Por Michel Zaidan Filho*
O desembargador
pernambucano, Bartolomeu Bueno, presidente da Associação Nacional dos
Desembargadores do Brasil (ANDES), sugeriu que, em razão da falta de compostura
para o exercício do cargo, o senhor Jair Messias Bolsonaro fosse judicialmente
interditado. O magistrado já vinha se pronunciando antes contra medidas, como
por exemplo: a reforma da previdência social. destinada segundo ele a jogar na
miséria milhões de trabalhadores brasileiros. A proposta de Bueno é mais
drástica do que o recurso do "impeachment", pois é um eloquente
atestado da falta de capacidade civil e jurídica para o cargo.
No entanto, ela é
perfeitamente compreensível diante do que um ex-presidente da República chamou
de "incontinência verbal" de Bolsonaro e um ministro do STF
recomendou apor uma mordaça no orifício bucal do presidente. A verborragia dese
alto mandatário do governo brasileiro é absolutamente incompatível com a
liturgia e o decoro do alto cargo que ele ocupa. E provoca muitos atritos e fissuras
desnecessárias com parlamentares, jornalistas, magistrados, intelectuais
e estadistas estrangeiros, com evidentes reflexos negativos para os interesses
do país.
Ultimamente, a
escatologia bolsonariana vem falando repetidamente em "côco" e
"merda". Não se sabe se isto tem a ver com sua estrutura intestinal
ou excretória. Mas esse tipo de retórica contamina a função
administrativa e política do chefe da nação. Seu universo mental parece povoado
de excrementos e sua boca, um canal de ejeção coprológica. Seria tentado a
dizer que se trata de uma gestão excrementícia, onde ao invés de argumentos,
dados e estatísticas para justificar suas decisões, o que saltam inopinadamente
da boca do presidente são petardos fecais, atirados contra os seus opositores e
desafetos.
Essa
desqualificação enterológica dos adversários o inabilita para
conviver com os diferentes, com a pluralidade político-ideológica,dentro e fora
do país. O mundo não é igual à nossa cabeça e nossos desejos. É "o mundo
verdadeiro, e não nós", como disse o poeta português. Temos que aprender a
conviver com ele, por mais difícil que isto possa parecer. E é o que falta ao
senhor Bolsonaro: flexibilidade, jogo de cintura para administrar um país
complexo e continental como o Brasil e lidar com a comunidade internacional.
*Michel Zaidan Filho é cientista político e professor da Universidade Federal de Pernambuco.
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