Historiador e professor Moniz Bandeira
Natural de Salvador, Luiz
Alberto de Vianna Moniz Bandeira, ou simplesmente Moniz Bandeira, como é mais
conhecido, é professor universitário aposentado, cientista político e autor de
quase 30 livros, sobre história, política nacional/internacional e a
influência norte-americana no mundo.
Aos 82 anos, lúcido, Moniz
Bandeira acompanha com preocupação o que vem acontecendo no Brasil, nos últimos
anos e numa entrevista recente ao Jornal do Brasil Online, do Rio de Janeiro,
disse que tanto o juiz Sérgio Moro como o Procurador Geral da República,
Rodrigo Janot, atuam a serviço dos Estados Unidos, receberam treinamento dos
americanos, e jogam contra os interesses nacionais.
Moro, segundo o historiador,
com “suas ações arbitrárias que lembram as práticas da Gestapo nazista, já
causou mais prejuízos à economia brasileira do que todos os atos de corrupção
que alega combater”.
O professor Moniz Bandeira
não é um porra louca de esquerda, nem
petista ou um jovem deslumbrado com teorias conspiratórias. É um intelectual
reconhecido mundialmente, já tendo recebido os mais diversos prêmios por sua
obra de escritor, historiador e cientista político.
Para que o leitor possa fazer
uma reflexão, transcrevemos os principais trechos da entrevista do pensador baiano no jornal carioca.
Jornal do Brasil - E
qual teria sido o papel norte-americano na destituição?
Moniz Bandeira - Há
evidências, diretas e indiretas, de que os Estados Unidos influíram e
encorajaram a lawfare, a guerra jurídica para
promover a mudança do regime no Brasil. O juiz de primeira instância
Sérgio Moro, condutor do processo contra a Petrobras e contra as grandes
construtoras nacionais, preparou-se, em 2007, em cursos promovidos pelo
Departamento de Estado. Em 2008, ele participou de um programa especial de
treinamento na Escola de Direito de Harvard, em conjunto com sua colega Gisele
Lemke. E, em outubro de 2009, participou da conferência regional sobre “Illicit
Financial Crimes”, promovida no Rio de Janeiro pela Embaixada dos Estados
Unidos. A Agência Nacional de Segurança (NSA), que monitorou as comunicações da
Petrobras, descobriu a ocorrência de irregularidades e corrupção de alguns
militantes do PT e, possivelmente, forneceu os dados sobre o doleiro Alberto
Yousseff ao juiz Sérgio Moro, já treinado em ação multi-jurisdicional e
práticas de investigação, inclusive com demonstrações reais (como preparar
testemunhas para delatar terceiros).
Jornal
do Brasil – O Sr. cita também o procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, no desmantelamento de empresas brasileiras...
Moniz Bandeira -
Rodrigo Janot foi a Washington, em fevereiro de 2015, apanhar informações
contra a Petrobras, acompanhado por investigadores da força-tarefa
responsável pela Operação Lava Jato, e lá se reuniu com o Departamento de
Justiça, o diretor-geral do FBI, James Comey, e funcionários da Securities and Exchange Commission (SEC). A
quem serve o juiz Sérgio Moro, eleito pela revista Time um dos dez homens mais influentes do mundo? A
que interesses servem com a Operação Lava-Jato? A quem serve o procurador-geral
da República, Rodrigo Janot? Ambos atuaram e atuam com órgãos dos Estados
Unidos, abertamente, contra as empresas brasileiras, atacando a indústria
bélica nacional, inclusive a Eletronuclear, levando à prisão seu
presidente, o almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva. Os prejuízos que
causaram e estão a causar à economia brasileira, paralisando a Petrobras, as
empresas construtoras nacionais e toda a cadeia produtiva, ultrapassam, em uma
escala imensurável, todos os prejuízos da corrupção que eles alegam combater. O
que estão a fazer é desestruturar, paralisar e descapitalizar as empresas
brasileiras, estatais e privadas, como a Odebrecht, que competem no mercado
internacional, América do Sul e África.
Jornal
do Brasil - Levando-se em consideração a destruição
de empresas de infraestrutura no país, projetos para acabar com a exclusividade
da Petrobras na exploração da commodity, o senhor acredita na tese de que o
cérebro da Lava Jato está fora do país? Se sim, como se daria isso?
Moniz Bandeira
- Não há cérebro. Há interesses estrangeiros e nacionais que convergem.
