“Resistir
é preciso, Edmar. E as terras de Simôa são ricas em resistências. Desde o
passado. A começar pelo exemplo dela, Simôa. Mulher visionária, despojada,
disposta, valente e desnuda de gestos menores. Pequenos. Azarentos. Apesar de
não saber da profundeza e largueza de seus atributos. Felizmente louvados por
cronistas que contaram e contam a sua história, no que a faz ainda maior e
imensa...”.
“Sei disso, Givaldo. Estamos juntos. Vamos lá! Tomar
nossa cidade de assalto, nunca. Aqui, tem dono. É da gente, daqui”, dizia-me
Edmar com firmeza e coragem, em 2012. Como antes em, 2008.
“Mas eu queria lhe dizer mais um pouco, amigo. Você
lembra, não é verdade? O trabalho que tivemos para prestar à Simôa aquela
veneração. A gente, todos nós, eu, você. Enfim, a Cultura da Cidade partiu para
dizer quem fora Simôa e o que ela representa pra nossa cidade. Sim! Para
Garanhuns - ‘Cidade Simôa’, ‘Cidade Jardim’, ‘Cidade Poesia’, ‘Cidade Mágica’,
‘Suíça Brasileira’... Alcunhas, tributos de gente das letras, das ruas. Da
gente, enfim, de Garanhuns. Que, por paixão... Que digam! Que, por gratidão...
Que falem! Aplaudem o gesto de Simôa Gomes de doar suas terras, deixadas por
seu esposo
Manoel Ferreira de Azevedo, sua única herança, por ver longe, muito
longe... Que seria da sua ‘Fazenda do Garcia’. No futuro, ‘Freguesia de Santo
Antônio de Garanhuns’. Mais tarde, ‘Povoação de Santo Antônio de Garanhuns’.
Ainda mais tarde, ‘Vila de Santo Antônio de Garanhuns’. Afinal, ‘Cidade de
Garanhuns’. Ou seja: cidade de tantos cognomes. E mais dois que nos chegam:
‘Orgulho do Nordeste’, ‘Orgulho do Pernambuco’, e mais um - ‘Cidade Gratidão’.
Para nossa maior alegria.”
“Você lembra, não é Edmar, do
que deixamos na Avenida que leva o nome de Simôa Gomes? Você correndo para tudo
estar pronto no prazo. Recordo, hoje, como registro de gratidão.”
“Simôa
Gomes de Azevedo”
“Vulto
maior de nossa história e neta do sertanista Domingos Jorge Velho.”
“Ela
deixou seu nome de heroína inscrito no passado desta cidade, cujo patrimônio
territorial foi fruto da doação das suas terras, no século XVIII.”
“Placa
de iniciativa do Clube Lítero-Recreativo Brasil Estados Unidos neste seu
cinquentenário e da Secretaria de Cultura de Garanhuns”.
“Garanhuns,
29 de agosto de 2008”
“Mas que
fez essa pessoa, Givaldo, para você falar assim?”, pergunta-me alguém em
audiência comigo. “Você está vendo,
Edmar? Essa Senhora que deixou o Gabinete, faz pouco, é dona de toda essa
sabedoria, e se diz de Garanhuns. Daqui, eu, incrédulo e triste, minha mente a
recordar de tantos, todos desejando saber quem foram eles, cujos nomes estão
nas placas de nossas artérias, a maioria delas corroídas pela ferrugem ou
ilegíveis pela ação do tempo - Nilo Peçanha, Afonso Pena, Júlio Brasileiro,
Gonçalves Maia, Frei Caneca... Tantas! De repente, até, Rui Barbosa, Castro
Alves... É. Como a letra: ‘É de fazer chorar’.”
Mas,
Edmar, esteja onde você estiver, fique em paz. Mas, daí, me desculpe pela
digressão. É que, como falar do amigo sem realçar seus atributos de despojado,
de disposto, de valente e de livre de gestos menores, pequenos, azarentos...?
Como fora Simôa e, ainda, inteiro com os amigos, porque decente, correto e
leal, como vi em você ao longo da nossa fraterna e abençoada convivência.
De
repente, à minha mente, versos do poeta:
“Vem
dolorosa
Mão
fresca sobre a testa em febre dos humildes
Sabor de
água sobre os lábios dos cansados.
Que essa
mão fresca lhe adoce a partida,
Querido amigo. Fique em paz”.
Mas com a
assertiva de Fernando Pessoa:
“A vida é
breve,
A alma é
vasta”.
E sua
esposa e filhos, a dizerem: “Você, ao mundo - 20.08.1947. Você, a Deus -
26.04.2016”.
E eu,
aqui, nessas linhas... Não sei. Penso que vou inutilizá-las ou arquivá-las.
Mas, quem sabe? Amanhã, as publicarei.
Como o
poeta, digo:
“Amanhã
te direi as palavras, ou depois de amanhã...
Sim,
talvez só depois de amanhã...
{...}
O
porvir...
Sim, o porvir...”
Contudo,
enquanto decorre, repito Santo Agostinho:
“A morte não
é nada.
Eu somente
passei
Para o
outro lado do Caminho.
Eu sou
eu, vocês são vocês.
O que eu
era para vocês,
Eu continuarei sendo.”
E eu,
aqui, concluo para tentar dormir. Mas levando pra cama a lembrança maravilhosa
dos gestos despojados, dispostos, valentes e desnudados do amigo Edmar que fora
como Simôa e, por cima, inteiro com os amigos, porque decente, correto e leal -
repito -como vi ao longo de nossa fraterna e abençoada convivência.
*Acadêmico
e Figura Pública
Prezado Sr Gilvaldo,
ResponderExcluirComo filha única, minhas palavras podem ser consideradas como "suspeitas", mas, de não menos orgulho em ter tido um pai tão bom, tão carinhoso, tão dedicado e presente em nossas vidas. Um pai que não poderia ter sido melhor...
Uma pessoa do bem, correto, íntegro, e muito honesto, que pôde passar a nós 3, seus filhos, a única forma que podemos passar por essa vida.
Ele se foi ainda muito jovem, nos deixando um vazio imenso, que nunca, jamais, nosso coração poderá cicatrizar. Mas ficamos felizes em ter deixado, aqui, através de pessoas como o senhor, uma amizade tão verdadeira e sincera.
Em nome de nossa família, o meu agradecimento pelas palavras, pela lembrança, e pelo gesto de amizade e carinho pelo meu tão amado pai.
Que ele esteja em um lugar de luz, sem dúvida muito melhor que o nosso, até o dia que possamos nos encontrar novamente.
Um abraço, com todo meu respeito e carinho,
Maria de Fátyma Dias