Roberto Almeida*
Por que o desfile da escola de samba Paraíso de Tuiuti, do Rio de Janeiro, causou tanta repercussão no Brasil e exterior?
Afinal
de contas críticas ao golpe, a Globo, ao presidente Temer e aos políticos em
geral têm sido feitas todo dia.
Não
faltam sites e blogs de esquerda, deputados do PT ou PSOL para denunciar o
comportamento indecente do atual Congresso Nacional e as medidas contra o povo
brasileiro tomadas pelo Governo Federal.
Já se
gravaram milhares de vídeos no Youtube, já se escreveram páginas
suficientes para imprimir vários livros sobre o golpe e o momento político
atual do Brasil, sem que nada obtivesse tanta repercussão.
Acontece
que os jornalistas, mesmo os que usam linguagem simples, nem sempre conseguem
chegar ao coração do povo. E com relação aos políticos há uma singular desconfiança,
mesmo entre os que tentam se manter coerentes e fieis aos anseios da população
nacional.
O
carnaval, especialmente o do Rio de Janeiro, é a festa mais popular do Brasil,
que sempre atrai sobre si as atenções do mundo.
Dentro
dessa festa gigante, o desfile das escolas de samba da capital carioca é a
verdadeira apoteose, tanto que todos os anos atrai gente dos mais diferentes
países para conferir a alegria, a criatividade, a beleza e a harmonia de homens
e mulheres que levam à avenida música, dança, luxo, samba e algumas vezes
crítica social.
Num
momento como este que o Brasil vive, com a imagem dos políticos no fundo do
poço, com o judiciário desmascarado e sob desconfiança da população, como nunca antes
na história do país; com os grandes setores da mídia totalmente comprometidos
com o capital e os interesses de uma elite mesquinha e egoísta, o desfile da
Tuiuti foi o grito preso na garganta dos tímidos ou medrosos, foi a válvula de
escape dos milhões de descontentes que não veem a maneira correta de se
manifestar, foi a manifestação certa na hora e no momento certos para despertar
sentimentos adormecidos e revoltas internas ou externas que estavam apenas latentes.
O
desfile da Paraíso da Tuiuti foi mais eficiente de que todos os textos e vídeos
de Paulo Henrique Amorim ou Eduardo Guimarães, valeu mais do que todos os
discursos do deputado Paulo Pimenta, superou qualquer post do site petista
Brasil 247.
Porque o
enredo da escola de samba levado à Sapucaí não teve politiquês, filosofia,
sociologia ou qualquer forma de intelectualismo.
Foi uma
mostra direta da realidade, facilmente assimilável por quem estava nas ruas ou
assistia pela televisão.
“Meu
Deus, meu Deus, está extinta a escravidão?”
Esse o
tema do desfile, um questionamento simples que bateu fundo na alma de muitos
brasileiros.
Patrick
Carvalho, coreógrafo negro de 33 anos, foi o principal idealizador do “protesto
social e político” da Tuiuti e há oito anos que vinha fazendo carnaval no Rio
de Janeiro e pensando em levar à avenida um projeto nos moldes deste que se
consagrou no carnaval 2018.
“Esperei
muito para dar meu grito de liberdade”, confessou Patrick numa entrevista ao
jornal O Globo, do Rio de Janeiro, ironicamente o veículo impresso do grupo de
comunicação que mais contribuiu para este momento da história do Brasil em que
parecem querer abolir a Lei Áurea.
Paraíso
de Tuiuti falou da escravidão antiga, que foi abolida por decreto, e da escravidão
moderna, que adotou outras formas e encarcera operários, trabalhadores do
campo, os informais sem carteira de trabalho e os que foram atingidos por um míssil
e perderam direitos conquistados há mais de 50 anos, através da velha CLT.
A Escola
de Samba escancarou o golpe, ironizou com os patos, os fantoches, os midiotas,
deu um recado direto - sem direito a resposta - que fez corar os coxinhas
paneleiros, manipulados por mãos gigantes que nunca tiveram o poder da
invisibilidade.
Patrick,
uma espécie de Joãozinho Trinta com consciência social fez a sua parte, assim
como a sua escola, todos os integrantes que “compraram a ideia” com muita
convicção, embora não sejam promotores de justiça.
Cabe a
muitos outros continuar o trabalho da Paraíso. Os artistas, os trabalhadores do
comércio e da indústria, os professores, os profissionais de comunicação, os
líderes sindicais e religiosos, os políticos que ainda têm um mínimo de
vergonha, os estudantes, as feministas, às lideranças dos movimentos LGBT,
enfim a todos que têm responsabilidade e querem um Brasil melhor, um país de
todos e não só dos Marinho, dos Mesquita, dos Temer, dos Bolsonaro, dos Moro,
dos Dallagnol e outros que querem transformar-nos numa Índia, num país de
castas.
Ainda há
esperança no Brasil de Patrick Carvalho e da Paraíso da Tuiuti.
*Na foto do jornal O Globo, Patrick é o que está de paletó branco.
*Roberto Almeida é jornalista e editor deste blog.
*Roberto Almeida é jornalista e editor deste blog.
As escolas de samba do Rio de Janeiro são vistas pelo mundo inteiro. Enviados especiais de vários jornais de grande porte, vêm da Europa, dos EUA e de outros continentes. O peso dos protestos na Marquês do Sapucaí é medido em toneladas. Não há imprensa, escrita ou falada, que tenha essa força. Portanto, esse grito da Tuiuti ficou para a história. 2. As escolas de samba, tanto protestam, quanto homenageiam. Só pra falar de figuras nossas, já foram homenageados Miguel Arraes de Alencar e Ariano Suassuna, dos que me lembro. - Portanto, se os políticos, os julgadores, os integrantes do Ministério Público, os negociantes vendilhões etc. tivessem um centavo de vergonha nas fuças, passariam a olhar por outras viseiras. - Isto é, dariam um jeitinho nas máscaras que mascaram a sem-vergonhice despudorada. /.
ResponderExcluirA Razão é simples, a escola de samba está lavando a grana roubada na Petrobrás e os blogueiros do país inteiro estão querendo um pedaço tambem!!
ResponderExcluirKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK
Isso que você acaba de narrar, meu caro Roberto, me faz lembrar do filme: "A Servidão Moderna".
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