O CINEMA DE NOSSAS INFÂNCIA E JUVENTUDE EM GARANHUNS


Mais texto primoroso do economista Flávio Lyra, lembrando sua juventude em Garanhuns:

Brasília, 1º de fevereiro de 2021 (*)

Muitas das recordações de nossa infância e juventude em Garanhuns estão intimamente associadas aos filmes e aos programas de rádio que assistíamos. Os mais velhos de nós, devem lembrar da única sala de cinema que havia na cidade até o início dos anos 50: o cinema Trianon, localizado junto do mercado da carne, pejorativamente chamado de O Pulgueiro.

Nunca esqueço as primeiras idas às matinês de domingo. Meu pai nos dava três moedas de quinhentos reais, suficientes para pagar os ingressos dos três irmãos e comprar uma caixinha de chicletes de menta para cada um.
Alí, entre 1945 e 1950, assistimos aos filmes dos Três Patetas, os de Buster Keaton, os de Charles Chaplin, os de Tarzan e vários seriados: “O Caveira”, “Rin Tin Tin - O Grande Guerreiro”, “O Falcão do Deserto” etc. A verdade é que nós gostávamos mais dos seriados, seja porque mostravam um ambiente de aventuras, seja porque criavam um clima de expectativa sobre a forma como o mocinho iria sobreviver do perigo em se encontrava no final de cada capítulo. Durante a semana, ficávamos discutindo sobre o que aconteceria no próximo capítulo.

A cena do último capítulo de O Falcão do Deserto, no qual o mocinho salta no meio do salão com a espada empunhada e emite um grito guerra que interrompe o casamento de sua amada com seu irmão, que lhe havia usurpado o lugar de califa em Bagdá, passou a fazer parte de nossas conversas por muito tempo.

Em meados dos anos 50, a inauguração do Cine Jardim representou uma revolução na vida social da cidade. Sua ampla sala, fascinava a todos e fazia sentir-nos numa cidade grande e moderna. Era comum os garotos ficarem circulando em torno dos assentos até o início da exibição, para ver as garotas ao lado dos país, as quais muito mal correspondiam aos nossos olhares em busca de um sorriso.

Depois, veio o Cine Glória, na parte de baixo da Av. Santo Antônio, quando o Cinema Popular, já havia fechado as portas.

Na saída do Cine Jardim, os jovens formavam uma espécie de corredor polonês na esquina com Av. Santo Antônio, de modo a poder ver de perto as garotas, que passavam ao lado de seus sisudos pais.

Foram desse tempo, as películas mexicanas, onde figuravam os conjuntos Mariachis (Pedro Vargas, Chucho, Martinez, Trio los Panchos) cantando suas canções melosas. Mas, também de grandes atores como Arturo de Córdoba e a belíssima Maria Félix. Esta teria sido a musa inspiradora do famoso compositor Agustin Lara, que compôs para ela a canção “Maria Bonita” (“Acuerda-te de Acapulco, Maria bonita, Maria de l’alma...”). Não dá esquecer o grande ator mexicano, Cantinflas, com suas comédias baseadas na vida de um pobretão, sempre inspirado para chocar a elite com suas tiradas críticas e bem-humoradas.

Também foi a época dos grandes espetáculos como “Casablanca”, com Humphrey Bogart e a belíssima sueca, Ingrid Bergman. “Ben Hur”, “Os Dez Mandamentos” e os filmes sobre Sissy, a linda Imperatriz austríaca, com a bela Romy Schneider.

É esse também o tempo das pornochanchadas da Atlândida, com os inesquecíveis Oscarito e Grande Otelo. Quem não se recorda do galã Cil Farney e da bela atriz Eliana, assim como de Adelaide Chiozzo, sempre com sua sanfona? E a bela Vanja Orico, de O Cangaceiro, e Anselmo Duarte do “Pagador Promessas”, bem como da bela, Odete Lara, recém-falecida.

Eis, pois, como o cinema marcou nossas existências. Há um filme do grande diretor francês, François Resnais, chamado “Meu Tio da América”, focado na influência da conduta dos astros de Hollywood nas películas sobre o comportamento das pessoas.

(*) Reedição sobre texto original de 15.03.2015.
**Texto reproduzido da página de Flávio Lyra no Facebook.
***Foto: Blog de Anchieta Gueiros.

2 comentários:

  1. Nos faz sentir saudades, mesmo não tendo vivido essa época linda.

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  2. Nos faz sentir saudades, mesmo não tendo vivido essa época linda.

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