LULA IRONIZA TRÍPLEX DOS DONOS DA GLOBO

Com expressão preocupada, mas tranquilo, o ex-presidente Lula concedeu entrevista coletiva logo depois de depor para agentes da Polícia Federal, numa sala reservada do Aeroporto de Congonhas. O petista criticou o espetáculo midiático criado por procuradores e por setores de imprensa, a seu ver promovido somente para constrangê-lo.

O ex-presidente disse que bastava um simples ofício do juiz Sérgio Moro, que ele teria prestado depoimento sem nenhum problema, como já fez em outras oportunidades. “Mas não, preferiram fazer esse show midiático só para me atingir”, frisou, alegando que tanto ele quanto sua esposa, Mariza, merecem um mínimo de respeito.

Mesmo a entrevista sendo transmitida ao vivo, pela TV Globo, Lula não se intimidou e mais de uma vez soltou farpas para os que fazem a emissora da família Marinho. Numa delas, que arrancou aplausos do que acompanhavam a fala, disse que usa apartamento ou sítio dos amigos porque os inimigos não oferecem. “Se os donos da Globo me oferecerem o tríplex deles em Paraty eu aceito”, ironizou o petista.

O líder político lembrou que sua vida sempre foi difícil e ponderou que não esperava, aos 70 anos, ser constrangido do jeito que foi hoje. Deixou, claro, porém, que o episódio o deixa ainda com mais vontade de lutar e levar à frente as batalhas a favor do povo brasileiro, principalmente dos mais pobres.

Numa das partes mais fortes da entrevista, quando ele chegou a se emocionar, Luiz Inácio Lula da Silva insinuou (devia estar referindo a procuradores, promotores e juízes) que “muitos deles nunca trabalharam na vida e com 11 anos minha esposa já ganhava a vida como empregada doméstica”.

Lula lembrou que na Constituinte lutou por um Ministério Público forte e lamentou que procuradores e promotores hoje estejam totalmente dependentes do espetáculo midiático. “Ministério Público forte também implica em responsabilidade”, cutucou o ex-presidente, atribuindo a alguns representantes do MP e do Judiciário o uso da prepotência e da arrogância. “Por isso fizeram esse show de pirotecnia”, completou.

"Eu me senti um prisioneiro hoje", confessou Lula, porém garantiu que os fatos de hoje precisavam acontecer "para o PT levantar a cabeça". Ele disse que a partir da próxima semana vai começar a percorrer o país e até apelou para que o convidem a participar de palestras e atos públicos. No final, disse que se pensavam “abater a jararaca” erraram, porque não bateram na cabeça, mas apenas no rabo. E assim a serpente ficou mais forte.

A TV Globo chegou a cortar uma parte da entrevista, quando o petista fez críticas diretas à Revista Época. Depois a emissora voltou a transmitir a coletiva. Quando o ex-presidente terminou de falar foi ovacionado pela militância do seu partido que ecoou o grito: “Lula, guerreiro do povo brasileiro”.

Em algumas cidades brasileiras equipes da TV Globo foram hostilizadas por populares. Ao fazer a cobertura, ao vivo, mais uma vez a principal emissora de televisão do país ouviu grupos de protesto de simpatizantes do PT. “Abaixo a Rede Globo”, foi o grito de guerra dos que não concordam com a cobertura jornalística da empresa comandada pela família Marinho.

CRÍTICA NO STF - No Supremo Tribunal Federal à ação do juiz Sérgio Moro contra o ex-presidente Lula foi criticada de maneira contundente pelo ministro Marco Aurélio Mello: "Condução coercitiva? O que é isso? Eu não compreendi. Só se conduz coercitivamente, ou, como se dizia antigamente, debaixo de vara, o cidadão que resiste e não comparece para depor. E o Lula não foi intimado", afirmou. "Precisamos colocar os pingos nos 'is'", defendeu o integrante da mais alta corte do país.

 

Marco Aurélio criticou o argumento do juiz Moro, de que a medida foi tomada para assegurar a segurança de Lula; "Nós, magistrados, não somos legisladores, não somos justiceiros", e ensinou: "Não se avança atropelando regras básicas".