Por Michel Zaidan Filho*
Durante a gravação do
programa sobre a participação estrangeira no golpe de resultou o afastamento da
Presidente Dilma, para o “Opinião Pernambuco” da TV Universitária-UFPE,
discutiu-se a tese – que vem se confirmando – de que a ilegitimidade, a
provisoriedade e a fragilidade do governo usurpador do mandato presidencial
levava os interinos e provisórios a agirem com voracidade e arbitrariedade.
Talvez, com receio de que
sejam apeados de seus cargos muito mais rapidamente do que pensam. Se obedecessem à Constituição Federal – coisa
que não fazem – saberiam que a interinidade não confere ao ocupante do cargo o
direito de fazer leis, nomear ministros e assessores, desfazer os atos da
administração legalmente constituída etc.
Interino significa mais do
que provisório. Quer dizer que está no cargo, por enquanto, até o titular –
legitimamente eleito para o cargo – voltar. Mas a consciência da ilegitimidade
(junto com a voracidade imoral) faz com que os interinos ajam como se fossem
titulares e o impedimento, fato consumado. Daí a pressa do vice interino em
adiantar o calendário do impeachment. Certamente com receio de que as
revelações diárias do ex-senador Sérgio Machado comprometam ainda mais, com
farta documentação, o escandaloso golpe praticado contra as instituições
democráticas no Brasil.
A certeza de que o golpe não
seja revertido, com a volta da Presidente eleita com 54 milhões de votos, se
traduz na audácia sem limites das medidas tomadas pelos interinos, como se
fossem ficar a vida toda em seus cargos: um – que trabalhou intensamente pelo
afastamento temporário de Dilma – recebeu o Ministério das Cidades e logo
cuidou de cortar 10 milhões do programa Minha casa, Minha Vida, atingindo os
pobres e o movimento dos trabalhadores sem teto.
O outro sugeriu que as
Universidades Públicas passem a cobrar mensalidades; o outro quer acabar com o
SUS. Agora, anuncia-se uma CPI da Lei Rouanet, depois da desastrada tentativa
de acabar com o Ministério da Cultura. E o grão-ministro já avisou que vai
cortar as despesas com a Saúde e a Educação.
Some-se a isso a mudança da
Política Exterior do país e a abertura dos portos “às nações amigas”. O que vai
sobrar para a população é aumento de impostos e corte de direitos e garantias
sociais. Um governo (ilegítimo) que não depende do voto popular, acha que pode
governar contra o povo e o país. Pensa que tem carta branca para desconstruir
os avanços e os êxitos da administração verdadeira. Agem como representantes de
interesses que teriam viabilizado o golpe. Ao arrepio de qualquer legalidade.
Pensando que não haverá amanhã.
E nesse quadro, inquieta o
silêncio de pessoas, educadores, pensadores e parlamentares que apoiaram esse
farsa de julgamento legal da Presidente, por crime de responsabilidade. Um
deles, responde pelo nome de Cristovam Buarque, educador, ex-reitor da UnB,
criador da Universidade da Paz, do programa Bolsa-família no Distrito Federal,
que foi Ministro da Educação, de Lula, e que votou a favor do golpe.
O que tem a dizer o distinto
senador pernambucano, agora abrigado nesse partido-laranja chamado PPS, sobre o
escandaloso processo criminoso de afastamento da Presidente eleita? Pior: que tem ele a dizer sobre o fato de um
rebento da oligarquia do Agreste de seu estado ter assumido – como presente – o
Ministério da Educação, ter ameaçado de processo professores e críticos de sua
gestão e de ter recebido, em sua primeira audiência, um ator pornô para lhe entregar
sugestões sobre a política educacional brasileira? – Aguardamos, com muita
ansiedade, o pronunciamento – mais do que oportuno – de V.Excia.
*Michel Zaidan Filho é natural de Garanhuns. É cientista político e professor da Universidade Federal de Pernambuco na área de Ciências Humanas.
O nosso presidente tem tudo para ser um homem de bem. Se Dilma usou a Advocacia-Geral da União para defendê-la nas pedaladas e no impeachment, Michel Temer contratou o ex-presidente da OAB Marcus Vinícius Coêlho para representá-lo em uma ação na Justiça Federal do Rio. Coêlho também vai defender Temer no TSE, onde pedirá a separação das contas do presidente interino e de Dilma no pedido de cassação de ambos.
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