SOMOS CAMPEÕES, FILHO!
O jornalista Franco Benites,
que já foi repórter político do Jornal do Commercio, escreveu esse lindo texto,
publicado no Blog do Torcedor. Perfeita crônica esportiva, para ser
emoldurada por alvirrubros, mas que também poderá ensinar muito sobre a paixão pelo futebol, aos rubro-negros, tricolores, torcedores do Central de Caruaru ou do Sete de
Setembro de Garanhuns.
É para ler e reler:
Filho, dias desses o papai
assistiu a um documentário (o excelente Losers, da Netflix) sobre como derrotas
podem se transformar em vitórias. No segundo episódio, sobre o Torquay United,
um modesto time de futebol da Inglaterra fadado a perder, um resignado torcedor
da equipe afirma que se você vai a campo na expectativa de uma vitória do
Torquay, você é um idiota.
Essa também poderia ser a história do Náutico, filho. Mas não hoje,
não neste ano em que você foi concebido.
Acabamos de nos tornar
campeões da série C. É a terceira divisão do futebol brasileiro, apenas, mas
quem liga? É o primeiro e único título nacional do Náutico, mas quem está
contando?
Não sei se você vai gostar de
futebol, filho. Tudo bem se não gostar. Eu mesmo já fui mais apegado ao futebol
do que sou hoje.
E se você gostar de futebol,
talvez escolha outro time que não o Náutico para torcer. Não será nenhum drama.
Suas escolhas serão sempre SUAS escolhas. Estarei feliz se você estiver feliz.
Nasci em 1980, no Rio de
Janeiro, um ano antes do Flamengo se tornar campeão mundial. As minhas
primeiras camisas de time de futebol foram flamenguistas. Mas mudei para o
Recife ainda muito pequeno, e aqui estou eu, um torcedor a menos da imensa
nação rubro-negra carioca e um torcedor a mais da modesta e hoje especialmente
feliz torcida do Náutico. Eu também poderia ter abraçado outra camisa
rubro-negra, filho. A minha primeira vez em campo para ver um jogo de futebol
foi na Ilha do Retiro, para ver um jogo do Sport.
Lá se vão um pouco mais de 30
anos, mas eu lembro exatamente da magia desse dia. Daqui a alguns anos você
viverá essa experiência e eu espero estar junto de você. Ir a jogos do Náutico,
e também do Sport, com meu padrasto, me ajudou a ver a beleza do futebol e da
festa das torcidas independente do meu time estar em campo ou vencer. Respeitar
e valorizar quem torce (ou pensa) diferente de nós são valores que espero
repassar a você, mas teremos muito tempo para isso.
Hoje, queria estar no Recife,
celebrando o título do Náutico com seu avô Vernier e vendo a festa dos demais
torcedores alvirrubros nas ruas. Dizem que somos poucos, que cabemos numa Kombi.
E daí, filho? Também nos chamam de
alvirrosas, de “babies” e fazem referências aos torcedores do Náutico com
afeminados e gays, como se isso fosse um problema. Não é, nunca foi e nunca
será. Um dia também conversaremos sobre isso. Somos o que somos e que sejamos
felizes. E hoje somos campeões.
O Náutico, meu filho, não é o
time de maior torcida, não tem o maior estádio de futebol e não é não é o clube
com maior número de títulos no Recife, que dirá no Brasil. O Náutico já foi um
clube de elite, feito por e para uma aristocracia. Nessa época seu velho pai
nem era nascido, filho. Tudo muda e isso felizmente mudou. O Náutico hoje é tão
plural quanto possível, com torcedores de todos os tipos. Ganhamos todos,
filho. Tudo muda a ponto de eu não me sentir mais como o torcedor do Torquay.
Ir a campo e esperar que o Náutico vença não é mais uma idiotice, filho.
As derrotas de um clube
marcam, entristecem, mas são passageiras. As glórias são eternas, filho. Um dia você ouvirá falar da fatídica Batalha
dos Aflitos, mas saberá também que quando o Náutico tinha tudo para fechar as
portas deu a volta por cima no ano seguinte.
Vou repetir, filho, para que
não fique dúvidas: as glórias são eternas. Elas podem ser sofridas, como foi a
conquista da série C, mas são eternas.
Quando eu era criança, eu
tinha orgulho de dizer que o Náutico era hexacampeão pernambucano, mesmo sem
ter vivido essa época. Uma nova geração de torcedores vai poder dizer que viu o
Náutico ser campeão da série C (sim, é apenas a terceira divisão do futebol
brasileiro, mas, de novo, quem se importa?). Uma outra geração, a sua, não viu
o time colocar a faixa de campeão no peito, mas eu estarei aqui para contar
como foi.
Do alto de suas 25 semanas de
vida, você dá chutinhos na barriga de sua mãe e eu sonho que você já celebra
comigo: “pai, somos campeões”.
Tomás, que você saiba desde já, desde sempre:
sou o campeão máximo por você ter escolhido a mim e sua mãe para cuidarmos de
você. E viva o Clube Náutico Capibaribe, campeão da série C 2019!
Nenhum comentário:
Postar um comentário