Por Michel Zaidan Filho
Li, com muito interesse e
acuidade, o artigo de Magali Nascimento Cunha sobre “a hegemonia
neopentecostal” no Brasil. As cifras apresentadas por ela são impressionantes e
sua influência social, cultural e política considerável. Pergunta ela: o que
têm em comum o pastor Waldomiro, o bispo Edir Macedo, seu cunhado R.R. Soares,
Silas Malafaia e o casal Hernandez?
Naturalmente, a crença em
comum numa espécie de teologia fundamentalista e fundada numa religião da prosperidade
que faz os incautos, crédulos e desesperados a se agarrar a uma pregação
religiosa de natureza retritutiva (ganhas na medida em que tu dás) e na Lei de Talião (do Velho Testamento).
Sem esses componentes, estes
ramos populares do Cristianismo reformado não teriam prosperado no Brasil,
depois do recuo das pastorais e comunidades eclesiais de base da Igreja
católica. Perdeu-se uma Igreja dos oprimidos, dos pobres e humildes, nas
periferias miseráveis das grandes cidades.
A imensa vala aberta pelas
políticas neoliberais em nosso país só deixou como alternativa a pregação
desses pastores fundamentalistas e individualistas, inspirados no modelo
americano do american dream”.
Neste ponto, o livro do bispo
da Igreja metodista “Educação religiosa e Pietismo”, Geoval Jacinto da Silva parece ser muito esclarecedor sobre o sentido
da recepção abastardada e conservadora do
pentecostalismo trazida por missionários norte-americanos ,entre nós.
Tal recepção deixou para trás
os conteúdos dogmáticos originais e tornou-se um mero canal de “self-made man”,
através de uma ética puritana, abstemia e diligente, que coloca toda a
responsabilidade das desigualdades sociais nas costas do “crente”, rejeitando a
pobreza, a solidariedade e qualquer tipo de crítica social. A cultura ética e
individualista desse ramo pentecostal e neopentecostal faz recair sobre os
ombros de cada indivíduo a culpa pela sua desgraça, como uma nova espécie de
pegado original, e o sentido do apelo religioso é para que trabalhe, trabalhe e
acumule bens, sem se preocupar com os outros ou o Estado. Ser virtuoso é ser rico, próspero e bem-sucedido
na vida. Ser pecaminoso é ser pobre ou miserável.
Não foi à toa que os milhões
de votos que deram a vitória a Jair Bolsonaro saíram desses círculos cristãos,
avessos a qualquer discurso socializante ou mesmo protetivo em relação aos mais
pobres. Esta teologia da prosperidade casou à perfeição com a ideologia
neoliberalismo desse governo dos ricos, demonizando os partidos de esquerda e
toda ética da solidariedade.
Imagine-se o uso instrumental
pelo governo de um discurso religioso como esse? Que junta fundamentalismo e
individualismo e se aproxima perigosamente do darwinismo social.
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