Na próxima segunda-feira, 31 de
março, o golpe militar de 1964 completa 50 anos. Muito tem se falado nos últimos dias sobre este
episódio histórico do Brasil. Nos rádios, nas emissoras de TV, revistas,
jornais, sites e blogs espalhados pela internet.
Aqui, neste blog, também temos aberto
espaço para artigos sobre o período da ditadura e o que ele representou para o
país.
Hoje o texto não é do deputado
Pedro Eugênio, nem do jornalista Paulo Henrique Amorim, não transcrevemos
artigo de nenhum professor universitário nem repetimos o vídeo do ex-presidente
Lula.
A reflexão é nossa, a partir das
nossas vivências desde aquele ano distante que mudou os destinos do Brasil.
50 ANOS ATRÁS - Em 1964 este que vos escreve tinha
apenas 7 anos de idade e morava numa pequena vila do interior do Nordeste. Não
tinha consciência do que estava acontecendo, mesmo porque no lugar em que
morava não mudou nada com a queda de Goulart e a subida dos militares ao poder.
Dois anos depois teve uma Copa do
Mundo e lembro que meu pai acompanhava os jogos pelo rádio. A Seleção Brasileira
venceu a Bulgária, perdeu para a Hungria e Portugal e voltou para casa mais
cedo. Os adultos ficaram tristes e no meu mundo não se falava em ditadura.
O AI-5, um ato que tornou a
ditadura menos branda, editado em 1968, só entrou na minha vida 10 ou mais anos
depois. As pessoas estavam indo para as prisões, mandatos parlamentares eram
cassados e o pau cantava nos porões do regime.
Em 1970, quando eu tinha apenas 13
anos, como os demais brasileiros acompanhei a minha primeira Copa do Mundo
pela televisão. O Brasil foi tricampeão e alegria tomou conta das ruas. Como
quase todos da minha casa eu desconhecia que o presidente era um ditador, que
possibilitou os piores momentos do regime militar.
Na campanha política de 1974,
quando Marcos Freire venceu a eleição para o senado, ouvi os primeiros
discursos contra o governo e em defesa da democracia. Ali comecei a perceber
que havia alguma coisa errada e mesmo não sendo ainda eleitor tomei o partido
dos que lutavam contra o arbítrio.
Quatro anos depois, morando no
Recife, fazendo o curso de jornalismo, era leitor do Pasquim, ouvia meus irmãos
e seus amigos e já tinha plena consciência de que a ditadura nos sufocava, não
nos deixava eleger governadores ou presidente da República, e qualquer
manifestação no Colégio ou Faculdade se tornava coisa perigosa, subversiva, que
podia render cadeia ou um interrogatório não muito agradável.
Definitivamente o jovem
universitário estava no campo da esquerda. Admirava Marcos Freire, Jarbas
Vasconcelos, Fernando Lyra, Cristina Tavares, Roberto Freire, Mansueto de
Lavor, Ulisses Guimarães, Alencar Furtado e todos daquele time que bradavam
contra a ditadura militar.
Mesmo sendo moço e mal informado,
achava terrível a cara e os gestos de Ernesto Geisel e fiquei consternado
quando ele editou o tal de “pacote de abril”, cassando os mandatos de
parlamentares legitimamente eleitos pelo povo. O crime dessa gente? Ser contra
o totalitarismo ou abrir a boca para dizer as verdades que incomodam...
Em Pernambuco Moura Cavalcanti
jogava a polícia e os cachorros em cima do povo, os estudantes se mobilizavam e
corriam riscos e uma das poucas vozes a se levantar contra o interventor era
Dom Hélder Câmara, um arcebispo macho pra cacete, que enfrentava os gorilas com
sua voz mansa, corpo franzino e baixa estatura.
CANSAÇO - Dez anos depois do golpe o povo já
estava cansado do governo militar e a prova disso é que em 74 deu uma vitória
estrondosa em todo o país ao MDB, o partido da oposição consentida. A Arena,
tido como “o maior partido do Ocidente”, saiu das urnas mais desmoralizado que
nordestino levando uma tapa na cara.
Mais uma década, em 1984, milhões
foram às ruas pedir “diretas já”. Significava que estava todo mundo de “saco
cheio” de ser tutelado, insatisfeito com a nomeação de generais para nos governar
e ansioso para eleger livremente o presidente da República.
O golpe foi dado com a desculpa de
nos livrar do comunismo, da subversão, mas na verdade representou outra coisa.
Foi uma vitória da direita reacionária, dos carolas que desejavam o mundo estagnado,
dos que tinham medo de uma reforma agrária e dos americanos, temerosos que um
país de dimensões continentais, como o Brasil, tivesse governantes alinhados ao
pensamento de Marx ou de Moscou. Hoje está provado que a CIA dos Estados Unidos
foi de importância vital para o sucesso da quartelada.
Os americanos depois, sempre tão
prestimosos, enviaram “técnicos” ao Brasil para capacitar os agentes
tupiniquins nas artes da tortura.
A ditadura não foi branda coisa
nenhuma. Não existe regime totalitário bonzinho. De direita ou de esquerda,
todo ditador afronta os direitos do homem, tira a nossa dignidade, nos impede
de caminhar com as próprias pernas.
Não interessa, nessa discussão,
saber se foi pior no Chile ou na Argentina. Fazer comparações com a Rússia de
Stalin ou a China de Mao Tse Tung também não faz sentido. O fato é que a
ditadura foi nefasta, prendeu, torturou e matou. Forçou muitos jovens a entrar
na luta armada e esses também terminaram cometendo crimes, nascendo a partir
daí uma guerra insana de brasileiros contra brasileiros.
Durante anos a ditadura emburreceu
milhões de brasileiros. Livros, ideias, filmes, músicas, teatro e política
passaram a condição de “malditos”, foram tidos como perigosos, restando ao povo
trabalhar de boca fechada, fazer sexo comportado e dar vazão a sua felicidade
tomando uma caprichada dose de cachaça, fumando alguma droga legalizada da
Souza Cruz e soltando o grito de gol aos domingos.
Quem sente saudades da ditadura,
achando que naqueles tempos havia ordem, a corrupção estava sob controle e a
inflação domada está enganado. A desordem era pior porque unilateral e não há
nada mais terrível do que ser impedido até de respirar. A inflação foi um dos
motivos que levou ao desgaste dos militares. E a violência e a corrupção eram
tão presentes quanto hoje, só que jogada para debaixo do tapete e ninguém podia
falar, sob o risco de ser acusado de subversivo e pegar uma cana.
A DEMOCRACIA - Nossa democracia ainda é muito
jovem. Nosso primeiro presidente civil, José Sarney, foi um filhote da ditadura.
O primeiro presidente eleito, Fernando Collor, também foi da Arena e não
representou a chegada ao poder de um verdadeiro democrata.
Fernando Henrique Cardoso foi na
verdade o primeiro dirigente do país saído das forças que combateram o regime
de exceção. Teve o Itamar, antes dele, mas além de estabanado teve um mandato
curto.
Lula foi o primeiro presidente
saído do povo. Forjado na luta, sofrido, independente dos seus defeitos nos
permitiu avanços, deu dignidade a milhões que antes viviam na miséria. Ainda
fez seu sucessor, a primeira mulher a ser eleita dirigente do país.
Graças aos que lutaram, aos que
morreram, aos que sonharam, hoje temos uma democracia. E o brasileiro pode,
conscientemente, fazer a sua escolha, tomar as rédeas do próprio destino.
Pode continuar com o PT de Dilma ou
mudar para o PSDB de Aécio ou o PSB de Eduardo Campos. A atual presidenta lutou
de armas nas mãos contra os militares. O segundo, mais jovem, é neto de Tancredo
Neves, que foi ministro de João Goulart e um moderado na luta contra a ditadura
militar. O terceiro, pernambucano, neto de um mito da esquerda no Brasil.
Arraes foi perseguido pelos golpistas de 64, ficou exilado 16 anos e voltou nas
asas da anistia para governar Pernambuco mais duas vezes e fazer seu herdeiro político.
É muito significativo que a direita
esteja sumida e não tenha uma candidato forte à presidência. Sinaliza para o
fiasco do golpe, da ditadura. A população brasileira, apesar de ser dopada pela
TV Globo e toda grande imprensa, sabe que 1964 não deixou boas lembranças, não
fez bem ao país. O povo quer olhar pra frente, quer avançar mais.
Se cansar do PT, como um dia cansou
dos militares, vai querer alguém que possa ir além.
No fundo, a grande maioria concorda
com uma coisa: 1964 nunca mais!
Ref. A 31 de março
ResponderExcluirSe os Generais da época tivesse seguido o plano de Castelo Branco, que era “arrumar a casa” e convocar as eleições diretas, não teria chegado ao que chegou, e muitas vidas teriam sido poupadas (dos dois lados). O problema é que os militares se embriagaram com o poder, e deram seguimento ao golpe por mais de vinte anos, e assim houve um desgaste muito grande das Forças Armadas (opinião pública), a ponto que até hoje os brasileiros não consegue esquecer, muito menos perdoar o golpe. Houve outros golpes na história Republicana, no entanto os militares da época saíram como verdadeiros heróis. Nunca devemos esquecer o artigo primeiro da Constituição Federal: “O Poder emana do Povo e em seu nome de ser exercido”.
Sales
Os Brasileiros de verdade não só esqueceram, como não tiveram nenhum problema com o regime militar, quem teve problema foram aqueles que recebiam verbas e treinamento em "CUBA" para tentar criar uma guerrilha dentro do Brasil defendendo os interesses CUBANOS, aliás como ainda hoje fazem. Meus pais, tios e avós estão aqui vivos até hoje sem nunca terem levado um peteleco no regime militar. Isso porque não eram metidos a revolucionáriozinhos de quinta, trabalhavam e tocavam suas vidas normalmente.
ExcluirQuem faz esse show ridículo em torno do regime militar até hoje são os mesmo palhaços que estão hoje no poder, que ditadura sanguinária foi essa que todos os perseguidos ainda estão vivos? O maior erro do regime militar foi ter sido brando demais e não ter exterminado toda essa corja esquerdista do poder no Brasil. Exatamente como eles fazem quando chegam no poder em qualquer país do mundo. Vejam quantos oposicionistas foram fuzilados em CUBA em 1958, 500 mil, no Brasil 400 desaparecidos, dos quais muitos foram mortos pelos próprios esquerdistas revolucionários da época, são tratados com um Status maior do que o HOLOCAUSTO da segunda guerra mundial.
MEU CARO E AMIGO, JORNALISTA E BLOGUEIRO, ROBERTO ALMEIDA.
ResponderExcluirVOCÊ FOI FELIZ EM FAZER ANÁLISE MINUCIOSA DOS FATOS E FENÔMENOS OCORRIDOS ENTRE NÓS NESTES 5O ANOS DE BRASIL ENTRE OS REGIMES DITATORIAIS E DEMOCRÁTICOS.
VOCÊ FALOU DE UMA FIGURA EXCEPCIONAL QUE FICOU POR MUITOS ANOS NA MINHA IMAGINAÇÃO E QUE MEU PAI( LUIZ BARBOSA DE CARVALHO) FALAVA MUITO PORQUE NÓS TÍNHAMOS UM MORADOR QUE MOROU EM RECIFE E VEIO EM LAGOA DO OURO E CONTAVA PARA NÓS QUE D. HÉLDER CÂMARA ERA UM COMUNISTA.
MOREI NA CASA DO ESTUDANTE DE PERNAMBUCO POR 6 ANOS E PASSAVA TODOS OS DIAS NA IGREJA DE D. HÉLDER CÂMARA E MUITAS VEZES FUI ASSISTIR AS SUAS PREGAÇÕES EM PROL DOS MAIS POBRES.
FOI QUANDO PASSEI A ESTUDAR UM POUCO SOBRE A VIDA PREGRESSA DE D. HÉLDER CÂMARA QUANDO O MESMO RECEBEU 32 TÍTULOS DE DOUTOR "HONORIS CAUSA".
A FRASE MAIS LÚCIDA E COERENTE QUE EU OUVI E VI ELE FALAR FOI A SEGUINTE: " MEUS IRMÃOS ORAI SEMPRE PORQUE O ESPÍRITO É FORTE , MAS A CARNE É FRACA".
FINALMENTE, FOI QUANDO EU PERCEBI E SENTI DE QUE NÃO SE TRATAVA DAQUELE BICHO PAPÃO QUE TODOS OS NOSSOS ANTEPASSADOS FALAVAM TANTO.
QUANDO EU ESTUDEI EM RECIFE COMO VOCÊ , NA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO NOS ANOS 80, EU FREQUENTAVA AS BIBLIOTECAS E PESQUISANDO UM LIVRO SOBRE "TORTURA NUNCA MAIS" , LIVRO ESTE QUE AINDA HOJE EU POSSUO PUDE COMPREENDER UM POUCO MELHOR DO MUNDO QUE NÓS VIVEMOS.
PAGUEI TAMBÉM MUITO CARO EM MINHA CIDADE POR DEFENDIDO A LIBERDADE DE EXPRESSÃO E MUITOS ME HUMILHARAM E ME MASSACRARAM. MUITAS DESSAS PESSOAS ERAM ESTÚPIDAS, IGNORANTES E CRUÉIS PARA COM OS HOMENS QUE SABIAM DE ALGUMA COISA. POR COMBATER A PRAGA DO VOTO COMPRADO FUI DERROTADO POR 6 VEZES DAS 8 DISPUTAS QUE TRAVEI EM NOSSA POLÍTICA PARA VEREADOR.
PARABÉNS PELO COMENTÁRIO LÚCIDO E ALTAMENTE CONSCIENTE E INTELIGENTE!
Concordo com meu amigo Sales, que aliás esqueceu do seu amigo, mesmo no acidente grave por que passei, mas estou aqui ainda contando histórias. Se os militares fizessem uma faxina, prendendo os ladrões da República (dentro da Lei) que na época já eram muitos, hoje não teríamos mais que o dobro.
ResponderExcluirQue belo texto e análise de como este período pelo qual o Brasil passou foi terrível e ao mesmo tempo massificante para grande parte da população do pais que nos interiores deste país muitos destes fatos passaram despercebidos e foi preciso muita coragem de alguns para lutar contra este regime.
ResponderExcluirNão Edmar, não esqueci não. fiquei sempre procurando noticias suas ao nosso amigo Givaldo, e ele me tranquilizou, dizendo que apesar do estado do caaro, mas você estaria bem. o que seu estado de saúde era tranquilizador, razão pela qual fiquei tranquilo, até porque existe aquela expressão popular que diz: !vai os anéis e que fique os dedos". Como era que ia esquecer de meu amigo! Deus continue lhe abençoando muito, e que lhe der muito anos de vida com muita saúde, pois Garanhuns e seus amigos precisam muito de você. Os bens matérias, nestas horas, é o que mens conta.
ResponderExcluirSales/GARANHUNS