O professor e escritor Cláudio
Gonçalves prossegue com seu trabalho de prestigiar e divulgar personalidades
que se dedicam a produzir cultura em Garanhuns.
Na primeira entrevista, ele conversou
com um artista popular, o cordelista e poeta Gonzaga de Garanhuns; desta feita
ele nos traz o resultado de longa entrevista com Igor Cardoso (foto), pesquisador e
historiador, com trabalhos quase que inteiramente focados na história do
município.
Segue na íntegra o texto do professor
Cláudio:
Escritor,
pesquisador e historiador, autor da obra “Fernand Jouteux: O Maestro de Chapéu
de Couro e sua Bela Aliança”, Igor Cardoso é um estudioso da nossa História, um
dos destaques da nova geração de escritores de Garanhuns.
Simplicidade,
entusiasmo, dedicação e disciplina são marcas de Igor, que vem se revelando um
pesquisador competente e escritor-historiador dotado de vários dons e talentos.
Nesta
entrevista, Igor Cardoso nos revela alguns fatos da sua trajetória literária, o
amor pela literatura e a paixão pela memória de seu município, a qual esse
respeitado e admirado escritor garanhuense tem contribuído para sua divulgação,
preservação e produção.
Cláudio - Você nasceu em Garanhuns?
Como foi a sua infância?
Igor - Amigo Cláudio,
agradeço-lhe pela consideração e pela oportunidade. Sou natural de Garanhuns, e
nasci na Avenida Simoa Gomes, defronte para o Parque dos Eucaliptos, na
invernal noite do dia 4 de agosto de 1987, mais precisamente na antiga Casa de
Saúde Santa Terezinha. Filho de servidores públicos estaduais, constantemente
removidos, minha juventude se dividiu entre a terra natal, onde meus avós e a
grande família, sobretudo a materna, sempre moraram; e outros municípios do
Sertão e Agreste de Pernambuco. Assim, também residi em Floresta, Sertânia,
Arcoverde e Caruaru, onde concluí o Ensino Médio. Em todo caso, sempre voltava
para a casa de nossa família na Av. Caruaru, uma via acostumada a testemunhar
idas e vindas. Era por ela que passava o trem, e a rodoviária ainda se acha por
lá – as duas, aliás, a antiga e a nova. Minha vida tem sido toda assim: indo e
vindo, com minhas atenções, meu coração e minha inspiração arraigados em
Garanhuns.
Cláudio - Como surgiu a sua paixão
pela literatura?
Igor - Foi ainda na
infância, quando morávamos em Sertânia. Surgiu como desdobramento de um olhar
eminentemente estético. Desenvolvi muito cedo o gosto pelo desenho, e, de modo
espontâneo, meu traço sempre se deixou inspirar pela arquitetura e pelo
urbanismo da paisagem interiorana onde me criei. Pelos idos de 1997, passei a
fotografar as cidades que tinha oportunidade de conhecer, organizando as
imagens em três grandes álbuns que ainda conservo, e que me serviam de modelo
para desenhos a grafite. Da curiosidade pelo ambiente edificado, decorreu o
interesse pela história local.
Cláudio - Voltando um pouco no tempo,
quando foi que Igor Cardoso olhou para um livro e disse: “É isso mesmo que eu
quero ser, um escritor?”
Igor - Foi justamente
nessa época, por volta dos 10, 11 anos. De posse desses desenhos, resolvi
enfeixá-los em livro, sob o título de “Iconografia de Sertânia”, para o que
contei com o irrestrito apoio de meus pais. A ideia era reunir informações
sobre o município e ilustrar a obra com minha arte infantil. As visitas à
Biblioteca Pública e, principalmente, ao Museu Histórico e Artístico local –
este último, por sinal, tragicamente desaparecido após o falecimento de seu
mentor, o Sr. José Ramos, de quem guardo as mais gratas memórias; o contato,
enfim, com esse encantador e vastíssimo manancial de recordações, despertou-me
o fascínio pelo passado e o definitivo interesse pela pesquisa histórica. Tanto
que, se, na “Iconografia”, editada em 1998, o texto ainda dividia espaço equivalente
ao dos desenhos; na posterior monografia “Arcoverde: o Portal do Sertão”, de
2000, a pesquisa acabaria roubando completamente a cena.
