Por Michel Zaidan Filho*
Foi John Foster Dulles que
definiu melhor o espírito da política externa norte-americana, ao dizer que um
país não tem amigos, tem interesses. Interesses econômicos e estratégicos.
Desde a formulação do chamado “pan-americanismo”, ou a doutrina que afirma ser
a América para os americanos, que os governos estadunidenses entendem que a
América Latina é o quintal deles. Até a Primeira Guerra Mundial, o imperialismo
inglês mandava no mundo. Depois da primeira grande guerra, os americanos
tomaram a hegemonia política e econômica dos ingleses. Neste intuito, a
política externa ianque varia do mero expansionismo anexionista ao
unilateralismo, fazendo acordos bilaterais, com governos fracos, para
afastá-los dos processos de integração regional e submetê-los à sua influência,
ou pelo “soft power” ou o “hard power”.
As relações externas do
Brasil com os EE.UUs. mudaram muito no curso dos últimos 100 anos. Desde a
cópia serviu da Constituição norte-americana feita por Rui Barbosa, a mando do
governo provisório em 1981, até a origem do primeiro processo de integração
regional sulamericana, sob a hegemonia brasileira, houve muitos vai-e-vens
nestas relações, que variam da total submissão aos interesses americanos até a
afirmação internacional dos interesses nacionais do Brasil.
Não é segredo para ninguém
que o governo de Inácio (LULA) da Silva foi a gestão que mais avançou na
direção de uma política externa independente, multicultural, pacifista e
sul-sul. Os logros e as conquistas dessa política foram muitos, entre eles: o
protagonismo mundial do país, na frente diplomática, e o Mercosul. O Brasil
conseguiu uma liderança continental que incomodou alguns de seus vizinhos. Mais
importante foi a diversificação do comércio internacional brasileiro, para a
venda das “commodities” agrícolas e minerais: a China, o Irã, a União Europeia,
os países árabes. Nosso país avançou muito no pragmatismo comercial, firmando
parcerias e acordos estratégicos para os interesses do povo brasileiro.
É absolutamente
injustificável que o atual governo da República jogue por terra, em nome de um
anticomunismo grosseiro e do alinhamento incondicional com o país americano do
norte, todo esse acervo de realizações e avanços da política externa do Brasil.
Mais ainda à luz dos interesses econômicos e comerciais que ele diz
representar: o agronegócio, a bancada ruralista, a indústria brasileira, a
exportação das “commodities” agrícolas ou minerais, tão importante para o
equilíbrio da balança comercial brasileira.
Nem os militares, durante a
ditadura de 1964, foram tão obtusos a ponto de restringirem a política
comercial à uma ideologia anticomunista e xenófoba: negociaram com os
soviéticos e chineses. Não que tenhamos que concordar com as palavras de Foster
Dulles. Mas não se pode conduzir a política externa de um país como o nosso,
com o olho na Bíblia ou na Lei de segurança Nacional. Há objetivos
estratégicos, econômicos, geopolíticos que devem guiar essa política. E aí cabe
um formidável espaço para o pragmatismo nas relações internacionais. O nosso
país não é o Haiti, Porto Rico ou Panamá. É uma nação continental que tem um
enorme peso na política internacional. Mas precisa ter consciência desse papel,
para não se tornar mais um satélite comercial ou militar dos americanos.
Outro ponto sério dessa
política isolacionista e americanofila é a aproximação política e diplomática
com o Estado de Israel. Está aí outra grande ameaça aos interesses do povo
brasileiro. Sempre tivemos uma grande simpatia pelos povos árabes. Hipotecamos
mais de uma vez o nosso apoio à causa justa e humanitária do povo palestino
(que vive sob a ocupação militar israelita, por terra, mar e ar). Privilegiar o
Estado judeu, nas relações diplomáticas com o Oriente Médio, em razão do apoio
dos evangélicos e para agradar a Donald Trump, é um equívoco de graves
consequências para nós. O país judeu muito pouco tem a oferecer ao Brasil, a
não ser a tecnologia de espionagem ilegal nas terras alheias. A técnica
agrícola de irrigação em terras áridas, nós já temos. A experiência dos “Kibutzim” já foi
totalmente desvirtuada. Temos uma das
medicinas mais modernas do mundo. Mas em compensação, os movimentos de
libertação da Palestina (tanto quanto o Estado Islâmico) podem mirar o Brasil
como próximo alvo, em razão do nosso alinhamento com os americanos e judeus. E
perderemos o mercado das nações árabes para nossas exportações comerciais.
O Brasil tem tudo a perder e
nada a ganhar com essa política comercial estreita, sectária, filoamericana e
judia. E os maiores prejudicados serão os brasileiros, no final das contas.
Somos um povo pacifista, miscigenado, aberto aos intercâmbios e parcerias do mundo
inteiro. Não vamos nos curvar a uma seita de adoradores do satanás, nem daqui
nem de fora.
*Garanhuense Michel Zaidan Filho é cientista político e professor na Universidade Federal de Pernambuco.
*Foto: Gospel Prime
Texto espetacular de quem tem conhecimento para escrevê-lo. Cada dia que passa eu menos entendo este governo que parece brincar de "papai e filhinhos donos do Brasil". É uma burrice atrás da outra e nos deixam à mercê de tempestades cruéis, sem nenhuma proteção. Esses demônios vieram para acabar com o País sem necessidade de uma guerra armada? Só Deus por nós... E salve-se quem puder... Certamente serão poucos...
ResponderExcluir