Jornalista Magno Martins publicou hoje uma excelente entrevista
com o ex-deputado Inocêncio Oliveira, que está com 81 anos e demonstra estar muito lúcido e atento ao que
acontece na política de Pernambuco e do Brasil.
Inocêncio conviveu com Jair Bolsonaro na Câmara Federal e
conhece bem o atual presidente do Brasil.
Apesar de ter se dado bem com o político da direita, o
ex-parlamentar pernambucano não fez uma avaliação muito positiva do Governo
Federal. Considera Bolsonaro um maluco e disse que os filhos do presidente só
atrapalham a gestão.
Com relação ao Governo de Pernambuco e a Prefeitura do Recife,
foi crítico. Acha que o PSB já cansou, embora admita que a oposição ainda não
tem um nome de peso para se contrapor aos socialistas.
Para Inocêncio, a morte de Eduardo Campos, a seu ver o “Pelé da
política”, deixou um vácuo muito grande no Estado que ainda não foi preenchido.
A seguir a entrevista feita por Magno Martins, na íntegra:
Como está Inocêncio Oliveira?
Estou
muito bem, recuperei bastante minha articulação do joelho, com sessões de
fisioterapia três vezes por semana. Continuo com dificuldades de audição, chaga
que herdei para cima e para baixo em aviões. Faço dieta, exames regulares e
curto bastante meus netos, a família. Permaneço um devorador de livros e de
notícias. Seu blog, por exemplo, eu acesso aqui (tira o celular do bolso e o
exibe).
Sente saudade do Congresso
Nacional?
Nenhuma!
Aliás, o Congresso baixou demais o seu nível, perdeu autonomia e lideranças
expressivas. É triste assistir, hoje, o Judiciário interferindo no parlamento e
legislando. No meu tempo, as interferências do Supremo eram raras, porque
existiam lideranças que impunham respeito, um Ulysses Guimarães, por exemplo,
que tanta falta faz. Ele dizia que quanto mais o tempo avançava, mais o
parlamento brasileiro tendia a perder o tempero da eloqüência. Dizia: “Estais
achando ruim esta legislatura? Espere a próxima”.
O senhor sente vergonha, então,
do atual Congresso?
Não
se trata de vergonha, mas de desapontamento. Bate uma tristeza enorme olhar
para um Senado presidido por Davi Alcolumbre, com quem convivi na Câmara, ele
deputado pelo Amapá. Nada contra a pessoa dele, mas não tem um predicativo
elementar para tocar com firmeza o Senado: liderança. É mais um desses
personagens da política que surgem do nada e não adquirem o respeito da
sociedade brasileira. Já Rodrigo Maia, presidente da Câmara, filho de um grande
amigo, o ex-prefeito do Rio, César Maia, impôs autoridade e, não fosse ele, a reforma
da Previdência não teria saído. Foi um gigante, bateu de frente com o Governo,
como eu na época em que presidi a Casa, e se houvesse o sistema parlamentarista
no País com certeza ele seria o primeiro-ministro.
Qual sua avaliação do Governo
Bolsonaro?
Convivi
com Bolsonaro ele deputado pelo Rio e eu, já em cargos na mesa diretora da
Câmara, de forma respeitosa e amiga. Ninguém lhe dava crédito, ninguém,
presidindo as sessões em plenário, abria o microfone para ele, com raras
exceções, como eu, para suas verborragias. Não tinha credibilidade, nem espaço
na mídia. Sua eleição repentina foi obra da frustração brasileira com o PT,
partido que se arvorou do poder para promover falcatruas e escrever o capítulo
mais triste e escandaloso de corrupção na história recente do País. Acho seu
Governo razoável, com mais acertos do que erros na política econômica. O seu
grande problema não é virar a página da recessão e da falta de investimentos,
mas sim os filhos.
Como assim?
Os
filhos atrapalham muito, ele se curva às viagens delirantes dos filhos, que
parecem loucos. Por falar em loucura, acho que Bolsonaro tem um parafuso solto
na cabeça, com decisões e declarações que nos remetem a concluir que é doido,
não tem um pingo de juízo. Sou daqueles que torcem para enxergar uma luz ao
final do túnel, mas quando a gente imagina que algo pode dar certo neste
Governo os filhos do presidente botam a sua colher e empanzinam o tempero.
Filhos não são feitos para gerar problemas, mas soluções, principalmente em se
tratando da coisa pública. Se Bolsonaro tivesse pulso com os seus filhos, e não
fosse se submeter a caprichos, nunca teria admitido em nomear um deles
embaixador brasileiro nos Estados Unidos. Uma pouca vergonha na cara!
Entrando nas questões do Estado,
o governador Paulo Câmara faz uma gestão palatável ao seu estômago?