Cláudio - Qual desses gêneros você
gosta de escrever: romances, contos, crônicas, poesias ou ensaios? Como define
o seu estilo de escrita?
Igor - Embora poeta
esporádico, é na prosa que realmente me encontro, em particular na narrativa
histórica, não-ficcional; na prosa informativa, mas também argumentativa e
contemplativa. Tenho predileção pelos anais e cronologias, pelas crônicas de
época e memórias, pela historiografia latu
sensu, enfim, e também pelas biografias. Não descarto, contudo, alguma
produção ficcional futura, talvez no gênero do romance histórico. Quanto ao
estilo, nossa saudosa amiga em comum, Luzinette Laporte, descreveu-o como um
“português puro e simples, correto”. Eterno apaixonado pela nossa língua e por
suas múltiplas possibilidades expressivas, inclino-me sempre para a norma
culta, buscando escrever em linguagem elegante e sóbria, porém procurando
evitar excessos de linguagem que possam embaraçar a compreensão.
Cláudio - Quais os escritores que
foram referência no início da sua produção literária?
Igor - Acredito que,
para todos nós, que nos dedicamos à preservação da memória garanhuense, Alfredo
Leite Cavalcanti é a grande inspiração e referência. A “História de Garanhuns”
foi meu livro de cabeceira durante toda a juventude, e, ainda hoje, ocupa lugar
de destaque em minha biblioteca. A seriedade da pesquisa levada a cabo por ele,
e a qualidade das fontes, constituem um verdadeiro divisor d’águas para a
produção historiográfica de nosso interior. Em momento mais recente, todavia,
mais especificamente quando retomei as pesquisas sobre o passado de nossa
terra, em 2010, foi a obra de Mário Márcio de Almeida Santos, “Anatomia de uma
Tragédia: a Hecatombe de Garanhuns”, que me causou a mais profunda impressão,
tanto pela precisão da narrativa, em admirável estilo, quanto pela profundidade
da pesquisa, análise e interpretação das informações. Eles são, sem dúvida,
minhas duas grandes referências.
Cláudio - Existe algum ideal de
escrita que você persiga?
Igor - Em termos mais
gerais, de conteúdo, tenho o grande ideal de resgatar episódios e personagens
de nossa história que julgo injustamente desprestigiados ou esquecidos. Em se
tratando de Garanhuns, você bem sabe, isso se traduz em uma missão verdadeiramente
colossal, mas não tenho pretensões de dar conta de tudo sozinho, nem de maneira
exaustiva ou terminativa. Penso que as sementes que, modestamente, conseguirmos
plantar, serão devidamente colhidas e, mais cedo ou mais tarde, germinarão e
frutificarão. Quanto à forma, ou ao método, persigo uma escrita lúcida, fiel às
fontes, porém esmerada mais em analisá-las e interpretá-las que em simplesmente
as elencar; isto é, que não resulte em um mero repositório acrítico e desconexo
de informações, mas procure desvendar suas nuances e sentidos.
Cláudio - O livro “Fernand Jouteux: o
Maestro de Chapéu de Couro” surpreendeu os leitores pelo seu talento literário
e pelo escritor-pesquisador, que resgatou a história desse grande nome da
música erudita nacional e que residiu em Garanhuns. O que levou o escritor Igor
Cardoso a escrever essa belíssima obra?
