Quando a Música Popular Brasileira ganhou força como um gênero musical específico, nos anos 60, surgiram dois grupos dedicados exclusivamente a interpretação da autêntica MPB. Vinicius de Moraes, Tom Jobim, Chico Buarque, Ivan Lins, Djavan, Dorival Caymi, Noel Rosa, Carlos Lyra, dentre outros, estavam entre os compositores formados por esses intérpretes. Quatro rapazes bem afinados formaram o MPB-4, que durante pelo menos duas décadas gravaram bons discos, apreciados sobretudo pelo público universitário e se destacaram fazendo shows por todo o país. Na mesma linha foi criado o Quarteto em Cy, este composto por quatro mulheres - inicialmente quatro irmãs -, que ao longo dos anos foram mudando sua formação, mas que chegaram até a última década dando a sua contribuição a boa música brasileira.
Transcrevemos, abaixo, um texto do site oficial do próprio Quarteto feminino, contando a história do grupo:
O Quarteto em Cy foi originalmente formado pelas irmãs Cylene, Cynara, Cybele e Cyva, nascidas em Ibirataia (BA). Ainda em seu estado natal, as quatro irmãs Sá Leite iniciaram sua relação com a música através do projeto sociocultural “Hora da Criança”, que visava introduzir os jovens no fascinante mundo das artes. No início dos anos 60, de passagem pelo Rio de Janeiro, Cyva, a irmã mais velha, conhece o poeta Vinícius de Moraes, que incentiva as quatro irmãs a formar um conjunto vocal. Com o auxílio de Carlos Lyra, o grupo foi batizado como Quarteto em Cy, em referência às iniciais dos nomes das integrantes.
O primeiro registro do conjunto se deu ao lado de Catulo de Paula, através da participação na trilha sonora do filme de Alex Viany “Sol Sobre a Lama” (1963), composta por Pixinguinha e Vinícius de Moraes. Em 1964 o grupo se apresentava na boate Bottle’s, no Beco das Garrafas, junto do Copa Trio, Rosinha de Valença e Carlos Castilho – seu primeiro arranjador vocal. Ainda naquele ano o Quarteto participava do histórico show na boate Zum-Zum, contígua a Bottle’s, em companhia de Vinícius de Moraes e Dorival Caymmi, com produção de Aloysio de Oliveira e direção musical de Oscar Castro Neves. O conteúdo integral do espetáculo apresentado no Zum-Zum seria lançado em 1965 em LP pela Elenco, de propriedade de Aloysio, que resultaria no maior êxito comercial daquela companhia.
Ainda em 1964, o Quarteto gravava seu disco de estréia pela recém-inaugurada gravadora Forma, de Roberto Quartin, que contou com arranjos vocais de Carlos Castilho e instrumentais de Eumir Deodato e Luiz Carlos Vinhas. Ainda pela Forma, o Quarteto gravaria os álbuns “Som Definitivo” (1965), com o Tamba Trio, e “Os Afro-Sambas” (1966), acompanhando Vinícius de Moraes e Baden Powell. Em 1966, guiadas por Aloysio de Oliveira, as quatro irmãs do Quarteto em Cy davam início efetivo a sua carreira internacional, apresentando-se em programas de televisão norte-amricanos e gravando sob o nome The Girls From Bahia o disco “Pardon my English”, pela Warner Brothers. O début do grupo em terras estrangeiras, no entanto, havia se dado em 1965, quando da gravação do álbum “Caymmi and The Girls From Bahia”, também pela Warner, ao lado do conterrâneo Dorival Caymmi.
Em 1966, Cylene se casa e decide abandonar o grupo, sendo substituída pela polivalente Regina Werneck, que bem integrada no conjunto passaria a ser conhecida por Cyregina. De volta ao Brasil com a nova formação, o Quarteto participa do “Show do Crioulo Doido”, de Sérgio Porto, realizado no Teatro Toneleros (RJ), e lança pela Elenco o disco “Quarteto em Cy” (1966), composto em grande parte pelos fonogramas de seu primeiro álbum pela Warner. Ainda em 1966, ao lado de MPB4, o grupo apresentava “Canção a Medo”, de Sérgio Bittencourt, no I Festival da Canção Popular promovido pela TV Rio.
Em 1967, de volta aos Estados Unidos, o Quarteto em Cy, novamente como The Girls From Bahia, realizava uma série de apresentações em universidades e cassinos, e grava seu segundo LP internacional pela Warner Brothers: “Revolución com Brasília”, que trouxe clássicos da Bossa Nova e standarts do cancioneiro norte-americano. À época de tal lançamento o Quarteto se apresentou no célebre programa “Andy Williams Show”, transmitido coast-to-coast pela rede NBC. Em 1967, Cynara e Cybele se desligam do Quarteto, atuando em dupla até o ano seguinte e sendo substituídas por Semíramis e Sonya, que passariam a ser conhecidas respectivamente por Cymíramis e Cyntia. Com esta nova formação o grupo continuava a se apresentar nos Estados Unidos e entrava novamente em estúdio para um novo LP. O álbum, que teria o título “Carrousel”, nunca fora lançado.
