"Retratos Fantasmas" foi o filme brasileiro escolhido para concorrer ao Oscar, em 2024.
Quem primeiro me falou do longa foi minha ex-mulher, Judit Martins. Depois Roberta, minha filha também fez uma referência ao trabalho do pernambucano Kleber Mendonça Filho.
Li algumas resenhas em jornais tradicionais que sobrevivem na internet e também em sites especializados na sétima arte.
Conferi uma ou duas entrevistas do cineasta discorrendo sobre o filme, que chamou a atenção da crítica especializada, no Brasil e exterior.
Gosto do que Kleber Mendonça faz.
"O Som ao Redor" e "Aquarius" são bons filmes.
"Bacurau" já assisti duas vezes.
Realizado antes da eleição presidencial de 2018, de certa profetizou a ascensão do fascismo no país.
"Bacurau" é, mau comparado, o nosso "Os Imperdoáveis", sem Clint Eastwood, mocinhos ou vilões tradicionais. E sem o grande final.
Não sou crítico de cinema nem tenho a menor influência na Academia de Hollywood. Apenas gosto de bons filmes, de cinema de qualidade, com requintes de arte.
Acredito que "Retratos Fantasmas" merece e pode dar ao Brasil o seu primeiro Oscar.
O filme de Kleber Mendonça é uma pequena obra prima.
Muitos insistem em classificar este seu último trabalho como um documentário.
Diretor pernambucano não concorda. Depois de assistir o longa vejo que ele tem razão. Um trabalho com tom documental não é exatamente um documentário.
"Retratos Fantasmas" é mais um filme de memórias. Não só as de Kleber, mas também as minhas, dos meus irmãos, de amigos, de milhares ou até milhões de pessoas que viveram a realidade do Recife, ao longo de décadas.
É um registro histórico da capital pernambucana, a partir do bairro de Setúbal, até chegar no centro.
Os cinemas (o cinema), estão como que no centro da trama, se é que existe trama.
Quem frequentou a Livro Sete, andou pela Conde da Boa Vista, Rua da Aurora, Avenida Guararapes, viu o centro do Recife como um espaço importante da cidade e acompanhou a decadência do espaço não pode deixar de se identificar com "Retratos Fantasmas".
E não apenas isso: milhares (ou milhões) nos anos 50, 60, 70, 80 e 90 assistiram filmes que marcaram suas vidas nos cinemas do centro.
Ao ver o longa de Kleber Mendonça e as referências ao Art Palácio, lembrei logo de "O Grande Ditador", de Chaplin, que tive o prazer de conhecer no cinema da Rua do Sol, na época do general Ernesto Geisel, quando começava a abertura "lenta e gradual" do regime militar.
O São Luiz e seus vitrais, o espaço com vista para o Rio Capibaribe.
O Cine Moderno exibindo "Tubarão", no Veneza passando "Ghost", "De Volta para o Futuro" e, salvo engano, também "Uma Linda Mulher".
Há também poesia na produção nacional que vai concorrer ao Oscar. O texto do filme (e tem texto do início ao fim, tão importante quanto as imagens) é jornalístico, literário, bonito.
Um trabalho para e rever. Ao assistir novamente, é quase certo que vou manter minhas opiniões.
Impecável. Pode não ser perfeito, está mais para impecável mesmo.
Se fosse perfeito talvez ficasse chato. Então fico com impecável mesmo.
Porque as memórias dele (do cineasta) e nossas tocam a razão e o coração.
Tudo funciona bem, desde as imagens raras, de 30 anos atrás ou atuais, até a trilha sonora, que vai de Sidney Magal, no auge da carreira, a Nelson Ferreira com seu frevo Evocação.
Kleber Mendonça fez um hino de amor ao Recife em forma de filme. Produziu uma autobiografia e jogou na tela.
Com referências até aos filmes que foram lhe dando prestígio, nos últimos anos, como os já citados "O Som ao Redor" e "Aquarius".
Se dando ao direito de nos mostrar uma das famosas que ele conhece, Sônia Braga, principal atriz de "Aquarius".
No final faz uma brincadeira, com seus fantasmas, termina de forma leve, talvez para amenizar a tristeza de falar das transformações do centro do Recife ("tem gente que acha que o centro morreu"), do fechamento dos cinemas, do fim de uma época.
De um tempo com menos cinemas e mais igrejas. O crescimento dos evangélicos. Que ajudaram na eleição do falso messias. O filme não cita isso, nem precisa.
Se o Oscar vier ótimo. Bom para Kleber Mendonça, para Pernambuco e o Brasil.
Caso não venha, por ter concorrente melhor ou por mais uma injustiça da Academia, não muda nada. "Retratos Fantasmas" é um filme de muita qualidade, que fala do passado e do presente e certamente será ainda mais reconhecido no futuro.
Obrigado, Kleber Mendonça Filho!
(Para quem ainda não sabe, "Retratos Fantasmas" está em cartaz na Netflix).

🥰🥰🥰🥰👏👏👏
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