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TODOS NÓS TEMOS UMA LADY LAURA

O escritor Paulo César Araújo conta em seu excelente livro "Roberto Carlos Outra Vez", que o cantor e compositor, natural de Cachoeiro de Itapemirim, estava em Nova Iorque, sentindo-se muito só, triste, quando pegou o violão e lembrando da mãe, da infância, de quando tinha colo, começou a compor Lady Laura.

"Muitas vezes eu sinto vontade de ser novamente um menino e na hora do meu desespero chamar por você..."

Lançada em 1978, a música de Roberto homenageia a mãe, a costureira Laura Moreira Braga, natural de Mimoso, cidade do Espírito Santo, próxima a Cachoeiro de Itapemirim.

A canção, segundo Paulo César Araújo, foi sucesso imediato, principalmente entre as classes populares.

O jornalista e escritor entrevistou um peão de obra que cantarolava a música enquanto trabalhava e o homem explicou: "Gosto muito dessa letra porque me lembro de minha mãe".

As elites culturais do país, no entanto, torceram o nariz para "Lady Laura".

O autor da biografia de Roberto comenta que no Brasil não se assimila muito bem músicas em homenagens às mães.

De acordo com o escritor, ficou para os cantores considerados bregas cantar as figuras maternas, como fizeram Agnaldo Timóteo, Nelson Ned, Teixeirinha e o dramático Vicente Celestino, o pioneiro nesse tipo de canção.

Chico Buarque, alfineta Paulo César em seu livro, fez uma música cantando toda a linhagem paterna, desde o tataravô, até o pai, sem uma única citação a alguém da linhagem materna.

Não recebeu nenhuma crítica por isso, ao contrário de Roberto Carlos.

O escritor, contudo, ressalta que tivemos exceções nas elites culturais a respeito de Lady Laura.

Ele registra que Nara Leão, cantora intelectualizada de classe média alta, assim como o teatrólogo Nelson Rodrigues, gostaram muito da música de Roberto para Dona Laura e explicitaram isso.

Ao concluir o capítulo sobre como surgiu a canção e as reações a ela, o jornalista arrematou: "John Lennon e Paul McCartney fizeram músicas para suas mães e não receberam críticas por isso".

Paulo César foi muito feliz nas considerações que fez e mostrou como o Brasil é um país cheio de preconceitos sem sentido.

É brega elogiar a mãe? Eu, hein!

Eu reli o capítulo que inspirou este texto na sexta-feira, justamente no dia em que minha mãe completou 90 anos, rodeada de filhos, netos e bisnetas.

Ela que está na foto acima, com algumas das bisnetas. É a minha Lady Laura. 

Todos nós temos uma.

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