Em 1968, de volta ao Brasil com sua nova formação – composta por Cyntia, Cyregina, Cymíramis e a resistente Cyva –, o grupo gravou o LP “Em Cy Maior”, seu derradeiro pela gravadora Elenco. Novamente nos Estados Unidos, o Quarteto continuava a realizar apresentações mediadas por Aloysio de Oliveira, agora marido de Cyva. Após a saída inesperada de Cymíramis ainda em 1968, a cantora Sandra Machado assume seu posto para dar continuidade à agenda de compromissos do Quarteto, que se estendeu até meados de 1970, quando o grupo, desestabilizado pelas constantes modificações estruturais, decide interromper suas atividades artísticas.
Em 1972 o grupo se reestrutura no Brasil com nova formação constituída por Cyva, Cynara, Sonya (ex-Cyntia) e Dorinha Tapajós. Sob a direção musical de Milton Miranda e Gaya, grava o LP “Quarteto em Cy”, pela Odeon, fincando suas raízes em seu país de origem. Em 1973, o Quarteto realiza turnê pelo Brasil – iniciada no teatro TUCA, em São Paulo –, ao lado de Vinícius de Moraes e Toquinho, que renderia posteriormente o álbum “Saravá Vinícius”. Em 1974, o grupo lança dois compactos duplos pela Philips – “Quatro Sucessos em Cy” - Volumes 1 e 2 – que marcam sua estréia na gravadora na qual permaneceriam pelos próximos seis anos. Atuando sob a direção musical de Luiz Cláudio Ramos, que acompanharia o grupo até 1983, o Quarteto em Cy gravava em 1975 o disco “Antologia do Samba-Canção”, que renderia um segundo volume no ano seguinte devido ao grande sucesso do projeto que enfocava canções daquele movimento antecessor da Bossa Nova.
Na década de 70 o Quarteto lançou ainda os discos “Resistindo” (1977), com o conteúdo do show homônimo apresentado no teatro Fonte da Saudade, no Rio de Janeiro; “Querelas do Brasil” (1978), marcado por repertório conceitual que evocou dores e delícias de nosso país; “Cobra de Vidro”, estabelecendo a feliz parceria com o grupo-irmão MPB-4 (1978); “Em 1000 Kilohertz” (1979), com base no repertório do espetáculo apresentado no teatro Vanucci, no Rio de Janeiro, e “Flicts” (1980), com MPB4 e Sérgio Ricardo – baseado no livro homônimo de Ziraldo.
Em 1980 Dorinha Tapajós se afasta do grupo por motivos de saúde, sendo substituída por Cybele. Com a nova formação que se mantém até hoje – Cyva, Cynara, Cybele e Sonya –, o Quarteto gravava o LP “Quarteto em Cy Interpreta Caetano, Milton, Gonzaguinha e Ivan” (1980) seguido do também temático “Caminhos Cruzados - Lobos, Caymmis e Jobims” (1981).
Em 1983 o Quarteto lança o LP “Pontos de Luz” (1983), trazendo as refinadas harmonias vocais do Quarteto em Cy sobre instrumentações ousadas envoltas por sintetizadores.
Após um hiato de quatro anos, o Quarteto em Cy voltava ao cenário artístico, em 1987, com o show “Ao Redor de Cy”, apresentado na boate People sob direção musical de Célia Vaz – que seria figura constante na carreira do Quarteto a partir de então. Em 1988 o grupo participava, ao lado de outros artistas, da gravação do LP “Para Fazer Feliz a Quem se Ama”, produzido por Roberto Menescal para a CBS / Sony Music. Em 1989, o Quarteto viaja para Tóquio (Japão), e participa, com Carlos Lyra, Leila Pinheiro e Uakti, de grandioso festival de Bossa Nova. Ainda em terras orientais, o grupo realiza apresentações na Boate Kay e grava um especial para rede de TV japonesa. Ainda naquele ano o grupo registrava sua participação no disco “Cláudio Santoro - Prelúdios e Canções de Amor” - distribuído somente como brinde pela Coca Cola Company -, junto de Gilson Peranzzeta, Boca Livre e precioso time de músicos.
