Por Junior Almeida
Serrinha
do Catimbau, hoje Paranatama, antiga vila de Garanhuns se viu em apuros naquele sábado 20 de
julho de 1935, com a presença nada amigável do Rei do Cangaço e parte da sua
horda. Segundo o inquérito, estavam na ação Virgulino Ferreira, o Lampião, sua companheira Maria Bonita, Maria Ema,
Medalha, Fortaleza, Juriti, Moita Braba e Gato, que estiveram no dia anterior,
sexta-feira, no Sítio Azevém, onde assaltaram a casa e bodega do casal Zé Basílio e Maria
Gracinda, a Branca, mãe de um menino de oito meses e grávida do seu segundo
filho. Os cabras também estupraram as duas irmãs do dono da casa: Antônia e Josefa. Do Azevém a súcia foi para o Sítio Queimada do André, onde foi assassinado o idoso
José Gomes.
Já na
vila, distante aproximadamente uma légua do local desse crime de morte, o bando
de Virgulino Ferreira foi recebido à bala, numa heroica e arrojada resistência
liderada por moradores locais, tendo à frente João Caxeado e Ozéias Correia. No fogo
de Serrinha do Catimmbau Lampião sofreu uma de suas mais desmoralizantes derrotas, pois além
de ter sido morto um cachorro do bando de nome “Dourado”, Maria Bonita, a rainha do cangaço, levou dois
tiros: um na pá e outro na bunda.
Lampião babou de ódio e jurou o povo do lugar. Versos atribuídos ao célebre cangaceiro diziam:
Mataram o meu cachorro
Balearam a baianinha
Quando nós voltar
Toca fogo em Serrinha.
Lampião
e seus cabras saíram corridos de Paranatama. Se ficam morriam. A vitória do bem
contra o mal foi a glória de Serrinha, que demonstrou galhardia e desassombro,
mostrando que é terra de homens valentes, briosos, embora depois viesse o medo
das pessoas simples daquela terra, pois não se poderia desprezar em nenhum momento as ameaças de Lampião. 83
anos depois desse episódio a população local se orgulha em ter imposto ao maior
de todos os cangaceiros uma derrota inesquecível.
Para
se ter noção da importância desse tiroteio na história do cangaço, Maria Bonita
que foi baleada em Serrinha, até a data de sua morte três anos depois em
Sergipe, teve sequelas por conta do ferimento. Vivia a escarrar sangue. Ela chegou o a sair do coito de
Angicos, para ir se tratar em Propriá, poucos dias antes de tombar sem vida
pelas mãos das volantes do tenente João Bezerra. VIVA SERRINHA!
*Fotos:
1-igreja de São Luiz Gonzaga, em Paranatama; 2- Bando de Lampião; 3 Capa do
livro LAMPIÃO, O CANGAÇO E OUTROS FATOS NO AGRESTE PERNAMBUCANO, que narra de maneira completa essa história e outras sobre o cangaço no Agreste do Estado.
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