Por Michel Zaidan Filho*
Com a
proximidade das eleições presidenciais e o fim da intervenção golpista no
governo da República, intensificaram-se as manobras destinadas a aprovar,
de "guela abaixo”, o pacote de privatizações do patrimônio nacional
(pré-sal, Eletrobrás, aeroportos, bancos públicos).
O
interventor comporta-se como um gerente do mercado internacional, com prazo e
hora marcadas para a entrega do que prometeu, caso fosse guindado ao
poder. O problema é (e continua sendo) a base política do atual mandatário. Se
era ruim, agora assumiu de vez suas deformações políticas. Quem se vende uma
vez, por um punhado de dinheiro, está pronto a se vender mil vezes, dependendo
da oferta ou do que tem a perder.
Desde a votação
da segunda denúncia contra Michel Temer, vem aumentando o número das defecções
nos partidos e agrupamentos políticos no Congresso. A última reunião
nacional do PSDB deixou claro que grande parte dos próceres peessedebistas não
quer acompanhar as decisões impopulares e antinacionais de
Michel Temer.
Os partidos
que mais têm dado voto a ele são o PMDB e o PR, da Igreja Universal. Contadas
as favas, já se sabe hoje que o interventor não reúne os 308 votos necessários
para aprovar nenhuma emenda à Constituição. Naturalmente, os ilustres deputados
não querem queimar a imagem, já de si bastante deteriorada, perante o
eleitorado nas próximas eleições. Uns serão candidatos à reeleição, outros ao
governo de alguns estados e outros, ao senado federal. Naquele cálculo
mesquinho, do lucro e das perdas, avaliam que não vale a pena colocar em risco
a eleição presumida por mais um punhado de dinheiro. Certamente vão fazer
o papel agora de "pais da pátria", protetores dos pobres e oprimidos.
Nunca
se viu um assalto tão declarado às conquistas sociais da Constituição
de 1988. O tripé da seguridade social (saúde, assistência e previdência
social) vem sendo alvo de ataques por todos os lados, com a conivência
tácita dos meios de comunicação, que veiculam informações falsas e equivocadas
sobre a contabilidade dessas políticas sociais. Curiosamente, uma classe média
alimentada a ódio e medo vem sendo transformada em massa de manobra dessa
estratégia manipuladora dos grandes veículos de comunicação.
Ela que
vai ser assaltada pelo aumento da alíquota do Imposto de Renda e da
contribuição previdenciária. Por que não se ouve rugido desses setores? - Estão
com a consciência pesada por terem se envolvido numa tramoia contra uma
presidente eleita e ajudado a colocar um títere que executa sem hesitação a
política das grandes empresas, dos bancos, dos ruralistas e outros grupos econômicos?
- Caminha para o matadouro sem mugir ou protestar?
Diante
disso, anuncia-se um cenário de profunda radicalização: de um lado aquele que
ainda encarna as expectativas do resgate da cidadania dos mais pobres. Do
outro uma conjunção plausível entre a espada e a Bíblia. E o resto da esquerda,
o que fará?- Continuará desunida e brigando pela hegemonia política numa
sociedade dominada pelo ópio da alienação religiosa e o medo da violência?-
Quando aprenderemos que,em conjunturas como essa, nada temos a ganhar, se
dividirmo-nos e ajudemos a aprofundar a crise?
Certamente,
que diante do rolo compressor do voto evangélico (neopentecostal,)
coligado à extrema-direita, teremos pouca chance. Mas é nossa
tarefa mais urgente conquistar o voto de centro, daqueles que acreditam
nas instituições democráticas e republicanas e que não são anticomunistas.
*Michel Zaidan Filho é cientista político e professor da Universidade Federal de Pernambuco. É natural de Garanhuns.
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