A FELICIDADE NÃO SE COMPRA
UM BELO CONTO DE NATAL – Passados mais de 60 anos, A Felicidade não se Compra, de Frank Capra, continua atual e é um dos filmes mais belos já feitos até hoje pela indústria de cinema americana. É uma história carregada de otimismo, de crença na bondade do ser humano e capaz de pregar a esperança, qual no evangelho cristão, de que os bons no fim serão recompensados. Um belo conto de Natal, escrito para se opor aos efeitos da Grande Depressão vivida pelos Estados Unidos, após a década de 30, e ao horror da segunda guerra mundial, que só terminou em 1945.
Frank Capra, diretor de A Felicidade não se compra, nasceu na Sicília, na Itália, mas ainda criança seus pais se mudaram para os Estados Unidos e sua vivência toda é americana, tendo obtido a cidadania daquele país em 1920. Foi entregador de jornais, encartador, bedel de escola, tocou guitarra, estudou, se formou em engenharia química, porém sua vocação era mesmo o cinema. Tem uma longa filmografia, como obras como Nada Além do Desejo, Dama por um Dia, As Viúvas Também Sonham e Órfãos da Tempestade. Viveu quase 100 anos, esteve à frente das câmeras dezenas de vezes, tendo sido injustiçado na carreira, embora na velhice tenha recebido o Leão de Ouro, em Veneza, pelo conjunto da obra.
De todos os filmes de Capra, no entanto, A Felicidade não se compra é mesmo o mais famoso e tanto tempo passado ainda é cultuado por cinéfilos, críticos da sétima arte, artistas e cidadãos comuns no mundo inteiro. Com sorte você já assistiu numa sessão da tarde ou numa das madrugadas da Globo. Caso isso não tenha acontecido e tenha acesso a TV por assinatura, certamente viu ou reviu recentemente no tele cine cult, o canal da sky que privilegia os chamados “filmes de arte”.
George Bailey ( James Stewart, o mesmo ator de Um Corpo que Cai e Janela Indiscreta, de Alfred Hitchcock), é um personagem que desde jovem sonha em crescer na vida e tornar o mundo melhor. Quando o pai ainda é vivo já carrega esses sentimentos. Ao perdê-lo, herda os negócios, um pequeno banco e mantém os ideais de bondade.
Nadando contra a corrente capitalista, George não trabalha só de olho nos lucros. Ajuda todo mundo. Casa, tem filhos e permanece o mesmo: sempre salvando alguém de uma situação difícil. Ainda garoto, evita que um farmacêutico venda por engano veneno no lugar de um medicamento, salvando tanto o paciente quanto o pequeno empresário. Como adulto, socorre mulheres, homens endividados, ajuda família inteiras a conseguir suas casas.
O idealismo de Bailey incomoda Henry Potter, o vilão da história. Ele é homem egoísta que só pensa no dinheiro, não importando que para consegui-lo tenha de atropelar os outros e até se apropriar do que não é seu. O capitalista é praticamente o dono da cidadezinha, só precisa destruir George para assumir o controle total da vida dos moradores.
Vejam como é interessante este filme: em meados da década de 40, nos Estados Unidos pós-guerra, um cineasta tendo a coragem de criticar o espírito empreendedor americano. Sem nenhum verniz ideológico, põe em cheque a ambição desmedida, a exploração dos humildes pelo capitalista, pregando a bondade e o amor como os grandes valores humanos.
O George de A Felicidade não se Compra vive em dificuldades financeiras e para completar seu tio perde uma grande quantia em dinheiro. Os dólares, na verdade, são “encontrados” acidentalmente por Potter que os leva consigo sabendo que esta é a sua oportunidade de destruir o idealista teimoso.
O sonhador entra em desespero, grita com os filhos, fica irreconhecível com a esposa. Em pleno Natal, George Bailey sai pelas ruas procurando uma saída, perde o senso da razão. Sabe que a firma vai à falência, as pessoas serão prejudicadas, não há saída... Perdido, o personagem pensa em se atirar nas águas e pôr fim a própria vida.
No céu, porém, Deus e os anjos estavam de olho em George. Acompanham sua vida, seus atos de bondade. E julgam que o bom homem merece um socorro para se safar da situação desesperadora. Então, Clemente, um anjo que está esperando há mais de 200 anos para ganhar seu par de asas, é enviado para ajudar o personagem em apuros.
Na terra, Clemente proporciona um dos grandes momentos do cinema, em todos os tempos: atendendo uma frase impensada de George, refaz o mundo como se ele, Bailey, nunca tivesse nascido: e aí o farmacêutico foi preso por ter envenenado um cliente, pessoas que se deram bem na vida por conta do idealista estão na miséria, sua esposa nunca casou, Potter é o dono da cidade e o mundo é bem pior, por conta de sua ausência.
George, depois da situação provocada pelo anjo, passa a dar valor a vida, percebe o quanto foi importante na vida de tantas pessoas, sente um aperto de saudade de casa, da mulher, dos filhos e volta ao lar correndo...
Ao chegar, a surpresa: a mulher tinha descoberto o porquê do sofrimento do marido, conversa com os moradores da cidade e todos que algum dia tinham sido ajudados por Bailey resolvem dar o troco. Invadem sua casa e cada um traz o que pode. A importância arrecadada supera em muito o dinheiro perdido, de modo que o bem triunfa em meio a um bonito movimento coletivo de solidariedade. As cenas finais, do povo se unindo para socorrer George, são capazes de provocar emoção, choro, risos e acender a esperança no coração dos homens.
Em nenhum momento, que eu esteja lembrado, o filme faz citações a religiões, a Cristo ou um Deus específico. Não deixa, contudo, de ser profundamente cristão no sentido de defender os humildes, condenar o luxo e a riqueza e no final compensar os justos.
Tudo termina como um grande Auto de Natal, um conto levado às telas que dificilmente uma pessoa sensível poderá esquecer. (Fontes de Consulta: Apenas peguei alguns dados de Capra na internet e chequei a escrita correta dos nomes dos atores. Importante mesmo foi ter revisto o filme recentemente).
* Filmes Inesquecíveis é uma série de resenhas sobre cinema publicada nos finais de semana. Alguns dos filmes que já foram comentados: Cinema Paradiso, 2001 – Uma Odisséia no Espaço, Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, Um Estranho no Ninho, Central do Brasil, Cidade de Deus, Um Sonho de Liberdade, A Noviça Rebelde , O Grande Ditador, Ladrões de Bicicleta, Janela Indiscreta, E O Vento Levou, Casablanca, Titanic e o Sexto Sentido.
E o Filme : A Vida é Bela, que eu te falei? :(
ResponderExcluirA Vida é Bela é um filme muito bom. Acredito que futuramente escreverei sobre ele nesta série. Obrigado pela sugestão e por sempre participar do blog. Para um menino de 13 anos você tem uma cabeça e tanto. É muito inteligente. Seus pais e Capoeiras devem se orgulhar de você.
ResponderExcluirEu pensei que você ainda não tinha assistido esse filme, então falta só escrever sobre ele!E Muito Obrigado pelo Elogio Srº Roberto! Acho que meus pais se orgulham sim de mim, Já Capoeiras eu não sei não...e mais uma coisinha... Completei 14 anos sexta-feira passada hahahaha :D ( @victorr_mateus )
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