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Pesquisas Eleitorais

IVONETE XAVIER - UMA ESCRITORA DE GARANHUNS



Por Cláudio Gonçalves*

A escritora Ivonete Batista Xavier, formou-se em Pedagogia pela Universidade Federal de Pernambuco, Psicologia pela Universidade Católica de Pernambuco e Mestrado em Psicologia Social pela Universidade Federal da Paraíba. Foi professora da UFPE e pesquisadora do Departamento de Psicologia da UFPE e outras instituições nacionais e internacionais. Radicada em Garanhuns há mais de uma década, merecidamente foi agraciada pela Câmara de Vereadores de Garanhuns com o título de cidadã garanhuense em 14 de dezembro de 2006.

Ivonete é sócia da União Brasileira de Escritores – UBE, Recife e a atual presidente do Instituto Histórico, Geográfico e Cultural de Garanhuns. Escritora premiada é autora de, entre outras obras literárias, “Uma Leitura de Pereira da Costa”, “Mulher e Política” e “Luís Jardim: Mestre do Traço e da Prosa”.



Ivonete Xavier é uma autora reconhecida e de prodigiosa trajetória literária. 



1) Escritora Ivonete Xavier, primeiramente fale um pouco sobre você.



Ivonete Xavier - Nasci em Fazenda Nova, vilarejo do Agreste de Pernambuco, hoje conhecido como “Nova Jerusalém”, no município de Brejo da Madre de Deus. Só fiz nascer, meus pais se mudaram do povoado, mas lá voltei nos tempos de férias. A família foi morar em Caruaru. Estudei em escolas públicas e no Colégio Sagrado Coração, dirigido pelas freiras beneditinas, durante uns oito anos.



2) Antes de falarmos sobre suas obras, comecemos pelo inicio de tudo: como foram os seus primeiros passos no universo da literatura?



Ivonete Xavier - Na terra de José Condé, fui picada pelo veneno da literatura e até hoje não me livrei dele. Recitava poesias quando da realização de eventos e escrevia para o jornal de classe. Um dia minha escrita (crônica?) foi lida pela Rádio Difusora de Caruaru. Com os ouvidos colados no rádio, os olhos esbugalhados, ouvi sem acreditar o que ouvia.

Fui estudar em Recife, a literatura me espreitava – cursei Psicologia – me acerquei de pessoas que discutiam filosofia, autores, assistia palestras de Ariano Suassuna e ria ouvindo-o falar de coisas sérias.

Sempre gostei de ler jornais, apreciava a Folha de São Paulo, que trazia semanalmente um caderno sobre literatura. Guardava-o para reler e alimentar meus desejos e fantasias.

Tornei-me professora da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE (Departamento de Psicologia). Na Tese de Mestrado, inclui um capítulo dando voz aos sentimentos – meus e dos entrevistados da pesquisa. O capítulo foi rejeitado e me foi dito que servia “para ser publicado no jornal”. Passei um tempo para decifrar o código linguístico usado pelo mestre, hoje vejo um elogio, quiçá, um reconhecimento de uma habilidade nascendo. Quando me afastei da UFPE, participei de uma oficina literária coordenada pela poetisa Lucila Nogueira, de saudosa memória, considerada a Janis Joplin da geração 65, me estimulou a escrever. Era uma pessoa iluminada e lhe sou muito grata.



3) Como se descobriu escritora?


Ivonete Xavier - Eu não me descobri escritora, foi a literatura que não me deixou em paz. Hoje ainda me assusto quando me chamam de escritora, e mais quando me apresentam como poetisa. A escritora veio após concluir a oficina da professora Lucila Nogueira.



4) Fale um pouco sobre seu livro de estreia.



Ivonete Xavier - O Preço do Afeto (2001) é o meu livro de estreia. Fazendo uma (re)leitura, observo que nos contos se acham os fundamentos de minhas narrativas, isto é, os contextos que me inspiraram de início se mantém com uma fidelidade canina. É só ver e reparar, como diz José Saramago.



5) Percebe-se que você é uma escritora que gosta de escrever narrativas com viés histórico. Como surgiu o interesse por esse estilo de narrativa?



Ivonete Xavier - Meu interesse pela história também não é de hoje. Foi uma experiência enriquecedora a abordagem do historiador, de uma personalidade singular: Pereira da Costa (2003).

