Por Altamir Pinheiro
Prestes
a terminar o Século XX, uma das obras
cinematográficas mais polêmicas de todos os tempos estava por vir das mãos de
Martin Scorsese. Trata-se de um livro lido por ele intitulado de A Última Tentação de Cristo, de Nikos Kazantzakis (1883-1957). SCORSESE,
que durante sua juventude chegou a ser seminarista, leu com muito interesse a
obra do escritor grego, que ao morrer, não pôde ser enterrado em solo sagrado
pela Igreja Ortodoxa Grega. E após concluir a leitura, não demorou para que Scorsese pudesse fazer um filme saído do romance de Kazantzakis (que para quem não sabe,
também escreveu ZORBA, O GREGO,
levado para o cinema com Anthony Quinn).
Há
quem diga que A Última Tentação de Cristo
é um dos melhores filmes já feitos sobre Jesus Cristo e um dos poucos a ir além
do que está nos textos sagrados. É o que podemos chamar de um trabalho
magistral que humaniza Jesus (em uma atuação primorosa e apaixonada do ator
Willem Dafoe), que apenas exalta a mensagem da importância do sacrifício que
ele tem que fazer pela humanidade. Ao não seguir fielmente a Bíblia e adaptar o
romance homônimo, SCORSESE tece um estudo sobre a fé e sobre sacrifícios. História
visualmente inventiva e deslumbrante. Um dos melhores e mais corajosos filmes
do diretor Martin Scorsese. Genial!!!
Conforme
reza a sinopse, JESUS (Willem Dafoe)
é um carpinteiro que vive um grande dilema, pois é quem faz as cruzes com as
quais os romanos crucificam seus oponentes. Resumindo, Jesus se sente como um
judeu que mata judeus. Vivendo um terrível conflito interior ele decide ir para
o deserto, mas antes pede perdão a Maria Madalena (Barbara Hershey), que se
irrita com Jesus, pois não se comporta como uma prostituta e sim como uma
mulher que quer sentir um homem ao seu lado. Ao retornar, Jesus volta
convencido de que é o filho de Deus e logo salva Maria Madalena de ser
apedrejada e morta. Então reúne doze discípulos à sua volta e prega o amor, mas
seus ensinamentos SÃO ENCARADOS COMO ALGO AMEAÇADOR, então é preso e condenado
a morrer na cruz. Já crucificado, é tentado a imaginar como teria sido sua vida
se fosse uma pessoa comum.
O
filme apresenta uma narrativa muito boa em um roteiro honesto e cativante.
Willem Dafoe fantástico, em uma atuação absolutamente perfeita. Diálogos
interessantes e uma abordagem convincente e digna, mostrando JESUS como, antes
de qualquer coisa, um homem com suas dúvidas e receios, e ao mesmo tempo ciente
de sua importância. O elenco no geral está muito bem e coeso com a proposta. O
filme às vezes fica um tanto teatral e conceitual, mas no conjunto é uma
excelente projeção cinematográfica que vale ser conferida independente de
crenças religiosas, pois levanta questões humanas muito significativas.
O
historiador de cinema Ivanildo Pereira nos mostra o seu conceito com a seguinte
teoria: Filmar o livro “A ÚLTIMA TENTAÇÃO DE CRISTO”, de Nikos Kazantzakis, foi
um projeto dos sonhos do diretor Martin Scorsese por muitos anos. Ele
finalmente conseguiu realizá-lo por uma ninharia e o apoio surpreendente do
estúdio Universal, que já se preparava para a controvérsia. O livro mostrava um
retrato mais humano – e porque não, mais plausível – de Jesus Cristo. Um Cristo
com dúvidas, reticente e relutante do seu papel como salvador, e tentado pelo
amor terreno por Maria Madalena. Durante a crucificação, ele tem um sonho de
como seria sua vida caso não cometesse o sacrifício supremo pela humanidade.
O
filme conta com as participações especialíssimas do rockstar David Bowie, como PÔNCIO PILATOS, e o
excelente Harry Dean como o APÓSTOLO
PAULO. Destaque para a direção primorosa de SCORCESE, indicada ao Oscar da
categoria, Willem Dafoe como o conflituoso e atormentado Cristo e Barbara Hershey
como uma ardente e apaixonada Maria Madalena {indicada ao Globo de Ouro de
melhor atriz coadjuvante}. A espetacular trilha sonora de Peter Gabriel,
indicada a um Globo de Ouro da categoria, é um show à parte e contribui
enormemente ao conjunto da obra, em um dos poucos casos, em matéria de cinema
contemporâneo, onde música e imagem se complementam de forma única e não
parecem descoladas uma da outra.
Em
suas pesquisas o cinéfilo Paulo Telles encontrou e nos conta que, antes mesmo
do seu lançamento em várias partes do mundo, já havia protestos. Tudo porque a
obra de Kazantzakis não apresenta a figura de Cristo como um “REI DOS REIS” de
acordo com os Evangelhos Oficiais da Igreja, mas sim, como um homem simples que
tem a missão de carregar seu destino de semideus, quando manifesta como
qualquer outro mortal seus desejos e fraquezas, inclusive o seu desejo de se
apaixonar.
Vários
grupos religiosos rejeitaram o filme. No ano de 1988, um grupo fundamentalista
cristão francês lançou coquetéis molotov no interior do teatro Saint Michel,
que estava exibido o longa. Treze pessoas ficaram feridas, quatro das quais
foram severamente queimadas. Já o teatro foi muito danificado, só sendo
reaberto 3 anos depois. Em alguns países, como a Turquia, México, Chile e Argentina,
o filme foi proibido ou censurado por vários anos. Até julho de 2010, o filme
continuou a ser proibida nas Filipinas e Singapura.
Ao
assistir essa película, nos vem à mente a figura feminina de Maria Madalena,
pois de todas as personagens Bíblicas, talvez seja àquela mais deturpada,
encoberta por inverdades divulgadas ao longo dos séculos pela Igreja, pelos
textos Bíblicos e por errôneas interpretações. Paralelamente às inverdades, uma
outra história tem sido contada de modo sublinear pela arte ao longo de mais de
dois mil anos de história Cristã e, também, pelos textos apócrifos. Quem quiser
se aprofundar na figura enigmática de MARIA MADALENA aconselho da de garra do livro
O CÓDIGO DA VINCI, de Dan Brown. Livro este, que percorreu o mundo, sendo lido
por milhões de pessoas. Em meio a uma história de suspense, o autor insere
algumas das verdades, que ao longo do tempo, estavam sendo ocultas. VALE A PENA
LÊ-LO!!!
Muito bom
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