Por Homero Fonseca
OGlobo faz uma revelação “bombástica”: o Programa Mais Médicos teria “servido de biombo” para pagar empréstimo do Brasil a Cuba para construção do Porto de Mariel. E logo um monte de pessoas danaram-se a compartilhar, indignadas com a “falcatrua”. O termo “biombo” é usado pelo jornalão carioca como uma palavra-chave e se encaixa perfeitamente no modus operandi do cérebro de pessoas robotizadas ideologicamente: aquilo que serve para esconder algo. Logo, deve haver algo ilícito na transação.
Mas onde
está o problema? Se for verdade, qual a “tramoia” em pagar empréstimos com
serviços efetivos, que atenderam 28 milhões de brasileiros pobres durante anos?
(Antes, não se falava em empréstimos; dava-se a entender que o Brasil “doara”
milhões de dólares a Cuba. Agora, pelo menos admitem que a malvada ditadura
paga com serviços reais, concretos e úteis.)
E por que
essa esquisita denúncia apareceu justo agora? Levanto uma hipótese: é uma
tentativa de compensar a repercussão da cagada monumental do governo do Capitão
que foi a saída dos cubanos. Está em operação uma agressiva campanha de
desmoralizar o programa, pra tentar consertar o estrago. De saída, foi
levantado o absurdo questionamento da qualidade da formação deles, testada em
dezenas de países do mundo. O próprio Capitão, com certeza “um especialista”,
semeou a ideia, tal qual fez com a confiabilidade das urnas eletrônicas nas
eleições deste ano. E tome notícia na mídia contra o Mais Médicos. Ninguém foi
a campo ouvir a opinião da população atendida. Opinião de pobre não é muito
valorizada na mídia brasileira, não é verdade? E repente, milhares de médicos
brasileiros se interessaram subitamente em servir nos cafundós de Judas.
Entretanto,
diante da gratidão espontânea das populações pelo atendimento dos médicos (registadas
diariamente nas redes sociais), creio que a furiosa ofensiva cairá no vazio
junto aos pobres que tiveram atenção de saúde básica pela primeira vez na vida.
Naturalmente isso não conta para essa turma de classe média que paga plano de
saúde. O que interessa é combater ideologicamente a iniciativa do partido
adversário. E o povo que se foda. Essa é a lógica perversa dessa gente
privilegiada.
*Homero Fonseca é jornalista e escritor
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