O jornalista José Carlos de Assis volta à carga contra a Globo e à Veja:
Não me
proponho contribuir para a quebra da Globo. Seria um desperdício de tecnologia
em audiovisual acumulada durante décadas, a qual se tornou um patrimônio
nacional de valor incalculável. Quando o senador Crivella agendou uma conversa
com João Roberto Marinho na última campanha eleitoral, sugeri a ele que deveria
dizer que, se eleito, se comprometeria a lutar pela consolidação do Rio como
capital audiovisual da América Latina e um dos principais centros de produção
de arte audiovisual do mundo. O líder seria a Globo, naturalmente, não a
Record, cuja base audiovisual é São Paulo.
Acontece que
os programas de boa qualidade formal da Globo, como as novelas, casos
especiais, Globo Repórter, Fátima Bernardes, The Voice (não sei por que não “A
Voz”) e SuperStar funcionam como uma espécie de rede física de esgoto pelo qual
flui o material de má qualidade, a saber, o Jornal Nacional e, principalmente,
o Jornal da Globo. Vai também junto desse lixo esse monumento à imbecilidade
globalizada, o BBB Brasil, que disputa com Faustão o campeonato da idiotice,
salvo apenas, no caso de Faustão, pela Dança dos Famosos, para os que tem
estômago para tolerar as piadas de mau gosto do apresentador.
O lamentável
é que os outros canais, como Record, Bandeirantes e SBT, não se aproveitam das
falhas estruturais da Globo para lhe ocuparem o espaço jornalístico. Na Band o
jornalismo é tão pobre que as notícias dos principais Estados são veiculadas
por rádio, sem acompanhamento de imagem. A Record tem a sorte de ter em seus
quadros um dos maiores jornalistas do Brasil, Paulo Henrique Amorim, mas também
nela falta infraestrutura para o noticiário em geral. Com isso, a Globo nada de
braçadas, fixando o padrão de mediocridade que move a maior parte do jornalismo
de televisão.
Como
colunista do Globo, privei durante quase um ano da intimidade de Roberto
Marinho, o que me possibilitou conhecer bem algumas de suas facetas. Era um
homem simples, sem ideologia, voltado quase exclusivamente para o jornal, não a
tevê. É que, de jornal, ele acreditava entender bem — entrou na tipografia e
acabou dono —, enquanto a televisão não lhe era familiar, e deixava entregue a
José Bonifácio, o Boni, e Walter Clark. Boni e Clark puderam dar uma direção
profissional à televisão, sem interferência do dono, enquanto o jornal era estritamente
vigiado por ele.
Talvez viesse
daí a mediocridade do Globo quando comparado com o Jornal do Brasil, por
exemplo. Entretanto, mesmo que não fosse um luminar do jornalismo, Roberto
Marinho tinha o espírito da notícia. Lamentou várias vezes não ter podido dar o
furo do Plano Cruzado porque Sarney lhe pedira reserva. (O curioso nesse
episódio é que Sarney não se deu conta de que estava passando informação
privilegiada para o maior grupo de comunicação do país num momento crucial da
vida econômica brasileira. Na verdade, Sarney temia tanto o grupo Globo que não
pensou duas vezes antes de lhe entregar uma ficha valiosa que não foi usada.)
O espírito
jornalístico de Roberto Marinho não foi transmitido à prole. No caso da
televisão, foi totalmente desvirtuado. Como jornal perdeu espaço no mundo da
comunicação, a penetração da tevê tornou-se uma arma mortal de difusão
ideológica. No Jornal Nacional ela vinha sendo usada com alguma moderação
porque os editores, William Bonner à frente, calculavam que os telespectadores
são sobretudo de classe média baixa. A partir da última eleição, contudo, com o
sistema Globo assumindo papel de militante pró-Aécio, a manipulação ideológica
também do noticiário televisivo no horário nobre tornou-se aberta.
Como já
escrevi anteriormente, o sistema de três feudos e várias satrapias
jornalísticas do Globo não tem hoje nenhum controle político. É o campo da
liberdade sem limites dos âncoras e apresentadores, no qual atua a lei da
selva. Um ensaio iluminado de Norberto Bobbio ensina que os luminares do
alvorecer da Idade Moderna não esclareceram bem o que entendiam por liberdade.
