"Negro Gato" é uma música que tem história na música popular brasileira.
Foi gravada pela primeira vez por Renato e Seus Blue Caps, sem grande repercussão.
A canção é interpretada pelo grupo da Jovem Guarda sem muita garra e o arranjo também não é grande coisa.
Em 1966, Roberto Carlos gravou Negro Gato, numa versão muito superior à de Renato.
O artista, que tinha estourado definitivamente no Brasil, no ano anterior, com "Quero que vá Tudo pra o Inferno", fez da composição de Getúlio Côrtes um autêntico rock, cantando num tom rebelde, onde até os miados chamam atenção.
E o instrumental está à altura da boa interpretação de Roberto.
Anos depois Luís Melodia regravou a canção da década de 60, numa bela releitura da música.
O cantor via na letra um viés de protesto contra o racismo e a interpretou com este sentimento.
Getúlio Côrtes, no entanto, mesmo negro, como Melodia, revelou ter pensado apenas num gato mesmo.
Para o maestro Radamés Gnattali, que fez os arranjos da versão de Negro Gato em 1966, mesmo que inconscientemente o compositor refletiu a situação do negro na sociedade brasileira.
Faz sentido, principalmente quando atentamos para o verso "um dia lá no morro, pobre de mim"...
Ele morava, na época em que compôs a música, numa casa muito simples, com telhado de zinco e um gato preto começou a lhe atanazar com miados fortes.
Artista ainda pensou em matar o bichano, mas depois refletiu melhor, percebeu que seria uma maldade desnecessária e teve a ideia de compor "Negro Gato", sem lhe passar pela cabeça, no momento, que a canção viraria um clássico do pop e rock nacional.
O jornalista e escritor Paulo César Farias, que conta toda a história em torno do hit, informa que Getúlio (o nome foi uma homenagem do pai ao presidente Getúlio Vargas) era fã de histórias em quadrinhos, por isso nos anos 60 fez várias músicas inspirado pelas histórias dos gibis.
Côrtes é autor de Noite de Terror, Pega Ladrão, o Gênio e o Sósia, todas gravadas por Roberto Carlos, com letras que contam histórias engraçadas.
Depois, atendendo pedido de Roberto, o compositor faria canções mais românticas, como Quase Fui Lhe Procurar, O Tempo vai Apagar, Uma Palavra Amiga e Por Motivo de Força maior, todas também gravadas por RC.
Em 2018, já na faixa dos 80 anos, Getúlio gravou seu primeiro álbum, reunindo os clássicos que o brasileiro cinquentão ou sessentão conhece nas vozes de Roberto, Wanderléa, Renato e Seus Blue Caps, Jerry Adriani, Wanderley Cardoso, dentre outros.
Getúlio Côrtes nasceu no Rio de Janeiro. Em março próximo completa 84 anos.
Quanto ao "Negro Gato", possivelmente seu maior sucesso na carreira, foi regravada também por Marisa Monte, que acrescentou um toque de jazz ao rock de 1966.
É uma boa história, como está na letra, só não é de arrepiar.
"Salve o compositor popular!"
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