Clarice
Lispector, que morreu em 1977, aos 57 anos, é a escritora brasileira mais citada
nas redes sociais, principalmente no Facebook. Milhares ou mesmo milhões de
pessoas que nunca leram um livro da autora ficam reproduzindo suas frases e
muitos chegam a atribuir a ucraniana-brasileira pensamentos que não foram
formulados por ela.
A
escritora, que se tornou um fenômeno literário pelos contos e romances como Perto do Coração Selvagem (lançado
quando ela tinha apenas 19 anos), Maçã no
Escuro, Água Viva, A Paixão Segundo G.H
e A Hora da Estrela desperta até hoje
uma forte paixão nos amantes da literatura, principalmente entre os jovens,
pela prosa elegante e o tom intimista, mais interessado em desvendar a alma
humana do que em contar uma história.
Clarice
nasceu numa cidadezinha da Ucrânia, em 1920, e com menos de dois anos de idade
veio para o Brasil, ficando primeiro em Maceió e depois no Recife, onde passou
a infância. Depois da adolescência é que foi morar no Rio de Janeiro, onde
ainda jovem começou a trabalhar em jornais e revistas.
Em 1943
ela escreveu seu primeiro livro, “Perto do Coração Selvagem”, que espantou o
público e a crítica. O livro já trazia o estilo inconfundível e único de
Clarice Lispector e quase ninguém entendeu a nova escritora, segundo ela mesmo
deixou claro numa célebre entrevista à TV Cultura, no mesmo ano de sua morte.
Sérgio
Milliet, um dos grandes nomes da crítica literária da época, ironizou até o
nome da escritora que surgia, considerando seu sobrenome “desagradável” e
avaliando que por certo era um “pseudônimo”, no que estava enganado.
“No
começo ninguém me entendia. Hoje já me entendem. Mas dizem que sou hermética,
por isso não posso ser popular”, revelou a escritora na citada entrevista à
televisão.
Clarice
Lispector disse que desde criança gostava de escrever “fábulas” e na
adolescência produziu muita coisa, mas, segundo ela, de forma caótica.
A mãe da
escritora, que morreu quando ela ainda era criança, escrevia contos e poesias,
mas Clarice só veio a saber disso em 1977 (em dezembro desse ano a escritora morreu de um câncer), através de uma tia. Isso
também foi revelado na TV Cultura.
Sua irmã
mais velha, Elisa, também foi romancista e outra irmã, Tânia, escrevia livros
técnicos.
A autora
não revelava suas influências literárias nem os escritores contemporâneos de
que gostava, mas na famosa entrevista que inspirou esta matéria chegou a citar
o nome de Dostoiévski e confessou ter lido O Lobo da Estepe, de Herman Hesse,
com 13 anos. “Tive um choque”, frisou.
Com
relação à dificuldade que algumas pessoas tinham (muitos ainda têm) em compreender seus livros,
Clarice considerou que sua obra devia ser avaliada mais pelo sentimento de que
pela inteligência. “É uma questão de sentir”, enfatizou, dizendo que um
professor de Literatura Brasileira do Rio de Janeiro leu quatro vezes “A Paixão
Segundo G.H.” e não conseguiu entender nada, enquanto uma menina de 17 anos
amava tanto o mesmo o romance que o tinha transformado no seu livro de
cabeceira.
Das
revelações da consagrada escritora, a brasileira mais lida no exterior depois
de Machado de Assis, à frente de Jorge Amado e Guimarães Rosa, a mais espantosa
foi a de que não se assumia como profissional. “Sou amadora e faço questão de
continuar assim”, disse ao entrevistador, o jornalista Júlio Lerner.
Outro
momento intrigante do seu bate papo com Lerner foi quando admitiu que ela mesmo
não conseguia entender o conto “O Ovo e a Galinha”, um dos seus textos mais
famosos, considerado uma verdadeira obra prima da literatura.
Fato é
que Clarice e muitos dos seus escritos sempre foram um mistério. Ao ser
perguntada porque fazia literatura ela saiu-se com esta: “Escrevo para não
morrer. Quando não estou produzindo estou morta”.
Para a
ucraniana que se considerava brasileiríssima, afinal de contas veio para o
nosso país ainda um bebê os “adultos são tristes e solitários”. Quem sabe a sua literatura intimista fosse
uma tentativa de espantar a tristeza e a solidão.
Esse
fenômeno da literatura brasileira e mundial causou impacto desde o início.
Levou o já citado crítico Milliet a fazer considerações infelizes e o primeiro
jornalista que leu um texto seu, Raimundo Magalhães, perguntou, estranhando o
estilo único: “Foi você mesmo que escreveu? Não é uma tradução?”.
Clarice,
que se considerava tímida e ousada ao mesmo tempo, veio da Ucrânia para o Brasil
destinada a sacudir os alicerces da literatura nacional. E virou mito, tornou-se cult,
personagem singular na internet, citada à exaustão pelo que escreveu ou não.
Algumas frases conhecidas de Clarice
Lispector:
“A palavra é meu domínio sobre o mundo”.
“Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome”.
“Não tenho tempo pra mais nada, ser feliz me consome muito”.
“Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do
que é passível de fazer sentido. Eu não: quero uma verdade inventada”.
“Brasília…Uma prisão ao ar livre”.
PEGANDO A DEIXA DESTE FENÔMENO CLARICE, COM AUTORIZAÇÃO DELA, LISPECTOR, MANDO UM RECADO PARA A PILANTROPIA PETRALHA QUE SE ESCONDEM NO ANONIMATO PARA ME CRITICAR NO BLOG DO ROBERTO ALMEIDA. EIS A PÉROLA ESCRITA POR ELA: "Escrever é inumano, é percorrer linhas que escapam e transbordam para todos os lados. Para o ser desorganizado pelas linhas de fuga da escritura, escrever é fazer operar um inconsciente coletivo e inumano. É trazer de volta para a literatura e para o jornalismo povos que morrem e “Temas que morrem”... SIMPLESMENTE, ESPETACULAR!!!
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