Igor - A princípio,
Cláudio, muito obrigado pela atenta leitura e pelos cumprimentos, que muito me
lisonjeiam. Sabe, certa feita, o biógrafo de Clarice Lispector, Benjamin Moser,
afirmou: “Se você anda aborrecido com a sua vida, escreva uma biografia, porque
você nunca sabe aonde ela vai te levar, e não só geograficamente”. Foi bem por
aí... Em minhas pesquisas, Garanhuns, via de regra, costuma ser o ponto de
partida – e, por vezes, também o de chegada –, porém o mais surpreendente é
para onde cada episódio histórico, cada personagem, acaba me levando. Eu já
havia lido algo, em um livro de memórias sobre nossa terra, acerca da presença
dos franceses Fernand e Magdeleine Jouteux na zona rural do antigo município,
compondo música erudita e cultivando café em sua fazenda “Bela Aliança”, em
Brejão, no início do século passado. A referência ficou guardada, e acabou
reaparecendo quando, ao pesquisar sobre a atuação de Ruber van der Linden e
Augusto Calheiros como pioneiros do rádio, descobri que o maestro havia sido
regente, na banda de música local, do famoso cantor. Decidi, então,
aprofundar-me a respeito da passagem dos Jouteux por Garanhuns, e a biografia
do maestro – inicialmente planejada para ser um singelo artigo –, levou-me,
intelectualmente, à França, à Amazônia e a uma turnê de Norte a Sul pelo
Brasil; e, fisicamente, às Minas Gerais, mais precisamente à barroca
Tiradentes, onde ele passou seus últimos anos. A acidentada saga de Fernand, no
afã de montar sua ópera “O Sertão”, inspirada na tragédia de Canudos, tem ares
de ficção. Flagrei-o “contracenando” com Valdemar de Oliveira, Lampião, padre
Cícero, Villa-Lobos, JK. Em verdade, a luta dele não é outra, senão a de todos
nós, que temos sonhos e os perseguimos até a última gota de nosso suor, em um
país que não valoriza, como deveria, a arte e a cultura. Uma trajetória assim,
inspiradora e memorável, não poderia continuar no esquecimento, nem caberia em
um artigo: merecia ser contada em detalhes.
Cláudio - Você é um dos sócios
fundadores do Instituto Histórico, Geográfico e Cultural de Garanhuns (IHGCG).
Como surgiu a ideia da criação da instituição? Qual o sentimento de ter
contribuído para esse ideal tornar-se realidade?
Igor - Nosso querido
Instituto é fruto da criativa e engajada mente do confrade Audálio Filho, que o
imaginou como um instrumento capaz de remediar o preocupante descaso para com a
memória de nossa terra, o qual se fizera sentir de maneira mais preocupante
naquele ano de 2011, ante a desoladora indiferença demonstrada por ocasião do
bicentenário da conquista de nossa autonomia política municipal, nos termos da
Carta Régia de 10 de março de 1811. A relevantíssima efeméride transcorrera sem
qualquer menção, oficial ou não, à exceção de um artigo veiculado no Blog do
Ronaldo César, de autoria do próprio Audálio, já anunciando a iniciativa de
criação do sodalício, com vistas à preservação da memória material e imaterial
do município. Conheci Audálio naquele mesmo ano – ambos, ele e eu, em busca dos
“Almanaques de Garanhuns” organizados por Ruber van der Linden, o qual,
inclusive, era considerado, em vida, uma verdadeira personificação do ainda
inexistente Instituto Arqueológico local –, e logo fui arregimentado para a
causa. Participei a reunião de fundação, ocorrida no inesquecível dia 22 de
dezembro de 2012, na sede da Academia de Letras de Garanhuns, nossa
instituição-anfitriã, ocasião em que foi debatido e aprovado o estatuto, e
eleita a primeira diretoria, tendo você à testa. Ter concorrido para a fundação
de nosso IHGCG é um dos grandes orgulhos que trago na vida. O Instituto nasceu
tímido, porém a nobreza de seus ideais logo se fez sentir, cativando uma
sociedade garanhuense cada vez mais mobilizada para a preservação de sua
memória.
Cláudio - Atualmente você é um dos
imortais da Academia de Letras de Garanhuns (ALG). Conte-nos como foi ser
convidado para ocupar a cadeira do memorável escritor Mário Márcio de Almeida
Santos.
