Reisado de Mestre Gonzaga
São Bento do Una, terra do cantor Alceu Valença e do escritor Gilvan Lemos, mantém a tradição do reisado, uma das manifestações mais ricas do folclore nordestino, presente ainda hoje em muitas cidades da região, principalmente neste período de natal.
No dia 22, em São Bento, dentro da programação natalina da cidade, irão se apresentar os reisados de Mestre Gonzaga, de Garanhuns, e o de mestre Livino, da Maniçoba, povoado pertence a Capoeiras. Os dois grupos têm uma tradição de muitos anos e têm se apresentado fora da época natalina em eventos de peso, como o Festival de Inverno.
Festa em São Bento terá ainda a apresentação do Reisado de Mestre Bernardino. Infelizmente nem o cartaz de divulgação da festa, o material distribuído pela Secretaria de Cultura do Estado, nem o Google trazem maiores informações sobre este último grupo.
Evento em São Bento do Una é uma realização do Governo de Pernambuco, através da Fundarpe, com apoio da Prefeitura do Município.
Lúcia Gaspar, da Fundação Joaquim
Nabuco, escreveu um artigo detalhado sobre o Reisado, que reproduzimos abaixo:
Luís da Câmara Cascudo, no
seu Dicionário do folclore brasileiro, diz que Reisado é a
denominação erudita para os grupos que cantam e dançam na véspera e Dia de
Reis.
MESTRE LIVINO |
O Reisado chegou ao
Brasil através dos colonizadores portugueses, que ainda conservam a tradição em
suas pequenas aldeias, celebrando o nascimento do Menino Jesus. Em Portugal
é conhecido como Reisada ou Reseiro.
No Brasil é uma
espécie de revista popular, recheada de histórias folclóricas, mas sua essência
continua a mesma, com uma mistura de temas sacros e profanos.
O Reisado é formado
por um grupo de músicos, cantores e dançarinos que percorrem as ruas das
cidades e até propriedades rurais, de porta em porta, anunciando a chegada do
Messias, pedindo prendas e fazendo louvações aos donos das casas por onde
passam.
A denominação de
Reisado persiste ainda em Alagoas, Sergipe e Bahia. Em diversas outras regiões
o folguedo é chamado de Bumba-meu-boi, Boi de Reis, Boi-Bumbá ou
simplesmente, Boi. Em São Paulo é conhecido como Folia
de Reis, onde a festa é composta de apresentações de grupos de
músicos e cantores, todos com roupas coloridas, entoando versos sobre o
nascimento de Jesus Cristo,
liderados por um mestre.
liderados por um mestre.
Fazem parte do
espetáculo os “entremeios” (corruptela de entremezes), pequenas encenações
dramáticas que são intercaladas com a execução de peças, embaixadas e batalhas.
Os personagens são tipos humanos ou animais e seres fantásticos humanizados,
cheios de energia e determinação.
O folguedo do ciclo natalino
é comemorado em várias regiões brasileiras, principalmente no Norte
e Nordeste, onde ganhou cores, formas e
sons regionais. Em Alagoas, constitui-se numa representação dramática,
normalmente curta e pobre de enredo, acompanhada e precedida de
canto.
Em Sergipe, é apresentado em
qualquer época do ano e não apenas nas festas de Natal e Reis. Os temas de seu
enredo variam de acordo com o lugar e o período em que são encenados: amor,
guerra, religião, entre outros.
O Reisado apresenta diversas
modalidades e é composto de várias partes: a abertura ou abrição
de porta; entrada; louvação ao Divino; chamadas do rei; peças de sala; danças;
guerra; as sortes; encerramento da função.
A música no Reisado está sempre
presente. O Mestre é o solista, sendo respondido pelo coro a
duas vozes. Os instrumentos utilizados alternadamente são: a sanfona, o tambor,
a zabumba, a viola, a rebeca ou violão, o ganzá, pandeiros, pífanos e os
“maracás”, chocalhos feitos de lata, enfeitados com fitas coloridas.
Há uma grande variedade de passos nas
danças do Reisado, entre os quais pode-se destacar: do Gingá, onde
os figurantes de cócoras se balançam e gingam; da Maquila, um pulo
pequeno com as pernas cruzadas e balanços alternados do corpo para os lados,
passo também exibido pelos caboclinhos;Corrupio, movimento de
pião com o calcanhar esquerdo; Encruzado, cruzando-se as pernas ora
a direita à frente da esquerda, ora ao contrário.
Tem como personagens principais o Mestre,
o Rei e a Rainha, oContramestre, os Mateus,
a Catirina, figuras e moleques.
O Mestre é o regente
do espetáculo. Utilizando apitos, gestos e ordens, comanda a entrada e saída de
peças e o andamento das execuções musicais. Usa um chapéu forrado de cetim, de
aba dobrada na testa (como o dos cangaceiros), adornado com muitos espelhinhos,
bordados dourados e flores artificiais, de onde pendem fitas compridas de
várias cores; saiote de cetim ou cetineta de cores vivas, até a altura dos
joelhos, enfeitado com gregas e galões, tendo por baixo saia branca, com
babados; blusa, peitoral e capa.
O traje do Rei deve
ser mais bonito e enfeitado. Veste saiote ou calção e blusa de mangas compridas
de cores iguais, peitoral, manto de cores diferentes em tecido brilhante (cetim
ou laquê);calça sapato tênis (tipo conga), meiões coloridos e na cabeça uma
coroa feita nos moldes das dos reis ocidentais, semelhante a das outras
figuras, porém encimada por uma cruz; levam nas mãos uma espada e,
às vezes, também um cetro. Durante o cortejo os Reis vêm na
frente, logo atrás do Mestre e do Contramestre. A Rainha é
representada por uma menina, com vestido “de festa”, branco ou rosa, uma coroa
na cabeça e um ramalhete de flores nas mãos.
O Contramestre é o
responsável pelo Reisado na ausência do Mestre. Seu traje é
semelhante ao daquele, só que menos pomposo.
Os Mateus, que sempre
aparecem em dupla, usam trajes diferentes dos outros figurantes: vestem paletós
e calças de tecido xadrez, usam um grande chapéu afunilado que chamam de cafuringa,
com espelhos e fitas coloridas, óculos escuros, rosto pintado de preto,
geralmente com tisna de panela ou vaselina e levam nas mãos os pandeiros. São
os personagens cômicos do Reisado, junto com a Catirina.
Conhecida antigamente como Lica,
a Catirina é a noiva do Mateus. Veste-se de preto, traz um
pano amarrado na cabeça, o rosto pintado de preto e um chicote nas mãos, com o
qual corre atrás das moças e crianças.
As outras figuras formam o coro do
Reisado, que participam ativamente apenas nas batalhas, nas danças e no canto,
quando respondem ao solo do Mestre. Formam duas fileiras simétricas,
organizadas hierarquicamente e posicionadas uma do lado direito outra do lado
esquerdo do Mestre.
É uma das tradições populares mais ricas e apreciadas do folclore brasileiro, principalmente na região Nordeste.
É uma das tradições populares mais ricas e apreciadas do folclore brasileiro, principalmente na região Nordeste.
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