Olha,
Magno, eu acho que o governador é um cidadão bastante educado e gentil, diria
se tratar de um verdadeiro gentleman, mas sua administração, mesmo que tenha
alguns acertos aqui e acolá, se exauriu, porque não impôs a sua marca. Oliveira
Lima dizia que ninguém governa governador, mas este não parece ser um conceito
adaptado nos dias atuais a Pernambuco. Pernambuco empobreceu muito no campo
administrativo e político. Nós perdemos de forma precoce, inesperada e chocante
o Pelé da política, o nosso Eduardo Campos, Brasil perdeu o seu Pelé. Podem
jogar pedras em Eduardo por um motivo ou outro, por desacertos que são normais
na vida pública, mas ninguém pode deixar de reconhecer que ele era um craque na
armação do jogo político. Com a sua morte se abriu um vácuo político nunca
visto na história de Pernambuco. Junto ao seu corpo no túmulo enterraram a
liderança de Pernambuco na vida nacional.
Geraldo Júlio elege o sucessor
no Recife?
Tenho
minhas dúvidas, o cenário que se apresenta é de uma cortina de fogo ardente
para o PSB, porque o pernambucano está saturado de PSB, quase 16 anos no poder
estadual, oito na Prefeitura do Recife, isso ninguém aguenta. O rodízio na
gestão pública é elementar.
O senhor não teme pelo duro
julgamento, já que faz parte da conjuntura política do poder e tem parentes
próximos, como o deputado Sebastião Oliveira, com aliados ocupando cargos?
Quando
pendurei as chuteiras deixei de fazer indicações políticas. Não tenho um só
cargo neste Governo nem na Prefeitura. Até me pediram indicações, mas eu não
quis. Deixa-me ficar aqui no meu canto quieto, estou em outro plano da vida. Eu
só estou dando esses pitacos porque você, como repórter inquieto e que adora
polêmicas, gosta de atiçar, me procurou. Se Sebastião tem cargos, hoje, é por
indicação da autoridade que lhe compete como parlamentar da base governista. Eu
não temo poderosos, Magno. Para quem saiu como eu, lá do Sertão, negro, gago e
discriminado, não temo nada. Tenho que me curvar a Deus todos os dias, como
faço (aponta para uma santa em seu gabinete), temente aos castigos divinos por
ter tido uma trajetória de vida gloriosa e honrosa, com ápice marcado pela
minha presença interina na Presidência da República por mais de 60 dias.
O senhor diz que há saturação de
PSB, mas a oposição construiu alternativas?
É
ai onde está o nó da questão: o PSB não empolga mais, há um sentimento muito
forte por mudanças, mas a oposição não tem um nome capaz de representar esse
caminho da reviravolta. No Recife, falam muito em Marília Arraes, do PT, mas
não acho que encarne o desejo da sociedade. Diferentemente da deputada Tábata
Amaral (PDT-SP), preparada, com especialização na área de Educação em Harvard,
Marília não tem estampa. Faz o velho feijão com arroz. Deve ter pontuações nas
pesquisas por causa do sobrenome Arraes, pelo fato de ser mulher e exibir olhos
azuis ou verdes, não lembro.
Mas o que falam de João Campos é
que ele é muito jovem, imaturo para governar uma cidade como o Recife...
Verdade
e concordo plenamente. Ter pelo na venta e cabelos embranquecidos são
requisitos fundamentais para o exercício da atividade pública. O chanceler
Konrad Adenauer levou sua Alemanha aos píncaros da glória já num estágio bem
avançado da vida. Nada que não se possa aprender, mas para políticos novos como
João, se vier a ser eleito, tem que encher a sua equipe de quadros técnicos e
políticos os mais qualificados. Se a gente, que já está num estágio da vida bem
diferenciado dele, comete lapsos e atropelos no dia a dia, imagine ele, que
está vendo o sol nascer agora!
Mas Geraldo aposta na vitrine da
sua gestão para eleger João...
Geraldo
sonha em ser governador em 2022, repetindo a saga de Eduardo, que o elegeu
prefeito. Por sorte dele, Pernambuco é, hoje, um Estado sem uma liderança
expressiva na oposição e o cenário que se apresenta para a sucessão de Paulo
Câmara é muito favorável para ele (Geraldo). A eleição de João, que ele deseja
a todo custo, não vai ser fácil, até porque em termos de vitrine sua gestão tem
que melhorar muito. Sou médico e reconheço que o Hospital da Mulher foi a
grande obra de Geraldo, mas ele tem que destravar o trânsito, tapar os buracos
da cidade. Não sabe ele, mas as pessoas andam muito a pé, a cidade é desprovida
de boas calçadas. Outra coisa que me entristece no Recife é o desemprego, muita
gente dormindo nas ruas, o centro comercial falido e abandonado.
Por fim, o senhor vai se
envolver na política de Serra Talhada, sua terra natal?
Já
estou envolvido de corpo e alma para derrotar o prefeito Luciano Duque. Lá,
temos duas opções: o ex-prefeito Carlos Evandro e Victor Oliveira, meu neto.
Reconheço que Carlos Evandro é um bom gestor, mudou o perfil de Serra, mas eu
torço e trabalho pela união do grupo em torno da candidatura do meu neto,
vocacionado para a vida pública.
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