Igor - Foi uma honra
imensa, e outro de meus grandes orgulhos. É curioso porque, desde pequeno, eu
achava lindo o edifício-sede de nossa Academia. Sempre que, no trajeto da casa
de nossa família para o centro, nós passávamos defronte à ALG, a edificação
capturava minha atenção; quando meu pai me explicou o que ela era, então,
passei a “paquerá-la” com mais intensidade. É bem verdade que imaginava que
talvez tardasse um pouco mais para, um dia, tentar acesso a seus quadros, mas,
àquela altura, já me interessava muito pela nossa cidade, por sua história.
Tempos depois, descobri que meus tios Raimundo e Humberto de Moraes haviam
participado processo de fundação, instalação e consolidação do sodalício, e
desenvolvi uma espécie de ligação espiritual com a instituição. Passei a me
sentir parte da proposta; a guardar, desde antes mesmo de ingressar, uma
espécie de compromisso espiritual para com ela. A oportunidade de ocupar a
cadeira patronal de Mário Márcio – escritor cuja obra, em boa parte, ou é
inspirada, ou está ambientada em Garanhuns –, foi a chave-de-ouro, e decorreu
de duas palestras que eu havia realizado sobre ele no ano de 2017, por ocasião
do Centenário da Hecatombe – evento tão bem coordenado por você. A trágica
partida de Mário Márcio, em 2015, seguida de um incômodo silêncio em Garanhuns,
e a oportunidade única do centenário, levaram-me a querer trazê-lo, de alguma
forma, para as solenidades. Estávamos muito bem representados por você e pelos
demais confrades, porém, quando me foi feito o convite para falar na Bienal
Internacional do Livro do Agreste, escolhi justamente discorrer sobre ele. E me
aprofundei na obra; encontrei-me com uma das filhas dele, Maria Letícia, que me
transmitiu muitas informações. Ministrei a palestra na Bienal e, logo depois,
no Festival de Inverno, na programação do Instituto. E foi sob o impacto desse
resgate que fui convidado a integrar os quadros de nossa decana Academia, a
mais antiga do interior de Pernambuco, em cadeira especialmente criada para
ele, e da qual tenho a felicidade de ser o primeiro ocupante.
Cláudio - Você faz parte de outras
instituições de preservação da memória?
Igor - Sim. A primeira
instituição à qual me vinculei foi ao Centro de Estudos de História Municipal
(CEHM), da Agência CONDEPE-FIDEM do Governo de Pernambuco, ainda na
pré-adolescência. É que, quando nós íamos passar as férias escolares no Recife,
eu sempre pedia a meu pai para me levar lá, a fim de adquirir os livros do
vasto programa editorial do CEHM, mantido desde 1976, todos sobre a memória de
nossos municípios pernambucanos – inclusive, quatro importantes obras para a
historiografia garanhuense: a edição em tomo único da “História de Garanhuns”,
de Alfredo Leite Cavalcanti; “Garanhuns do Meu Tempo”, de Alfredo Vieira; “Os
Aldeões de Garanhuns”, de Alberto da Silva Rêgo; e, mais recentemente, “Fatos
de Miracica”, de Hugo Pereira e Osmar Paulino. Faço parte do CEHM desde os
treze anos de idade. Mais recentemente, fui convidado a integrar os quadros do
decano Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano (IAHGP), que
é o mais antigo entre os congêneres estaduais, fundado em 1862; e também do
Instituto Histórico de Olinda (IHO), que é de 1951, e do qual Mário Márcio
também fez parte.
Cláudio - Sempre existe uma
curiosidade dos leitores a respeito do processo de criação dos escritores. Você
poderia nos contar como é o processo criativo de seus livros?
Igor - Acho que, para
nós, que lidamos com narrativas históricas, o enredo acaba se desenhando ao
longo da pesquisa. Em se tratando de biografias, como no caso do “Fernand
Jouteux”, embora a narração seja cronológica, tampouco deixa de ser organizada
por temas: optei por acompanhar a existência do maestro em suas etapas
sucessivas, mas antecipei, em alguns capítulos, alguns desdobramentos futuros,
dada a pertinência temática. Também preferi narrar os fatos em capítulos
curtos, conquanto densos, com vistas a proporcionar fluidez ao leitor. Nos
últimos anos, por outro lado, tenho trabalhado na biografia de um poeta
garanhuense, e, justamente por se tratar de um trovador, penso em ancorar os
capítulos em versos de seus poemas, bastante sugestivos de sua personalidade e
de sua visão de mundo. Será uma “biografia poética”, como gosto de chamá-la.