Como apontei, os vínculos do juiz Sérgio Moro e do procurador-geral Rodrigo
Janot com os Estados Unidos são notórios. E, desde 2002, existe um acordo
informal de cooperação entre procuradores e polícias federais não só do Brasil,
mas também de outros países, com o FBI, para investigar o crime organizado. E
daí que, provavelmente, a informação através da espionagem eletrônica do NSA,
sobre a corrupção por grupos organizados dentro da Petrobras, favorecendo
políticos, chegou à Polícia Federal e ao juiz Sérgio Moro. A delação
premiada é similar a um método fascista. Isso faz lembrar a Gestapo ou os
processos de Moscou, ao tempo de Stálin, com acusações fabricadas pela GPU
(serviço secreto). E é incrível que, no Brasil, um juiz determine, a
polícia faça prisões arbitrárias, ilegais, sem que os indivíduos tenham culpa
judicialmente comprovada, um procurador ameace processá-los se não delatarem
supostos crimes de outrem, e assim, impondo o terror e medo, obtêm uma delação
em troca de uma possível penalidade menor ou outro prêmio. Não entendo como se
permitiu e se permite que a Polícia Federal, que reconhecidamente recebe
recursos da CIA e da DEA, atue de tal maneira, ao arbítrio de um juiz de 1ª
Instância ou de um procurador, que nenhuma autoridade pode ter fora de sua
jurisdição, conluiados com a mídia corporativa, em busca de escândalos para
atender aos seus interesses comerciais. A quem servem? Combater a corrupção é
certo, mas o que estão a fazer é destruir a economia e a imagem do Brasil no
exterior. E em meio à desestruturação da Petrobras, das empresas de
construção e a cadeia produtiva de equipamentos, com o da “lawfare”, da guerra jurídica, com a cumplicidade da
mídia e de um Congresso quase todo corrompido. O bando do PMDB-PSDB apossou-se
do governo, com o programa previamente preparado para atender aos interesses do
sistema financeiro, corporações internacionais e outros políticos estrangeiros.
Jornal
do Brasil - O economista Bresser-Pereira,
ex-ministro de FHC, afirma, na apresentação de A Desordem Mundial,
que os EUA, segundo a tese do senhor, passaram por um processo de democracia
para a oligarquia. Que paralelo se pode fazer com o Brasil nesse sentido,
tomando como base as últimas três décadas? O sr. acredita que passamos
brevemente por um momento de democracia e agora voltamos à ditadura do capital
financeiro/oligarquia?
Moniz Bandeira - Michel Temer, que se assenhoreou da
presidência da república, não governa. É um boneco de engonço. Quem dita o que
ele deve fazer é o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, como representante
do sistema financeiro internacional. E seu propósito é jogar o peso da crise
sobre os assalariados, para atender à soi-disant, “confiança
do mercado”, isto é, favorecer os rendimentos do capital financeiro,
especulativo, investido no Brasil, e de uma ínfima camada da
população - cerca de 46 bilionários e 10.300 multimilionários.
Jornal
do Brasil - O senhor afirma que onde quer que os EUA entrem com o objetivo
de estabelecer a democracia, eles entram na verdade por interesses políticos e
econômicos. É esse o caso da aproximação dos norte-americanos com Cuba? Fidel
Castro é um dos que compartilhavam dessa visão de interesse.
Moniz
Bandeira - Sim, havia forte pressão de empresários americanos para
o restabelecimento de relações com Cuba, por causa de seus interesses
comerciais. Estavam a perder grandes oportunidades de negócios e investimentos
devido ao embargo econômico, comercial e financeiro imposto a Cuba desde fins
de 1960, portanto mais de 50 anos, sem produzir a queda do regime instituído
pela revolução comandada por Fidel Castro. Era um embargo de certa forma
inócuo, uma vez que outros países, como o Brasil, estavam a investir e fazer
negócios com Cuba. A construção do complexo-industrial de Mariel, pela
Odebrecht, com equipamento produzidos pela indústria brasileira e o apoio do
governo do presidente Lula, contribuíram, possivelmente, para a decisão do
presidente Barack Obama de normalizar as relações Cuba. Essa Zona Especial de
Desarrollo de Mariel (ZEDM), 45 quilômetros a oeste de Havana, tende a atrair
investimentos estrangeiros, com fins de exportação, bem como opção para o
transbordo de contêineres, a partir da ampliação do Canal do Panamá, ao
permitir a atracagem dos grandes e modernos navios de transporte
interoceânicos. Tenho um livro sobre as relações dos Estados Unidos com Cuba (De Martí a Fidel – A Revolução Cubana e a América Latina).
Jornal
do Brasil - O processo de apoio financeiro de
instituições políticas às religiões cristãs de direita, tal como o senhor
descreve ao tratar do governo Bush, se assemelha de alguma forma ao contexto do
Brasil, levando-se em conta o crescimento da bancada evangélica no Congresso
Nacional e a conquista de cargos do Poder Executivo por representantes da
Igreja?
Moniz Bandeira
- Sim, o processo é secreto. Ocorre através de ONGs, muitas das quais são
financiadas pela USAID, National Endowment for Democracy, conforme demonstro
em A Segunda Guerra Fria e A desordem mundial, bem como através de outras agências
semioficiais e privadas. Essas igrejas também coletam muito dinheiro dos
crentes, acumulam fortunas. E as bancadas de deputados recebem dinheiro de empresas
não nacionais, mas de grandes empresas estrangeiras, muitas das quais
apresentam no Brasil balanços com prejuízos, conquanto realizem seus lucros nas
Bahamas e em outros paraísos fiscais. Tais empresas multinacionais não foram
investigadas pelo juiz Sérgio Moro, o procurador-geral Rodrigo Janot e a
força-tarefa da Operação Lava-Jato et caterva. A quem eles servem? Racine, o
dramaturgo francês, escreveu que “não há segredo que o tempo não revele”. Não
sabemos exatamente agora, porém podemos imaginar.
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