Em 1990 o Quarteto participava do remake do disco “Afro-Sambas”, feito por Baden Powell inicialmente para servir de brinde a um banco - posteriormente, o álbum seria reeditado em vários países e por diferentes gravadoras. Em 1991 o Quarteto em Cy marca sua volta definitiva à música através do álbum “Chico em Cy”, iniciando sua nova fase na Companhia Industrial de Discos, a CID. No ano seguinte o grupo lança no mercado japonês o disco “Bossa em Cy”, através do selo Nanã, de Lisa Ono, em parceria com a BMG / Ariola. Em 1992 o grupo viaja a Espanha com Carlos Lyra, Gilson Peranzzetta e Maria Creuza, a convite do governo daquele país, para as comemorações dos 500 anos do descobrimento da América, apresentando-se nas cidades de Madri, Sevilha, Salamanca, Cáceres, Huelva e Badajós.
Em 1994, comemorando 30 anos de carreira, o Quarteto grava o reflexivo álbum “Tempo e Artista” e, dois anos depois, “Brasil em Cy”, com releituras de clássicos da MPB com destaque para parcerias com Miúcha, Léo Gandelman, Gal Costa, Maria Bethânia e Zélia Duncan.
Em 1997, o Quarteto em Cy se apresenta novamente no Japão e grava, com o MPB4, o álbum “Bate-Boca”, tendo como base as canções de Tom Jobim e Chico Buarque. Ainda nesse ano, o grupo recebia o Prêmio Sharp de Música na categoria Melhor Grupo Vocal. Em 1998 o Quarteto torna a se apresentar no Japão, ano em que também lança novo disco com o MPB4: “Somos Todos Iguais”, baseado na faceta mais pop do repertório de Ivan Lins e Djavan.
Em 1999 o grupo comemorava 35 anos de carreira com o show “Boas-Vindas” e lançava o álbum “Gil & Caetano em Cy”.
Em 2000, Quarteto em Cy e MPB4 se reúnem novamente para o disco “Vinícius: A arte do Encontro”. Em 2001 o Quarteto em Cy lança pela CID o álbum “Falando de Amor pra Vinicius”, originado de gravação resgatada dos arquivos de Cynara do show realizado em Curitiba, em 1981, ao lado do violonista Luís Cláudio Ramos. Ainda neste ano o Quarteto relembra os tempos de infância com o álbum “Hora da Criança”, em alusão ao projeto sociocultural homônimo que ainda vigora na Bahia. Em 2002 o grupo lança o conteúdo do show “Verdades e Mentiras”, apresentado no teatro Rival, no CD e DVD “Quarteto em Cy - Gravado ao Vivo no Rio de Janeiro”, apresentando repertório diversificado de diferentes momentos de sua carreira.
Em 2004 o Quarteto participou, ao lado de vários artistas, da gravação de CD e DVD do projeto “Hino do Fome Zero”. Em 2004, celebrando 40 anos de carreira, o Quarteto se apresentava no Teatro Rival (RJ), com banda formada pelos músicos Kiko Furtado, João Faria, João Cortez e Chico Faria. Neste mesmo ano é lançado pela Universal Music o álbum duplo “Quarteto em Cy - Quarenta Anos”, resgatando sucessos bem como gravações raras e inéditas do grupo.
Em 2006, com arranjos vocais de Cynara, o Quarteto em Cy lança pela gravadora Fina Flor o disco “Samba em Cy”, honrando o mais brasileiro dos estilos musicais e várias de suas vertentes – partido-alto, samba-enredo, samba maxixado, samba de terreiro, dentre outros – trazendo regravações de composições consagradas e salientando oito inéditas, com destaque para a faixa-título, composta por Ruy Quaresma e Ney Lopes especialmente para o Quarteto em Cy. Em 2007, o conjunto recebia indicação ao Prêmio TIM de Música Brasileira na categoria “Melhor Grupo de Samba”.
Em 2008, a produtora Filmação, em associação com a distribuidora Neo, lança em DVD o conteúdo do espetáculo em que Cyva, Cynara, Cybele e Sonya homenageiam Vinícius e Caymmi. O projeto “Quarteto em Cy no Show Vinícius & Caymmi em Cy”, produzido por Miguel Bacellar e dirigido por João Elias Júnior, faz menção ao famoso espetáculo apresentado em 1964 na boate Zum-Zum. Músicas como “Berimbau”, “Saudade da Bahia”, “História dos Pescadores” e “Samba da Bênção” não poderiam faltar, porém, outras tantas da carreira dos compositores e seus parceiros são apresentadas pelo Quarteto.
QUARTETO - Ao clicar na palavra ao lado, toda em maiúsculo, você acessa um vídeo do yotube com um vídeo do grupo feminino, comemorando 40 anos de carreira, num show em que homenagearam Vinícius de Moraes e Dorival Caymi.
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