Por Michel Zaidan Filho
Um dos maiores críticos da
Cultura Ocidental, Frederico Nietzsche, disse uma vez que “as verdades” são
como velhas moedas que perderam o seu valor e que se colocaram no lugar daquilo
que representavam: ou sejam elas não representam mais nada, a não ser elas
mesmas. Coerente em sua visão retórica do conhecimento humano, dizia o filósofo
que as verdades são mentiras convencionalmente aceitas pela comunidade. Um dia,
alguém grita: “o rei está nu”, e as mentiras estabelecidas como verdades vêm
abaixo.
Os pensadores modernos
foram pródigos em levantar a suspeita sobre o conhecimento. Descartes saiu-se
como “o cogito”. Hume pôs o fundamento da ciência e da filosofia na crença e no
hábito. Kant disse que só podíamos conhecer a realidade através das nossas
próprias categorias mentais. E Nietzsche deu o golpe de misericórdia na espinha
dorsal da metafísica, ao dizer que tudo não passa de uma racionalização discursiva
a serviço de imperativos de poder. Depois dele, veio Foucault e os pós, pós,
pós-tudo.
Por que é importante a
crítica de Nietzsche? – Porque, segundo ele, não se vive sem mentiras,
autoenganos e ilusões. Não suportaríamos o absurdo da vida. É preciso construir
fantasias e quimeras filosóficas para acalentar a nossa “vontade de verdade”.
Freud denominaria isso de
regressão, infantilismo, incapacidade de enfrentar, com coragem e destemor, os
problemas da existência humana. Daí a necessidade das religiões, das drogas e
das filosofias.
Pois bem, e os discursos da
Política, dos políticos, dos partidos políticos? – Contaria, por ventura, com
alguns grãos de verdade a mais do que a filosofia, a ciência e a religião? –
Seria muito improvável que isso acontecesse. A propaganda política de gestores,
partidos ou políticos são aquilo que se chama de “discurso estratégico”, falas
desprovidas de “pretensões de validade”, à disposição de imperativos políticos,
tão-somente. Atos de fala sem finalidade
comunicativa ou descritiva, mas acima de tudo perlucionária. Isto é,
manipulatória, destinada a induzir o incauto ouvinte a aderir ao que ele não
sabe, pelo efeito daquilo que é dito ou mostrado. Efeito performático da
linguagem vã e enganosa, cujo fim é vender, persuadir o outro a aceitar o
comprar “o peixe” do vendedor. Seu
efeito de verdade se esgota na venda, na aceitação do produto pelo ingênuo
consumidor.
Essas considerações vêm à baila em razão dos “spots”
publicitários do Partido que ora nos infelicita em Pernambuco, e a propaganda
enganosa em relação à saúde, à educação, à violência, à mobilidade, ao
meio-ambiente etc. Estamos num ano pré-eleitoral: os gestores municipais
precisam mostrar (ou convencer) a população o que fizeram ou porque não
fizeram, se quiserem ser reeleitos. E aí o céu é o limite para a circulação
daquelas velhas moedas sem valor, que Nietzsche menciona como se fossem
verdades.
Provavelmente os discursos mais falaciosos em circulação
numa dada sociedade são esses de véspera de campanha eleitoral. Pior ainda,
pago com o dinheiro do contribuinte (se não for de caixa dois). Somos obrigados
a engolir pelos olhos e ouvidos a mentira mais deslavada com cara de verdade,
pelos efeitos especiais do marketing político e de atores televisivos
contratados a peso de ouro.
Nunca foi tão oportuna a crítica Nietzsche aos “flautis
vocis”, a essa melodia enfeitiçada da propaganda eleitoral.
*Michel Zaidan Filho é professor da Universidade Federal de Pernambuco,
Cientista Político e colaborador do Blog de Roberto Almeida.
..........Coerente em sua visão retórica do conhecimento humano, dizia o filósofo que as verdades são mentiras convencionalmente aceitas pela comunidade... APESAR DO TECNICISMO E DA REVOLUÇÃO DA BLOGOSFERA(INTERNET) QUE TEMOS EM MÃOS, HOJE, EM FRAÇÕES DE SEGUNDOS, CADA VEZ É MAIS DIFÍCIL SABER O QUE É VERDADE OU MENTIRA E VICE-VERSA. PARA ISSO, BASTA TER CONHECIMENTO DO QUE FALOU(OU FALARAM) GENTE COMO: Joseph Goebbels, Winston Churchill, Pablo Picasso, Martinho Lutero E ATÉ O NOSSO BRASILEIRO Millor Fernandes... NESSE MUNDO VASTO MUNDO, NOS CONFRONTAMOS COM FRASES INDELÉVEIS E INAPAGÁVEIS EM NOSSAS MEMÓRIAS OU EM NOSSOS ARQUIVOS CIBERNÉTICOS. FRASES ESTAS QUE DEIXARAM MARCAS E QUE CARREGAMOS ATÉ HOJE NO NOSSO COTIDIANO, COMO AS FAMOSAS: “De tanto se repetir uma mentira, ela acaba se transformando em verdade”; “OS TOLOS SE ALEGRAM QUANDO DESCOBREM A VERDADE. OS SABIDOS QUANDO DESCOBREM A MENTIRA”; “A mentira é como uma bola de neve: quanto mais rola, tanto mais aumenta”; NO CAMPO DA MENTIRA OU VERDADE, UMA FRASE QUE CURTO MUITO É DO NOSSO MILLOR FERNANDES QUE DIZ: O que é pior - a chamada mentira piedosa ou a verdade cruel?!?!?!
ResponderExcluirP.S1.: - Na verdade, paga-se um preço muito alto quando se fala a verdade, somente a verdade, apesar dela não ser absoluta. Até porque, muitas às vezes o que é verdade para uns não é para outros. Fugindo um pouco ao tema propriamente dito, na minha singularidade e, dados todos os defeitos de caráter, o que disputa o topo, o cume, a escala maior da MINHA irritação é a HIPOCRISIA... Agora, cai bem, se a ela for acrescentada o CINISMO!!!
P.S2.: - Até onde sei, a polêmica criada entre essa briga de foice no escuro entre o Garanhuense professor Michel Zaidan e o Governador do Estado(que até agora não deu sinal que vai dobrar em quatro anos os salários dos professores), há uma frase que se encaixa muito bem nessa peleja: Se meus inimigos pararem de dizer mentiras a meu respeito, eu paro de dizer verdades a respeito deles...
APROVEITANDO A DEIXA DO BRILHANTE ARTIGO DO PROFESSOR ZAIDAN, QUERO INCLUIR UM P.S3, NOS MEUS ESCRITOS ACIMA:
ResponderExcluirOntem, A Folha de São Paulo conversou com um ministro de Dilma Rousseff e ele disse que o grande temor, agora, é que Delcídio Amaral conte "até mesmo MENTIRAS" para atacar o Palácio do Planalto. Só que, o grande temor de Dilma Rousseff, claro, é que Delcídio Amaral decida contar "até mesmo VERDADES" sobre o Palácio do Planalto. O PT abandonou Delcídio Amaral e pode pagar caro por isso. Porém, vejo por outro ângulo e vou usar ao invés dos substantivos femininos, mentira e verdade, trocá-los pelo adjetivo covarde. SENÃO VEJAMOS: “ACHO ESSE SUJEITO COVARDE DEMAIS PARA ABRIR A BOCA!!! TOMARA QUE EU ESTEJA ERRADO...”.