Cláudio - Na sua trajetória literária,
qual o momento marcante vivido pelo escritor Igor Cardoso?
Igor - Coleciono
alguns. Um deles foi a oportunidade de entrevistar quatro dos filhos de Ruber
van der Linden – dos quais, infelizmente, três já nos deixaram –, que residiam
em Estados diferentes do Brasil: Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco e Rio de
Janeiro. Eu acabaria voltando a Minas para outro momento muito marcante:
concluir a pesquisa sobre o maestro, ocasião em que fui recebido com todas as
honras no Instituto Histórico e Geográfico de Tiradentes (IHGT), onde me foi franqueado
pleno acesso à documentação ali depositada. Mais recentemente, vivi uma
situação inusitada: a pesquisa me levou ao arquivo do Hospital Ulysses
Pernambucano, na Tamarineira. Nunca havia estado em um hospital psiquiátrico
antes. Depois disso, passei a dar ainda mais razão a Moser: A gente nunca sabe
por que caminhos uma biografia irá nos levar...
Cláudio - Você tem realizado muitas
palestras e trabalhos divulgando a História de Garanhuns, como a “Revista
Ruber”, que você organizou e foi lançada pelo Instituto Histórico, Geográfico e
Cultural de Garanhuns. A história de Garanhuns e seus personagens é uma das
maiores inspirações para seus livros?
Igor - Sim. Embora eu
me interesse pela História de Pernambuco como um todo, e, em particular, pela
dos municípios do interior, minha grande fonte de inspiração é a terrinha.
Certa vez, um grande amigo até me disse: “Garanhuns é, para você, uma espécie
de laboratório do mundo inteiro, onde você experimenta todos os temas e teorias
que tocam a sua sensibilidade, e o melhor é que a cidade tem fôlego para
corresponder a isso”. A “Revista Ruber”, por exemplo, surgiu da necessidade de
o Instituto ter um órgão oficial de divulgação de suas atividades e da produção
intelectual de seus sócios. A única exigência era a de que a matéria tratada
abordasse a memória de Garanhuns, o que de fato ocorreu, porém chama atenção a
variedade dos assuntos tratados: desde recordações pessoais a temas universais,
que, em muito, superam as fronteiras municipais, a exemplo das repercussões da
Segunda Guerra Mundial. Já dizia o grande escritor russo Liev Tolstói: “Se
queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia”.
Cláudio - Você é um grande estudioso
dos personagens históricos de Garanhuns. Poderia destacar alguns deles?
Igor - Garanhuns sempre
foi pródiga em reunir filhos, naturais ou adotivos, dignos de louvor. E,
felizmente, também parece, quase sempre, ter sabido honrá-los nas designações
de seus equipamentos urbanos e logradouros, perpetuando-lhes, assim, a memória.
Sob o ponto de vista político, o rol de ilustres personagens históricos já se
inicia pela fundadora Simoa Gomes; seguindo pelo governador Caetano Pinto de Miranda
Montenegro e pelo ouvidor José Marques da Costa; pelo capitão-mor Luiz Tenório
de Albuquerque; pelo Barão de Nazaré; pelos chefes políticos das famílias
Cavalcanti de Albuquerque, Melo Peixoto, Correia Brasil, Souto, Jardim,
Gueiros; chegando aos grandes prefeitos Euclides Dourado, Celso Galvão, Luiz
Souto Dourado, Ivo Amaral, apenas para citar. Para além do espectro político,
encontramos figuras do porte do cientista Ruber van der Linden, a quem
Garanhuns tanto deve; do empreendedor dr. Tavares Correia, e de sua filha, a
jornalista Cristina Tavares; dos literatos Celso Vieira, Luís Jardim, Luzilá
Gonçalves Ferreira, Luzinette Laporte, Waldimir Maia Leite; dos poetas Arthur
Brasiliense Maia, Belarmino Dourado, Cecília Rodrigues, Jerônimo Gueiros, Luiz Brasil,
Narcisa Coelho e Paulo Gervais; dos intelectuais Raimundo e Humberto de Moraes;
do historiógrafo Alfredo Leite Cavalcanti; do cantor Augusto Calheiros e do
mestre sanfoneiro Dominguinhos. E essa lista não para... A propósito,
contribuição bastante valiosa a esse respeito foi a prestada por Alberto Rêgo,
em seu clássico “Os Aldeões de Garanhuns”.
