Do jornalista e escritor Homero Fonseca:
Sexta-feira,
4 de março de 2016, toda a mídia nacional focalizou a condução coercitiva de
Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente do Brasil, a depor numa dependência da
Polícia Federal no aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Uma força tarefa da
operação Lava-jato, composta por vários veículos e agentes, cercou o edifício
onde ele mora, em São Bernardo, sequestrou Lula (um sequestro com ordem
judicial, sim senhor), sob protestos e aplausos de grupos que chegaram a se
engalfinhar, tudo amplamente documentado por emissoras de tevê e fotógrafos de
jornais e revistas, previamente informados da investigação sigilosa.
Esperei
o Jornal Nacional pra saber a justificativa legal daquele procedimento, uma vez
que Lula compareceu a todos os chamamentos anteriores e não havia uma nova
convocação a que ele tivesse se recusado a atender. O pretexto dos procuradores
para solicitar a condução coercitiva de Lula foi a de que, durante depoimento
anterior, houve tumulto do lado de fora. Não sei o embasamento jurídico disso;
me parece bastante esdrúxulo. Ou seja, nesse caso não é o comportamento do
convocado que justifica sua condução à força, mas fatores externos a ele
(possibilidade de tumultos por parte de seus correligionários).
Não
caberia à própria polícia coibir os tumultos? Além disso, se a ideia era manter
a ordem (e esse lema é arrepiante) a truculência desnecessária provocou
exatamente o contrário: tumultos e enfrentamentos vários que deverão
aumentar de intensidade daqui até o dia 13. Deliberadamente ou não, a
infeliz decisão aumentou exponencialmente o risco de desordem pública, com o
acirramento da polarização ideológica (o inverso de sua suposta intenção,
repito).
Das
duas uma: ou o juiz Moro é muito burro ou está afim de tocar fogo no circo,
pois até uma criancinha saberia que levar Lula forçado a depor (para o
imaginário coletivo é mais ou menos o mesmo que ser preso) provocaria reações
dos militantes do PT. Ou seja, daqui pra frente, Moro é responsável pelas
eventuais (e quase certas) eclosões de tumultos (mas Moro, que é um homem
honrado, afirmou, com santa inocência ou perfeita cara de pau, que assim agia
justamente para evitar distúrbios).
E
a mídia golpista, naturalmente, vai por a culpa em eventuais conflitos nos
militantes do PT, esquecendo o papel de Moro no agravamento da radicalização
ideológica (imaginem os comentários de Reinaldo Câmara, Merval Pereira,
Alexandre Garcia, William Waak, Demétrio Magnolli, Marco Vila et alli).
Já
vi esse filme. É a preparação para, sob alegação de uma convulsão social,
chamar os militares (engrossando o número dos fanáticos de direita que já vêm
pedindo isso há muito tempo). Não há dúvida de que a estapafúrdia operação
colocou em brios a militância petista. Dia 13 vem aí, com as passeatas
perfumadas já convocadas pela turma da Marcha da Família, com Deus, pela
Liberdade. As provocações servirão para jogar gasolina no fogo. Em sua edição online
de hoje (05/03/2016), o jornal carioca O Dia informou, em sua cobertura
dos fatos de ontem: “Á noite, quartéis do Exército foram postos de
sobreaviso na capital paulista. Militares poderão ser acionados pelo governador
Geraldo Alckmin ou pela presidente Dilma Rousseff, em caso de emergência.”
Para
mim, se havia algum dúvida sobre o caráter político-ideológico do
encaminhamento dado às investigações de corrupções na Petrobrás, que passam
absolutamente ao largo dos indícios de práticas semelhantes nos governos e nas
campanhas da oposição, as dúvidas foram dissipadas. A espetaculosa mobilização
de apararato policial-midiático teve um objetivo preciso, em seu caráter
simbólico: descontruir a imagem de Lula, já minada diariamente pela mais
facciosa cobertura da imprensa já vista desde 1964.
A
Operação Lava-jato, que a cada dia mais fica claro tratar-se de uma ação
política contra Lula e o PT a pretexto de combater a corrupção (tema tão caro
às classes médias sensíveis aos apelos do fascismo, como mostra a História),
deu seu mais ousado passo na direção da destrução do símbolo de um projeto
político que, com seus erros e acertos, propõe-se a colocar o povo um patamar
acima da miséria econômica, social e política.
De
quebra, a cena de ontem serviu para a gravação dos próximos guias eleitorais da
oposição. Alguém tem dúvida?
*Homero Fonseca trabalhou nos principais veículos de comunicação da capital, tem diversos livros publicados, editou a Revista Continente Cultural (em sua melhor fase) e foi Secretário de Imprensa da Prefeitura do Recife.
