Por Ana Sá Lopes
Bolsonaro
traz para ideologia oficial do Brasil tudo aquilo que foi a cartilha da
ditadura portuguesa, o mesmo ódio às "ideologias", a religião como
parte do Estado, a defesa dos valores das famílias ultraconservadoras, o mesmo
horror aos "vermelhos".
Os dois
discursos que ontem Jair Messias Bolsonaro fez na tomada de posse prenunciam o pior. Já sabíamos,
evidentemente, desde o início da campanha, mas o capitão reformado entendeu não
desiludir quem o elegeu para o cargo de Presidente do Brasil. O elevado grau de
aprovação com que Bolsonaro chega ao Planalto é, evidentemente, um susto para
quem defende a liberdade e a democracia no sentido ocidental do termo.
Para
nós, portugueses, assistir ontem aos discursos de Bolsonaro, trouxe reminiscências dos
discursos de um homem que saiu do poder em 1968, embora isso tivesse acontecido
por doença: Oliveira Salazar. Bolsonaro traz agora para ideologia oficial
do Brasil tudo aquilo que foi a cartilha da ditadura portuguesa, o mesmo ódio
às "ideologias", a religião como parte do Estado, a defesa dos
valores das famílias ultraconservadoras, o mesmo horror aos
"vermelhos".
Há uma
frase que não poderia nunca ter sido usada durante a ditadura, porque naquele
tempo a expressão "ideologia de género" era desconhecida, mas é todo
um programa: "Vamos unir o povo, valorizar a família, respeitar a
religião, a nossa tradição judaico-cristã, combater a ideologia de género,
conservando os nossos valores. O Brasil voltará a ser um país livre de amarras
ideológicas". A ideologia dos que são "contra os políticos" foi
expressa por Salazar na sua época - aliás, a sua ascensão ao poder e o golpe de
20 de Maio de 1926 tiveram, como tem agora Bolsonaro, um esmagador apoio
popular.
Tudo
naquela cerimónia de posse foi um monumento à tragédia anunciada: o discurso do
número 2, o general Hamilton Mourão, foi um regresso às cavernas que o povo
aplaudiu em delírio; o fim do discurso de Bolsonaro, quando ergue a bandeira
brasileira em conjunto com Mourão e grita: "Esta é a nossa bandeira, que
jamais será vermelha, só será vermelha se for do nosso sangue derramado para a
manter verde e amarela".
Bolsonaro vem
preencher um anseio profundo da população, o da segurança seja de que maneira
for. "Temos o desafio de enfrentar a ideologia que descriminaliza
bandidos, pune polícias e destrói famílias, vamos restabelecer a ordem no
país", disse ontem, já depois de ter prometido liberalizar o acesso às
armas. O anseio da "ordem" também foi o que levou Salazar ao poder. A
democracia brasileira é demasiadamente jovem, mas também as democracias jovens
podem morrer.
*Reproduzido do jornal português "Público".
Oliveira Salazar e Hitler são os guias do BolsonASNO... Ana Sá Lopes sabe muito bem o que está dizendo... Os nossos irmãos portugueses têm pensamento político civilizado... Mesmo antes do truculento Salazar, Portugal teve o monarca Dom Carlos I, que foi liberal... Até ser assassinado, junto com seu filho, Dom Luís Filipe, em 1º de fevereiro de 1908. E foi assassinado justamente por ter perfil liberal... Isso desagradou os donos de escravos em geral. Porque mesmo a escravidão já tendo sido abolida naquele país, existia a escravatura de fato, em todas as colônias e no próprio Portugal... E resultou na morte de pai e filho... Para que o príncipe Luís Filipe não pudesse assumir, como legítimo herdeiro do trono português. Dom Carlos, ao assinar um decreto preparado por seus correligionários, declarou: "Assino a minha sentença de morte, mas os senhores assim o quiseram." – 2. E a nós brasileiros, restam tempos sombrios, doravante. /.
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