Longa reportagem publicada pelo site The Intercept,
nesta terça-feira, escancara a promiscuidade
entre os procuradores da Operação Lava Jato e a Rede Globo de televisão.
Conversas captadas no Telegram, periciadas e
atestadas como legítimas pela Polícia Federal, revelam o envolvimento do
procurador Deltan Dallagnol com jornalistas da Globo e um dos principais
executivos do grupo de comunicação, José Roberto Marinho.
Os diálogos deixam claro que os procuradores fizeram um jogo combinado com a TV Globo, que noticiava o que interessava aos integrantes da Lava Jato no Jornal Nacional, Fantástico, Ana Maria Braga, Faustão e demais noticiários ou programas da emissora líder de audiência.
Segundo o The Intercept, Deltan Dallagnol estava
obcecado pelo poder da Rede Globo no segundo semestre de 2015.
“As conversas do Telegram revelam que a obsessão de Dallagnol pela Globo convivia com outra: o projeto das dez medidas de combate à corrupção. Para o procurador e seus aliados, a série de mudanças legislativas iria fechar a porta para novos casos de corrupção, como o da Petrobras, e era uma mudança fundamental para transformar o país. Se houvesse apoio da mais influente organização de mídia do país, o projeto ganharia tração. “a globo é, como Vc diz, um transatlântico… não só para mudar de direção, mas também para impulsionar kkkk”, escreveu Dallagnol a um repórter da emissora em agosto daquele ano”, relata a reportagem do site.
O The Intercept prossegue em sua matéria devastadora:
“Deltan, jantei na semana passada com o José
Roberto Marinho (com quem tenho um ótimo contato desde a Rio +20) da Globo
e conversei sobre a campanha e novas formas de aprofundarmos a divulgação.
Falamos por alto em uma série no jornal nacional comparando os modelos de
combate a corrupção de outros países e mostrando como as 10 medidas aproximaria
o Brasil dos sistemas mais eficientes do mundo, mas há abertura para outras
ideias. O diretor executivo de jornalismo da Globo está em contato conosco para
conversar sobre o assunto. Vou fazer uma conversa inicial e colocá-lo em
contato com você tudo bem?”, escreveu um dos procuradores para
Deltan, em agosto de 2015, no grupo
Parceiros/MPF–10 Medidas.
“Shou heim”, vibrou Dallagnol.
Interessante a maneira como o procurador escrevia a
palavra show, nos diálogos pelo Telegram, uma espécie de WhatsApp dos figurões.
Muitos dos diálogos entre os procuradores são
transcritos na íntegra pelo The Intercept.
Confira abaixo uma das conversas, de 2015:
Dallagnol – 11:17:45 – Moro vai esperar para info em HCs
Dallagnol – 11:17:53 – E estou falando com JN
Athayde Costa – 11:20:36 – Cf passou para o Estadao
Costa – 11:21:39 – Brincadeirinha…..
Costa – 11:22:36 – to tentando com a tim os extratos de 2009 tb
Dallagnol – 11:29:52 – Limite pra passar pro JN é17h
Seguem trechos da reportagem do The Intercept:
Mesmo antes de terminar essa conversa, Dallagnol já falava com o jornalista da Globo para tratar do repasse da informação exclusiva:
No dia seguinte, ainda em chat privado com a
colega, Dallagnol lamentou que o encontro com Marinho lhe custaria cancelar um
debate marcado em uma igreja evangélica. “Há muitos evangélicos no RJ. É mto
importante ocupar esse espaço… só cancelei minha participação pq entendemos que
agora estrategicamente o Marinho pode render mais”. Dallagnol costumava pregar
sobre corrupção em suas viagens pelo Brasil.
Mais tarde, Dallagnol recorreu à sua assessoria com
outro pedido relacionado à Globo: “queria falar com Merval Pereira. Onde
ele fica? SP ou RJ? Queria uma conversa sem objeto definido, para ele nos
conhecer por uma conversa comigo. Vcs intermediam isso por favor?”
O encontro do procurador chefe da Lava Jato com João
Roberto Marinho foi marcado para o dia 25 de novembro, quarta-feira, na casa de
Joaquim Falcão, professor da Fundação Getúlio Vargas no Rio de Janeiro,
Foi um dia cheio para Dallagnol. Pela manhã, Merval Pereira
publicou um artigo que já trazia resultados da sua aproximação com a
empresa. O colunista (e membro do Conselho Editorial do Grupo Globo) levou para
as páginas de O Globo um texto intitulado “Atrás da prova concreta”, no qual
falava sobre como os procuradores discutiam nos bastidores a busca da Lava Jato
por provas sólidas para denunciar Lula. O texto trazia aspas de procuradores
anônimos e respostas para as críticas de que a operação demorava para avançar —
e mencionava as dez medidas de combate à corrupção como forma de consolidar os
avanços da Lava Jato.