Façamos uma pausa, em 2003 vim morar em Garanhuns. O passeio pelas ruas me levou até SIMOA, mais tarde escreveria sobre a protofundadora da povoação de Santo Antônio dos Garanhuns. Conheci o casarão construído por Ruber Van Der Linden, de paredes revestidas de pedras, demolido vergonhosamente em 1996. O SESC me descobriu, levei a tiracolo meu gosto pela escrita. A convite do Laboratório de Autoria Literária Luzinette Laporte, participei de vários eventos, lá fiz o lançamento de dois livros. Minha gratidão à instituição, o SESC colaborou no processo de construção da minha identidade de escritora.



6) Depois do seu livro de estreia O Preço do Afeto vieram outros lançamentos. Poderia fazer um breve comentário sobre essas obras publicadas?



Ivonete Xavier - O livro Tempo e Memória (2008) é a mistura de ficção e realidade, um alimentado à outra, uma encobrindo a outra, num jogo sutil de esconde – esconde. A narrativa tem sabor proustiano, se todo livro é autobiográfico, esse tem mais de mim.

Somos feitas de retalhos, lembrando Cora Coralina, em 2011 volto aos contos, com o livro Bonecas de Pano. O livro é composto de 23 histórias, curtas, umas menos sucintas, elaboradas numa linguagem coloquial com ares de prosa poética.

A questão de gênero (re) aparece, o enredo do livro, Mulher e Política (2014) que traz na capa o “retrato” de Simoa Gomes de Azevedo, focaliza a inserção das mulheres no espaço público, isto é, na política – local historicamente pertencente ao sexo masculino.

Meu encantamento por Luís Jardim surgiu ao conhecer o conto Maria Perigosa, apresentado no I° Congresso de Escritores em Garanhuns. O livro Luís Jardim, Mestre do Traço e da Prosa (2017) foi escrito à luz de publicações veiculadas pela imprensa do país, no período de 1930 a 1987. O consagrado artista de sete instrumentos é desconhecido por muitos em sua própria terra.



7) Atualmente a senhora ocupa o cargo de presidente do Instituto Histórico, Geográfico e Cultural de Garanhuns. Quais os principais objetivos dessa conceituada instituição para salvaguardar a memória de Garanhuns e que trabalhos têm sido feitos nesse sentido?



Ivonete Xavier - O Instituto nasceu do sentimento de falta – o patrimônio (material e imaterial) não recebe atenção merecida, por parte do poder público e da sociedade civil, é tarefa dos dois. A instituição assumiu o papel de guardião da memória (material e imaterial), e ao longo dos anos o grupo tem se empenhado na luta pela preservação da memória da urbe, digo luta, porque se vive num clima de desmemorialização de nossa cultura, em todo país.

As atividades realizadas pelo Instituto (palestras, cursos, grupos de estudo, exposições, lançamentos de livros...), fazem parte do cotidiano da instituição. Outrossim, busca-se estimular o talento local, o incentivo à produção de estudos e pesquisas tem sido cultivado e tem dado bons frutos.

Infelizmente, em fins do ano passado, a sede do IHGCG – o casarão centenário – foi interditado, pela Defesa Civil local. Estamos vivendo uma via crucis, à espera de um Cirineu que nos ajude.



8) Durante a sua gestão na presidência do Instituto Histórico, Geográfico e Cultural de Garanhuns, qual a experiência que considera marcante?



Ivonete Xavier - Uma experiência acontecida em 10 de março, data do aniversário de Garanhuns, merece ser compartilhada; foi realizado o Iº Concurso de Produções Escritas, em parceria com a Secretaria de Educação do município.

O objetivo maior foi despertar nos estudantes o interesse e o respeito pela história da cidade. O tema, “O Dia de Garanhuns: 10 de Março” motivou os alunos (crianças, adolescentes e adultos) a produzirem narrativas utilizando do poema, do cordel e da redação dissertativa.



9) Que conselhos daria para os que estão iniciando no mundo literário e que almejam escrever um livro?



Ivonete Xavier - Ao que deseja brincar com as palavras, aconselho ler e ler, ler os livros clássicos nacionais e estrangeiros e escrever com frequência. Também sugiro ao iniciante à leitura do livro de Raimundo Carrero, A Preparação do Escritor. Concluindo, não desanime, persiga seu sonho. No final sentirá orgulho de si próprio, e isto é muito bom.



10) Agradecemos sua disponibilidade e gentileza em conceder essa entrevista.



Ivonete Xavier - Grata pela oportunidade.



*Cláudio Gonçalves, entrevistador e autor do texto, é professor e escritor.

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