sucesso nas rádios.

Não deu outra. O João Só foi cantado em todo o Brasil com a sua “Menina da Ladeira” e nunca mais se ouviu falar do rapaz, ninguém sabe o que foi feito dele.

Mas voltando à cantora Amélia Claudia Garcia Colares, a Amelinha, que hoje muita gente não conhece, é preciso esclarecer que a cearense não teve passagem tão curta assim pela música popular brasileira e continua viva e com a mesma voz charmosa que encantou o Brasil nas décadas de 70 e 80.

A artista nasceu em Fortaleza, em 1950 e com 20 anos foi morar em São Paulo para estudar Comunicação. Amiga de Fagner, começou a se apresentar de forma amadora, participando dos shows do autor de “Canteiros”.

O poeta, compositor e cantor Vinícius de Moraes, em 1975, chegou a fazer uma previsão otimista demais a respeito do potencial de Amelinha. “Vá jandaiazinha, abra as asas, alce vôo, voe bem alto e cante tudo por aí afora, porque você canta lindo. E já que estou dando bandeira, se a estrela da manhã cantasse, aquela que o poeta reservou só para si, num poema tão casto, seria como você, com este timbre puro e cristalino de menina fazendo roda, que quando canta, enternece a alma da gente e refrigera o ar em torno”.

Vinícius parecia entusiasmado com a cantora e é muito feliz, em suas considerações, quando elogia o timbre de voz de Amelinha, considerando-o “puro e cristalino”.

Em 1977 Raimundo Fagner resolve produzir a amiga cantora e esta grava seu primeiro disco, intitulado “Flor da Paisagem”.

É um álbum muito bom e tenho o privilégio de tê-lo guardado aqui nos meus arquivos, em vinil. Inclui a música título, atribuída por muitos como uma composição de Fagner, quando na verdade a canção é de Robertinho do Recife e Fausto Nilo.

Fagner participa do disco com a faixa de abertura, Santo e Demônio, Depende, Pobre Bichinho e Agonia. Todas primorosas, numa dela ele arrasa fazendo a segunda voz. Ednardo e Abel Silva também dão sua contribuição ao belo trabalho. Não tenham dúvida de que esse disco é uma jóia rara na música popular brasileira produzida nos anos 70.

Um ano depois a cearense lança o disco “Frevo Mulher”. A faixa título é de Zé Ramalho, com quem Amelinha foi casada, e é uma música que ficou bastante conhecida, tendo sido gravada também pelo paraibano. Nesse segundo vinil a cantora incluiu ainda Dia Branco (Geraldo Azevedo) numa interpretação muito suave, Coito das Araras (Kátia de França) uma linda canção intitulada Noite de Cetim (Herman Torres e Sérgio Natureza) e Santa Tereza (de Fagner e Abel Silva) uma música muito forte, uma das melhores do álbum.

A consagração mesmo de Amelinha viria em 1980 num festival promovido pela TV Globo. Ela ficou com o segundo lugar cantando Foi Deus quem fez Você (Luiz Ramalho), uma música que agradou em cheio o grande público e foi executada à exaustão por rádios de todas as regiões do Brasil.

Dois anos depois emplacaria outro grande sucesso com Mulher Nova Bonita e Carinhosa faz o Homem Gemer sem sentir dor. A letra é de Zé Ramalho e a música faria parte da trilha sonora de uma minissérie da Globo sobre Lampião e Maria Bonita.

Amelinha participou também de um disco gravado pelo Pessoal do Ceará, que teve participação de Belchior, Ednardo, Fagner e outros artistas daquele estado nordestino.

A partir de 1984 a cantora entrou em nova fase. Separada do marido Zé Ramalho, que produziu três dos seus primeiros cinco discos e compôs muitos de seus sucessos, ela entregou sua voz à produção de Mariozinho Rocha e ao acompanhamento instrumental do Roupa Nova, que imprimiu algo de pop em seu trabalho.

Foi o início de uma remodelação que culminou com o show 1989, Saudades da Amélia, em que deixou os frevos e baiões de lado para um repertório com músicas de Tom Jobim,Caetano Veloso e Chico Buarque. Após sete anos sem gravar, em 1994, aderiu ao forró, relembrando clássicos como Pisa na Fulô e A Vida do Viajante. Em 1999, fez uma turnê pelo país com inéditas de seu novo disco, Só com Você, e sucessos como Foi Deus que Fez Você.

Neste ano de 2011 estava previsto o lançamento de um novo disco da cantora, Janelas do Brasil, que teria participação de antigos parceiros como Ednardo, Belchior e Fagner. Zeca Baleiro também foi anunciado numa das faixas. Segundo o crítico musical carioca Mauro Ferreira, que escreve Notas Musicais na internet, o CD foi lançado em outubro e inclui composições de Almir Sater, Alceu Valença, Geraldo Espíndola e Renato Teixeira.

Como dá para perceber, Amelinha não foi um João Só na história da MPB. Chegou a ser considerada o "Fagner de saias" e a "Gal Costa do Ceará". Nem uma coisa nem outra. Mas ninguém pode esquecer dos seus primeiros discos, dos grandes sucessos e da voz suave como um cristal, que tanto agradou Vinícius e seu parceiro Toquinho.

Abaixo alguns versos de Flor da Paisagem, a música de Fausto Nilo e Robertinho do Recife, gravada também pelo Fagner:

Teu zói é a flor da paisagem
Sereno fim da viagem
Teu zói é a cor da beleza
Sorriso da natureza
Azul de prata, meu litoral
Dois brincos de pedra rara
Riacho de água clara
Roupa com cheiro de mala
Zóim assim são mais belos
Que renda branca, que renda branca, que renda branca na sala
Quem vê nêo enxerga a praia
Nóis no lençol, nóis no lençol , nóis no lençol de cambraia

FOI DEUS - Conseguimos encontrar um vídeo recente de Amelinha, interpretando a música Foi Deus quem fez Você, acompanhada da Orquestra Sinfônica de Fortaleza. É só clicar em Foi Deus, toda em maiúsculo para acessar.

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