Dallagnol comemorou o “fruto da conversa com Merval”, como
escreveu no Telegram a assessores, e mandou o link do artigo. “Já tinha lido.
Percebi seu “discurso oculto” na hora… rsrs”, respondeu um dos assessores.
No almoço, o procurador, enfim, teve o encontro com João
Roberto Marinho. A costura de agendas foi feita por Falcão, segundo Dallagnol
confessou a seus colegas, em tom casual, dois dias depois, pelo Telegram:
Outro diálogo de Deltan no
Telegram, em novembro de 2015:
Deltan Dallagnol – 12:42:27 – Caros esqueci de contar algo importante… Na correria, passou. Mas tem que ficar restrito. Almocei na quarta com João Roberto Marinho. É ele quem, segundo muitos, manda de fato na globo. Responsável pela área editorial do grupo. A pessoa que mais manda na área de comunicação no país. Quem marcou foi Joaquim Falcao. Para evitar repercussão negativa, foi na casa do Falcao. Falei do grupo, do trabalho e das medidas. Falei da guerra de comunicação que há no caso. Ele ouviu atentamente e deu seu apoio às 10 medidas. Vai abrir espaço de publicidade na globo gratuitamente.
As mensagens trocadas por Dallagnol com dezenas de pessoas
revelam que o procurador e João Roberto Marinho se tornaram interlocutores a
partir daquele almoço.
Os meses seguintes mostraram que a estratégia de recrutar
o grupo de comunicação como aliado foi um sucesso e componente fundamental para
a operação moldar a percepção pública e disseminar informações favoráveis. As
críticas praticamente desapareceram.
Por anos, a Globo trabalhou com a operação Lava Jato numa
parceria de benefício mútuo. O arquivo da Vaza Jato mostra que a força-tarefa
antecipava informações para jornalistas da emissora e dava dicas sobre como
achar detalhes quentes nas denúncias.
A Globo usava os furos para atrair audiência e servia como
uma plataforma para amplificar o ponto de vista dos procuradores. O espaço dado
à defesa dos suspeitos e investigados viraria nota de rodapé, e minguava a
esperada distância crítica que jornalistas precisam ter de suas fontes e de
grupos políticos que são tema de suas reportagens.
A parceria da Globo com a Lava Jato foi fundamental para
consolidar a imagem de heróis que procuradores e o ex-juiz e ex-ministro da
Justiça Sergio Moro sustentaram por anos.
Quando os trechos de delações — algumas delas até hoje não
homologadas pela justiça — continham acusações contra políticos, ganhavam as
manchetes da Globo, e da imprensa em geral, em letras garrafais. Mas, quando as
acusações se provaram falsas ou não puderam ser comprovadas — como ocorreu com
frequência —, não se noticiou o fim das suspeitas ou a absolvição de acusados
com o mesmo destaque, com consequências desastrosas para a reputação dos
envolvidos.
Nossa conclusão:
A promiscuidade entre a Globo e os procuradores levou a
ilegalidades, arbitrariedades de toda ordem e prática de jornalismo sem ética
por parte da mais importante emissora de TV do Brasil.
Jornalistas citados na reportagem, o próprio José Roberto
Marinho, procuradores e outros atingidos pelas revelações insistem no discurso –
o mesmo do ex-juiz Sérgio Moro – de não reconhecer as mensagens trocadas no
Telegram. E argumentar que o material foi obtido ilegalmente.
Acontece que agora as conversas hackeadas foram liberadas
por determinação de um ministro do Supremo e já foram periciadas e reconhecidas
como autênticas pelos peritos da Polícia Federal.
Antes amplo material já tinha sido divulgado pelo The
Intercept, Folha de São Paulo, Revista Veja, jornalista Reinaldo Azevedo e outros
veículos da grande imprensa.
Só a TV Globo nunca deu destaque a essas revelações. Envolvida
no mar de irregularidades, a emissora de televisão preferiu calar. Mas o Brasil
todo já sabe o que procuradores, juízes, jornalistas sem escrúpulos e outros
fizeram no verão passado. A casa literalmente caiu.
*Imagem: The Intercept

Nunca precisei de Intercept nem de vazamento pra saber que essa emissora nunca prestou e que sempre esteve a serviço do mercado financeiro. É nojenta, tendenciosa, golpista e golpeira.
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