Alguns, como Locke e Montesquieu, viam a liberdade como o não limite; outros,
como Rousseau e Hobbes, como prerrogativa de estabelecer os próprios limites.
Os primeiros inspiraram o liberalismo econômico. Os segundos, a democracia.
A tevê Globo
é hoje o império da liberdade sem limites, do liberalismo econômico que gerou
nas quatro últimas décadas o neoliberalismo. Antes, por contraditório que possa
parecer, Roberto Marinho lhe dava um caráter democrático. Um dia, na minha
época no Globo, entrei na sala dele e lhe expus o que sabia dos rumores de
corrupção do Governo Collor. “O que acha que eu devo fazer?”, perguntou ele a
mim, que tinha pouco mais de metade de sua idade. “Ponha na televisão”, sugeri.
Ele ficou em silêncio alguns segundos para comentar, encerrando a conversa: “É
muita responsabilidade...”
É essa
responsabilidade que a Globo perdeu sob a influência nefasta do grupo Veja.
Destruidora do Governo Collor, sem provas — a entrevista que publicou com o
irmão de Collor foi um monumento à irresponsabilidade jornalística —, Veja
começou a articular suas “revelações” de escândalos, oriundas de espionagem
paga, com o noticiário do Jornal Nacional e o Jornal da Globo. Duplamente
irresponsáveis, esses dois sistemas de empulhação jornalística estão destruindo
o Brasil com intrigas, e contribuindo para a degradação de todas as
instituições brasileiras, Executivo, Legislativo e Judiciário. Chegou o momento
do basta.
Para destruir
Veja, o que se justifica como profilaxia da imprensa brasileira, é muito fácil:
basta parar de comprá-la e cancelar as assinaturas. Caso sinta necessidade de
revista, compre a Carta Capital como alternativa, com uma linha mais imparcial.
No caso da
tevê também é fácil. Como queremos preservar as novelas e punir o
jornalismo-lixo, vamos fazer o seguinte: no horário do Jornal Nacional e do
Jornal da Globo — depois da novela, num caso, e do BBB, do outro —, vamos
desligar a televisão ou mudar de canal. Todos os anunciantes da Globo saberão
pelas pesquisas que, naquele horário, os aparelhos ou estarão desligados ou
ligados em outro canal. (Sugiro que alguém mais competente que eu em matéria de
internet arranje um jeito de tornar essa convocação nacional através das redes
sociais, começando numa data marcada com antecedência e combinando novas datas
até que se torne conhecida alguma providência do sistema Globo em reestruturar
profissionalmente seus jornais!)
*J. Carlos de
Assis, Jornalista, economista e professor, doutor pela Coppe/UFRJ, autor de
mais de vinte livros sobre Economia Política, sendo o último “A Razão de Deus”,
pela Civilização Brasileira.
Fonte: Contexto Livre.
Este cara é um imbecil sofisticado.
ResponderExcluirtemos que tirar esta globo de nossa area ela esta acabando com a moral e os bons costumes das familias.vamos fazer um apelo para o responsavel pelo sinal da globo em garanhuns faze-la sumir.
ResponderExcluirOs jornais são parciais, as novelas impróprias para menores de 200 anos, o BBB, mais conhecido como Sodoma e Gomorra, enfim, só o que temos que fazer é cobrir a televisão pelos nossos filhos ou pelos nossos netos.A pergunta que se faz é:porque esse mal ainda existe?
ResponderExcluirLongo artigo. - Mas, MUITO BOM. - José Carlos de Assis / sabe o que diz. - E esse texto merece toda a divulgação possível. - Porque os imbecis, sofisticados ou não, estão embasbacados, embriagados, enlameados com o Sistema Globo e com a Editora Abril (Veja e outros lixos do Grupo Abril). - Logo aí acima, já se apresentou um dos IDIOTAS que se alimentam do lixo dessas "empresas" de MANIPULAