CRÔNICA - ROMÂNTICO É UMA ESPÉCIE EM EXTINÇÃO

Romântico é uma espécie em extinção. Românticos são poucos,  são loucos desvairados. Que querem ser o outro, que pensam que o outro é o paraíso.

Românticos são lindos, são limpos e pirados. Que choram com baladas. Que amam sem vergonha e sem juízo. São tipos populares.

Não é um texto meu. É um trecho da letra de "Românticos", do mineiro Vander Lee.

Ele vivia em estado de poesia, como Chico César,  e deixou coisas lindas.

Os que têm sensibilidade amam.

Diz pra mim, se Londres não foi a tua solidão.

Poetas vivem só nos corações, são anjos, são pessoas, são Drummonds.

Eu olho pras estrelas, te vejo assim a vê-las, começo a cantar tua canção...

Essa segunda parte está na tradução de "London, London", de Caetano Veloso, feita pelo cantor romântico José Augusto.

Nesse mundo de agressões diárias, nas ruas e nas tais redes sociais ainda há espaço para a poesia, os românticos?

Quem lê tanta notícia...

Nem ao menos se sonhava com a internet e Caetano já advertia para o excesso de notícias ruins.

Agora a desgraça vem de todos os lados, atrás de likes, segundo a segundo.

De longe, do Japão, dos países africanos, dos Estados Unidos.

E assistimos ao vivo e em cores, pela telinha, parece que está acontecendo na nossa frente. E muitos perderam a capacidade de se indignar faz tempo.

Não faz muitos anos, policiais rodoviários mataram um deficiente mental,  trancando-o e  sufocando-o na mala de um carro.


Esta semana, três policiais gaúchos não tiveram a capacidade de conter um rapaz esquizofrênico em surto.

Acharam mais fácil atirar. E ainda saíram rindo, depois do corpo estendido no chão.

E aqui pertinho, em São Bento do Una, um homem de meia idade matou uma jovem de 26 anos, mãe de quatro filhos,  com golpes de martelo.

O que ela fez de errado?

Estava grávida dele.

Não tenho intenção de estragar o seu domingo.

Mas é o mundo em que estamos vivendo.

Vander Lee, José Augusto, Chico César, Caetano, nenhum deles rende muitas visualizações.

O crime, parece, compensa, pois os leitores preferem a bagaceira.

Por isso os sites policiais dão Ibope. Quem planta a desgraça colhe seguidores.

Românticos são poucos, são loucos, é uma espécie em extinção.

No Brasil, queridos leitores e leitoras, há a cultura de barbárie.

Um governador, de um estado poderoso, esta semana disse que diplomas cada vez são menos importantes.

Então o que importa? Talvez ser esperto, saber mentir, roubar, disfarçar, escapar das malhas da lei.

Estado de poesia? Aqui não.

Vivemos uma guerra. O fuzil, a metralhadora, o revólver, valem mais do que a caneta, o caderno, a métrica, a rima.

O próprio Estado mata, principalmente os mais pobres.

E a galera ainda aplaude.

Desculpem se estou sendo duro, verdadeiro, em pleno domingo.

É que românticos são uma espécie em extinção.

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