Por Michel Zaidan Filho
Obtivemos, no domingo, um resultado
surpreendente nas eleições presidenciais do Brasil. Os maiores colégios
eleitorais do país, onde se concentram as elites mais estudadas, ricas e mais
poderosas em termos de influência e poder de persuasão (Sul, Sudeste,
Centro-Oeste) votaram em peso num candidato que representa a negação do que
chamamos “civilização”: direitos humanos, reconhecimento das identidades,
políticas redistributivas, respeito às leis e a Constituição, respeito à vida
humana, ao meio-ambiente, a diversidade cultural e religiosa, às liberdades
democráticas etc. E o Nordeste, região sempre identificada com o atraso, a
pobreza, a dependência econômica e social, o fanatismo e a ignorância, foi quem
optou pela democracia e os direitos. Região sempre preterida pelas políticas públicas de desenvolvimento
regional, fonte da perpetuação das oligarquias familiares, revelou-se um bastião
da resistência à barbárie a galope, comandada por ex-capitão do Exército que
faz da tortura e do extermínio o bordão de sua propaganda eleitoral.
Podemos até perder a eleição,
mas chegar ao 2. Turno foi uma vitória inestimável diante dos enormes
obstáculos enfrentados pelo candidato
da civilização. Muitas dificuldades se contrapuseram a esta candidatura laica,
republicana e socialista. Primeiro o seu deslanchar tardio, quando os demais
candidatos já estavam em campanha e com farta exposição pública de seus portfólios político-partidários. Segundo,
a corajosa e desassombrada aproximação com a imagem e o legado do ex-presidente
LULA. Terceiro, a ofensiva da mídia eletrônica e impressa, francamente
anti-petista. Quarto, a política de
terra arrasada praticada pela Operação Lava-Jato contra o Partido dos
Trabalhadores- e seus candidatos. Quinto, o posicionamento das Igrejas neopentecostais
e pentecostais, representadas em seu apoio a Bolsonaro pelos seus bispos e
pastores. Seis, a falta de responsabilidade política dos partidos de centro, em
destruírem o capital político do PT, ajudando com isso ao candidato da
extrema-direita. Isso sem mencionar os
poderosos grupos que estão alavancando essa perigosa candidatura: as bancadas da bala, do boi e da Bíblia.
Não fosse o trabalho de sapa contra as
instituições, com a complacência ou cumplicidade dos tribunais superiores, a
figura desse candidato lúgubre, desengonçado e falastrão não passaria de uma
personagem folclórica, de mau gosto, mas risível, ridícula. Infelizmente, o
diabo não se apresenta como tal , quando aparece.
Teria que vir com um uniforme militar, segurando uma metralhadora e apontando para seus adversários políticos.
Na imagem desse anticristo, os democratas,
defensores dos direitos humanos, ambientalistas, feministas ou militantes das
causas LGTBI, são bandidos, criminosos, terroristas, inimigos da família, da
Igreja e da propriedade privada. A criminalização recorrente do “outro”, da
“alteridade” é um recurso conhecido dos políticos fascistas, da extrema-direita. Não se admite-se o respeito
à diferença, de quem pensa diferente ou é diferente. Estaríamos diante de uma
grave ameaça à secularidade e laicidade do Estado brasileiro e rumando para uma modalidade de fundamentalismo apoiado pela espada e a religião. O pior casamento
possível. Personagem tosco, primário,
mas perigosíssimo. Porque instrumento da ignorância de uns, do ressentimento de
outros e da ganância de uma minoria, que sabe exatamente o que está fazendo.
Bem-vindo o segundo
turno. Vamos esclarecer a sociedade sobre aquilo que está em jogo neste
momento. Obrigar a besta a mostrar sua cara, dizer o que pretende sem papas na
língua. Quem quiser acompanha-la rumo à barbárie, que o faça, mas
conscientemente do que está ajudando a fazer. Nada de Brasil, Deus, Jesus
Cristo. Barbárie, pura e simplesmente a serviço de interesses que não ousam
dizer o nome.
Viva o nordeste e os nordestinos!
*Na foto Fernando Haddad e Ana Estela, com quem é casado há 30 anos
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