OS HITS DO CARNAVAL

Por Junior Almeida

Todo ano no período de carnaval tem uma música que estoura nas paradas de sucesso. É a chamada “música chiclete”, porque não diz nada com coisa nenhuma, e mesmo assim gruda na mente, assim como um chiclete no solado do calçado. 

Muitas vezes sem se dar conta você está cantando a tal musiquinha. Ano passado o grande sucesso foi o lepo lepo, e da muriçoca, duas pérolas vindas da Bahia. Aliás, os baianos são os que dão as cartas nesse quesito todo ano. Foi assim com o “bicho” e a “roda”, do hoje desconhecidos Ricardo Chaves e Sarah Jane, com “Diga que Valeu”, ainda hoje cantada pelo Chiclete com Banana, ou até mesmo “Faraó”, cantada pela Banda Mel e vários outros artistas. 

Em outros tempos as canções vindas da terra de Caetano Veloso, mesmo no carnaval, até que diziam alguma coisa, mas hoje...  Esse ano tem um hit, que mesmo sendo tocado nos trios de Salvador, assim como em todo lugar, não é da Bahia. O grude mental deste ano é a tal música da metralhadora. Eu não sei quem compôs tamanha obra de arte, mas a tal cantiga poderia ser muito bem de autoria de Tiririca ou Zé Lezin. Aliás, desconfio que o humorista paraibano Nairon Barreto em parceria com o palhaço deputado são os dois que queimaram os miolos pra compor tal música, pois eles têm obras bem parecidas com tra tra tra, cantadas em suas apresentações: “A Véia Que o Trem Matou” e o incrível sucesso “Florentina.” Duvidam? Escutem e comparem.

Pernambuco é um Estado culturalmente forte em todas as áreas. Tem coisa mais linda do que uma apresentação de maracatu, de frevo ou caboclinho? E as fantasias, os bonecos gigantes de Olinda, os blocos e troças irreverentes, o Elefante, Pitombeira, Virgens, o Galo da Madrugada, os Caretas de Triunfo, os Papangus de Bezerros e tantos outros? 

Como  não ouvir e gostar de Madeira que Cupim Não Rói, o hino do Elefante, Voltei Recife ou Vassourinha, que quando toca seus primeiros acordes a multidão pula e vibra como um gol do time da casa num estádio lotado? Como se banhar de tanta cultura, rica cultura e depois ouvir um tra tra tra, acompanhado de uma apelação bundal?

O pior de tudo isso é que muitas vezes essas porcarias são incentivadas e patrocinadas pelo poder público, o mesmo poder que devia zelar e incentivar os seus artistas e sua cultura. Esses dias mesmo eu vi com tristeza uma prévia de carnaval para as crianças numa cidade da região. Um carro com reboque, o chamado paredão de som, com músicas fazendo apologia ao sexo e a bebida. 

A musiquinha mais leve dizia que a novinha vai no chão, com a coreografia de um ato sexual, onde a mulher está por cima e outra música falando em chupar, o quê vocês devem imaginar. Uma cena grotesca de ver meninas de 10, 12 anos rebolando cheias de caras e bocas. Uma tristeza um negócio desses. 

Quando se nota que algo está errado muitos dizem: “Ah Lampião vivo!” Mas como o tempo é de festa, de alegria eu digo: “Ah Ariano Suassuna, Capiba, Chico Sience e tantos outros mestres da nossa cultura vivos!”