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UM FILME QUE REFLETE O BRASIL ATUAL


Erasmo Carlos é uma boa surpresa no filme

Monique Gardenberg, cineasta nascida em Salvador e criada em São Paulo, ficou mais conhecida em 2007, ao realizar o filme “Ó Pai, Ó”, sucesso de bilheteria sobretudo graças ao ator Lázaro Ramos. Ela já tinha feito outros trabalhos antes, como “Jenipapo”, de 1996, mas estava há 10 anos sem produzir uma longa.

Em 2018 lançou “Paraíso Perdido”, possivelmente seu melhor filme, que recebeu elogios até de críticos ranzinzas,  acostumados a ver os defeitos e deixar pra lá as qualidades.

Quando “Paraíso Perdido” estreou, no primeiro semestre, foi notícia em toda grande imprensa, com resenhas na Folha, Estadão e Portal G1, para ficar só nesses três.

Monique surpreende ao misturar, de forma competente, atores conhecidos, estreantes e cantores.

Erasmo Carlos é uma boa surpresa e está bem a melhor parte do filme, cantando apenas uma música, já no final. Ele supera o desempenho de Seu Jorge, que só não compromete muito porque aparece mais interpretando diversas canções, com seu vozeirão.

Há ainda nomes globais, com Marjorie Estiano e Humberto Carrão. Bom ver esses dois em papeis que exigem talento, o que não acontece nas novelas bobinhas da Globo.

Destaque ainda para o jovem cantor Jaloo e Lee Taylor, que interpreta Odair, personagem chave do filme.

“Paraíso Perdido” reflete o Brasil atual: pessoas sem rumo, conservadorismo,  violência urbana, homofobia e desejo de liberdade.

"O filme é um grito de amor e liberdade em contraposição a esse conservadorismo e moralismo, que eu não esperava do Brasil", chegou a definir a diretora Monique, numa entrevista ao G1.

Além de ter reunido um bom elenco, de tratar de questões atuais do Brasil, no longa, a cineasta também foi muito feliz em fazer um tributo a muitos cantores rotulados como brega,  ao longo da história da MPB: Reginaldo Rossi, Odair José, José Augusto, Núbia Lafaytte e Paulo Sérgio estão presentes no trabalho cinematográfico, através de outros artistas que fazem justiça ao que esses nomes representaram ou representam na música romântica.

Há espaço também para Roberto Carlos, Raul Seixas e Belchior.

Algumas canções dos cantores citados são interpretadas num contexto bonito, que chega a emocionar.

No final do filme ficamos sabendo quem foi o responsável pelo acerto na escolha das músicas: o eclético Zeca Baleiro, melhor cantor e compositor surgido no Brasil nos anos 90 foi o diretor musical do longa.

Enfim, “Paraíso Perdido” é preferível a muita produção americana que toma de assalto os cinemas, canais de TV por assinatura ou televisão aberta.

Se não é uma obra prima, é pelo menos um filme que reflete um pouco do Brasil, Vale pela presença de alguns bons atores e sobretudo pelo tributo a cantores que sempre foram esnobados ou esquecidos, até que o jornalista Paulo César Araújo reconheceu a importância deles no consagrado livro “Eu Não Sou Cachorro Não”.

De certa maneira, Monique Gardenberg fez no cinema o que Paulo César fez no seu trabalho sobre a MPB. Ponto para a cineasta.

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