ARTIGO
Aparentemente tivemos um dia comum. Os jornais diários noticiaram os jogos de futebol, o carnaval que já toma conta das ruas do Recife, Salvador e Rio de Janeiro; crimes, assaltos, as rádios tocando as mesmas músicas impostas pela indústria fonográfica e a expectativa das novelas de televisão, à noite.
No horário da tarde, no entanto, quando o Supremo Tribunal deJustiça do Distrito Federal determinou a prisão do governador José Roberto Arruda (DEM), a História se pôs em movimento. Poucas horas depois da decisão do TJ, o Secretário de Segurança do democrata negociou com a Polícia Federal e o delinquente se entregou. Está neste momento detido numa sala do prédio da PF, em Brasília, como qualquer criminoso.
O Brasil que afastou da presidência da República um político envolvido em corrução, Fernando Collor, parecia que iria entrar nos eixos e a população talvez tenha passado a sonhar com um país mais sério e uma classe política que se desse ao respeito. Pura ilusão. Desde o impechament até hoje tivemos inúmeros casos escabrosos de deputados, prefeitos, governadores, secretários, ministros e outros homens públicos envolvidos em fatos vergonhos. Até o PT, o outrora guardião da ética, não aguentou se lambuzar com o poder e se envolveu no vergonhoso mensalão, que deletou a figura de verdadeiros heróis da resistência, caso de José Genoíno e José Dirceu.
Mais recentemente, estourou este caso do governador do Distrito Federal. José Roberto, considerado um modelo de administrador, cotado inclusive para ser vice de Serra, era apenas o mesmo homem que violou o painel do senador federal, ao lado de Antônio Carlos Magalhães e por isso renunciou ao mandato.
O mensalão de Arruda foi fotografado, filmado, testemunhado e comprovado de todas as maneiras. As imagens na TV não deixavam dúvida: o próprio governador recebia pacotes de dinheiro do esquema, juntamente com o grupo de amigos, secretários, deputados distritais, empresários, todos bebendo da mesma água enlameada.
Por que o mensalão do PT não derrubou Lula? Porque nunca se provou que o presidente da República teve envolvimento direto com aquele negócio, não se gravou ou filmou nada comprometendo o líder petista.
José Roberto Arruda, portanto, é culpado, as evidências e os fatos comprovam isso. Por isso ele está preso.
A Justiça, que tem sido tão falha, às vezes, manchando a imagem de juízes isoladamente, de tribunais estaduais e federais e até do Supremo, desta vez fez a sua parte. Mandou prender um governador praticante de atos criminosos.
É um fato histórico para ser comemorado e que faz renascer a esperança dos tempos do impedimento de Collor. A esperança de que todo gatuno de paletó e gravata, seja prefeito, governador, senador, deputado ou presidente, seja punido quando botar a mão indevidamente no dinheiro público.
Que a partir de agora, de hoje, não seja preso apenas o ladrão de galinhas ou quem pega um pacote de comida no supermercado para alimentar os filhos. Que sejam colocados na cadeia principalmente os governantes ambiciosos e doentes da cabeça: capazes de desviar dinheiro da merenda, da saúde, das estradas, dos transportes, das festas religiosas ou profanas, das obras de calçamento e saneamento que poderiam melhorar um pouquinho a qualidade de vida do povo.
Ironia do destino, no mesmo dia da prisão de Arruda morreu o ex-ministro Armando Falcão. Um homem que praticou atos feios e desprovidos de ética para dar sustentação a ditadura militar que o Brasil viveu de 1964 a 1985. Não estamos contentes porque ele morreu, este fato não devemos comemorar. Apenas registramos essa ironia do destino e sustentamos: O Brasil hoje teve um dia histórico!.
(A foto, publicada no Portal da Globo, mostra o prédio da Polícia Federal, em Brasília, onde o governador Arruda está preso. Manifestantes na frente do edifício protestam e comemoram).
Nenhum comentário:
Postar um comentário