SÉRGIO MORO, UM POLÍTICO PROVINCIANO

Do professor Roberto Romano da Silva, da Unicamp: 

“Deixemos algo claro: nenhum ser humano que adere ao ditador, potencial ou em ato, coloca seriamente condições para aceitar cargos. Aqueles requisitos servem apenas para justificar ao seu público pessoal o passo dado. 

O Sr. Moro sabia perfeitamente com quem falava ao aceitar o cargo. E não cabe, agora, dizer que ele "pode sair do ministério" por causa do COAF ou de outras "derrotas". Na verdade, não existiu derrota nenhuma, visto que o trato com o poderoso (conjuntural, sempre conjuntural porque nenhum poderoso é eterno) foi estabelecido com pleno conhecimento das regras: acabar de vez com as fantasias de  direito e liberdade para os que se opõem ao governo (?). 

Considero um tanto quanto inocentes, para dizer o mínimo, as considerações de colegas, jornalistas e outros que aludem às "derrotas" de Moro. Vejamos: se ele ganhasse o COAF teria um instrumento poderoso para fazer propaganda de si mesmo, vital para as próximas eleições presidenciais, pressionar políticos de todos os matizes, perseguir os "inimigos" do governo na ordem política, jornalística, religiosa. 

Em matéria de perseguição ele possui um bom know how, com seus achegados da Lava Jato. Termino: aposto dois tostões de réis que ele ficará no ministério, aguentando pontapés do Congresso e do presidente. Só sairá quando sua equipe de marketing lhe indicar que a permanência será desastrosa para sua eleição presidencial, ou quando tal pretensão se evidenciar péssima para os planos do que está presidente ou seus aliados. 

Moro não é um juiz que se tornou político. É um político canhestro que se fez passar por juiz. Provinciano, só agora se dá conta que o poder nunca é jogo de um grupo apenas. Que na guerra para manter ou aumentar o poderio há vítimas e sangue. Ele faria bem se lesse O Sobrinho de Rameau, sobre o jovem da província que vai ao zoológico pela primeira vez em Paris: se colocou a mão na jaula do tigre e o bicho arrancou seu braço, não culpe o tigre. 

O passeio de Moro e de seus amigos pelas aleias do zoológico político era aprazível porque efetuado sob o manto enganoso da ética, do combate à corrupção. As novas aleias são violentas na ida e na vinda. Não cabe mais usar máscaras de virtudes republicanas (sobretudo para perseguir adversários ideológicos e políticos). 

Agora é dente na carne, pois é assim que as vitórias são conquistadas nos palácios. Se erro, me corrijam. Mas se acerto, por favor, parem de falar em "derrota" de Moro. Ele continua no zoológico até que não apenas suas mãos, mas as pernas e outras partes sejam devoradas por animais políticos sagazes e mais experientes. Q.E.D abraços!”