**Foto de Homero Fonseca: Nordeste.com
NESTE MOMENTO DE SOFREGUIDÃO, TUDO POR CAUSA DO FATÍDICO 4 DE MARÇO, IDENTIFICO-ME MUITO COM A POETISA CECÍLIIA MEIRELES E GOSTARIA DE DECLAMAR OU RECITAR UM VERSO PARA O “CARA”:
ResponderExcluirO choro vem perto dos olhos para que a dor transborde e caia.
O choro vem quase chorando, como a onda que toca na praia.
Descem dos céus ordens augustas e o mar leva a onda para o centro.
O choro foge sem vestígios, mas deixando náufragos dentro!!!
MEU RUMO E MINHA DIREÇÃO ESTÃO TRAÇADOS PELO MEU DESTINO INFAME QUE É ME EMPAPUÇAR DE LÁGRIMAS AO NAUFRAGAR NO MAR DO snif, snif & buá, buá...
Tudo o que está acontecendo hoje no Brasil se refere a um passado.Todas as empresas somente doaram bilhões aos partidos e aos políticos porque todos inclusive o GILMAR MENDES JUIZE FEDERAL foi conivente e subserviente ao aprovar todas as prestações de contas de todos os partidos de 1989 até 2014.
ResponderExcluirQue moral tem os juízes federais de questionar hoje essas doações quando eles mesmos aprovaram tudo.Foram cúmplice ou foram irresponsáveis.Muitos deles tem hoje parentes na política graças a esses e outros esquemas.
E quanto o SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL vota uma ADI da OAB contra todas as doações empresariais aos partidos e aos políticos veio o JUIZ GILMAR MENDES e engaveta o pedido e somente solta 1 ano e 6 meses depois.Ele foi,é e continuará sendo CONIVENTE e SUBSERVIENTE.Que moral ele tem hoje em afirmar que o PT é uma organização criminosa ao lado de ÁECIO NEVES quando o PSDB recebeu mais de R$ 300 milhões dessas empresas e empreiteiras. É o sujo falando do mau lavado. Todos fizeram parte dessas organizações criminosas.
“Informei ao ex-presidente Lula que deveríamos sair o mais rápido possível, em razão da necessidade de colhermos suas declarações, antes da chegada de eventuais repórteres. Naquele momento, foi dito por ele que não sairia daquele local, a menos que fosse algemado. Disse que se eu quisesse colher as declarações dele, teria de ser ali", DELEGADO LUCIANO FLORES, EM RELATÓRIO DA CONDUÇÃO COERCITIVA DE LULA.
ResponderExcluirA tese que o juiz Sergio Moro tenta demonstrar – Lula é o chefe do petrolão – apesar de toda a boa vontade, histeria, torcida, barulho, tumulto, gráficos, manchetes da imprensa conivente e aplausos da direita festiva e da ex-esquerda gagá, não para em pé.
ResponderExcluirSenão, vejamos.
A Lava Jato parte do pressuposto de que Lula é o dono do sítio de Atibaia, ganhou de presente as reformas e um triplex no Guarujá de 200 metros quadrados em troca de contratos com a Petrobrás.
Ah, e os móveis de cozinha e dois pedalinhos com os nomes dos netos! Que vida nababesca! Praticamente um sultão!
Aos números. Sítio em Atibaia, custo total 1, 5 milhão de reais. Reformas no sítio, 800 mil. Triplex no Guarujá, 1,8 milhão, reformas mais 500 mil.
Total: 4, 6 milhões de reais.
Pouco mais de 1 milhão de dólares.
Isso lá é suborno de presidente da República? Suborno de presidente seria uma ilha particular no Mar do Caribe! Uma cobertura de 1.000 metros quadrados na Quinta Avenida! No mínimo!
Um gerente chamado Pedro Barusco, do terceiro escalão da quadrilha da Petrobrás e depois delator premiado vai devolver 97 milhões de dólares! Devolver!
Só num lance de chantagem o deputado Eduardo Cunha embolsou 5 milhões de dólares!
Como se explica que ao cappo dei tutti cappi coube apenas 4,6 milhões de reais? E ainda assim em bens, nada em dinheiro? Ele sabe cobrar bem pelas palestras, mas em matéria de propina é um ingênuo!
E nem que fossem 30 milhões! Ainda seria pouco!
Ou esse cappo é um idiota que não sabe nem roubar direito ou ele não é cappo nenhum e a história toda está muito mal contada.
Moro só poderá chamar Lula de chefe do petrolão se descobrir em suas contas secretas na Suíça ou em suas offshores mais de 150 milhões de dólares.
Menos não é propina de petrolão. Nem de presidente da República.
Por enquanto não há uma só conta secreta nem uma só offshore em nome de Lula.