Por Junior Almeida
Numa
campanha eleitoral de tempos atrás, um vereador de uma das cidades da região de
Garanhuns foi a campo em busca de votos que garantissem sua concorrida
reeleição. Botando seu carrinho velho, comprado exclusivamente para a campanha,
em estradas que muitas vezes não passava nem carro de boi, andando por veredas
espinhentas, tomando água barrenta em caneco de ágata, pagando e tomando
cachaça nas bodegas dos sítios, com tira gosto de toucinho ou passarinha, aguentando
conversa mole de pinguço e os muitos pidões, que em ano eleitoral parecem se
multiplicar, era essa a pisadinha do tal
político.
Mas
como diz o adágio popular, “quem tá na chuva é pra se molhar”, o sujeito não
desanimava, e ia à caça dos seus votos, tendo a consciência de que o jogo era
pesado e sujo.
Pois
bem, o vereador que em sua mocidade já tinha sido servente de pedreiro,
pedreiro, mestre de obras, evoluindo depois para construtor, uma espécie de
empreiteiro, de pequenas proporções, claro, era um homem vivido, que sabia
muito bem os custos de cada coisa, inclusive, quanto custaria, financeiramente
falando, o seu futuro mandato.
Chegando
numa residência na área rural, onde sabia ser o dono um pidão de carteirinha,
depois de receber alguns convites e recados, o vereador foi arriscar, para ver
se naquela família lhe rendia pelo menos um voto.
Muito
bem recebido, o político foi logo levado à cozinha, onde se sentou num
tamborete e tomou um cafezinho num copo americano, acompanhado de bolacha seca.
Todo mundo da casa na maior simpatia, homem mulher e menino, eram só sorrisos
pra ele. Macaco velho em política, ele sabia que ali viria coisa e, que
dificilmente sairia coelho daquela toca,
foi quando o dono da casa puxou um papel do bolso da camisa e foi direto ao
assunto:
-Olhe seu fulano, eu e
minha família vamos votar fechado no senhor. Vou me empenhar o máximo para o
amigo ser o vereador mais votado, mas preciso de umas coisinhas pra ajeitar meu
rancho... Disse o homem, entregando o papel ao vereador.
O
político, que como já dissemos, era construtor, leu o que estava escrito
naquele pedaço de papel: uma lista de material de construção, que ia do
alicerce ao telhado da casa. Fazendo uma conta rápida o homem percebeu que com
aquele valor ele poderia “comprar” votos de mais de cinquenta pessoas, então
perguntou:
-Eu
lhe dando esse material, o senhor acha que me arruma quantos votos?
-Ah, vereador! O senhor me
dando essas coisinhas aí, lhe garanto, de certeza, por baixo, uns trezentos
votos. Disse o animado eleitor pidão, achando que tinha
ferrado o matreiro político.
O
espirituoso candidato sem querer dizer não ao malandro eleitor, segurou firme o
tal papel, levantou-se, colocou a mão no ombro do pidão e disse:
-Amigo, eu estou
trabalhando muito, mas acho que não chego a ter essa votação. Vamos fazer o
seguinte: como você já tem trezentos votos garantidos, a partir de hoje você é
o candidato e eu vou trabalhar pra você.
*Foto meramente ilustrativa da
internet.
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