Cláudio - Como você avalia a
literatura em Garanhuns e de nossa região?
Igor - É fortíssima:
além de tradição, tem enorme qualidade. Garanhuns sempre se percebeu como uma
cidade distinta das de seu entorno, e não apenas pelas condições geográficas
privilegiadas, senão pelo que, na década de 1930, motivaria o juiz Edmundo
Jordão a escrever o artigo intitulado “O Primado da Inteligência Garanhuense”,
identificando nos três colégios, hoje centenários, a principal fonte do filão
de garanhuenses notáveis nos mais diversos campos do saber. Reputando-se “culta
e civilizada”, a cidade chegou a ter uma das imprensas matutas mais ativas de
Pernambuco, com jornal diário e periódicos voltados apenas à divulgação
literária, a exemplo de “O Bibliófilo”. A excelência de nossa literatura
tampouco passou despercebida além-fronteiras, não sendo de surpreender que
escritores como Luís Jardim, Luzilá Gonçalves e Luzinette Laporte tenham
arrebatado praticamente todos os prêmios aos quais concorreram – alguns deles,
inclusive, concedidos pela prestigiosa Academia Brasileira de Letras (ABL). O
fato de, nos últimos anos, escritores da envergadura de Amâncio Siqueira,
Helder Herik, Ivonete Batista Xavier, Jodeval Duarte, Manoel Neto Teixeira,
Marcílio Reinaux, Mário Rodrigues, Nivaldo Tenório, Paulo Gervais, Wagner
Marques, virem granjeando diversas premiações estaduais e nacionais, apenas
evidencia o histórico primado de nossa literatura.
Cláudio - Quais os planos literários
para o futuro? Já está trabalhando em alguma nova obra?
Igor - Sim. Para este
ano, é esperada a “Bibliografia Municipal Pernambucana”, obra em coautoria com
o professor José Luiz Delgado, fundador do CEHM, na qual procuramos, ao longo
dos últimos três anos, inventariar toda a produção bibliográfica relativa aos
municípios de nosso Estado. Para o futuro, estou trabalhando em uma série
histórica sobre a poesia garanhuense, em três tomos, ademais de outros projetos.
Cláudio - Para quem pretende escrever
seu primeiro livro, o que você recomendaria?
Igor
- É plausível que todos nós, em nossas unicidades, tenhamos algo a dizer, a
acrescentar à experiência humana, a partir de nossa ímpar leitura do mundo.
Escrever é transformar isso em um enredo, que tem de contar uma história ao
leitor, com início, meio e fim. A escrita tanto é conteúdo quanto forma, e
demanda algum preparo prévio. Aos que se interessam por ficção, recomendaria a
leitura de clássicos literários; aos historiógrafos, a leitura de obras de
referência, com as respectivas revisões críticas, em cotejo com uma pesquisa
sólida. Escrever também demanda disciplina. Recomendaria reservar um horário
diário para isso, de modo a criar uma rotina de investimento mínimo de tempo,
porém sem exageros, pois nosso cérebro também precisa descansar para poder
render seu melhor.
Cláudio - Uma mensagem para os seus
leitores e admiradores.
Igor - “Ad Altiora
Tendere”: tendamos sempre às alturas, seguindo o magnífico exemplo de Simoa
Gomes! Um forte abraço a todos!
Muito obrigado, Cláudio, Roberto e Anchieta, pela lembrança e pela oportunidade! "Ad Altiora Tendere"!
ResponderExcluir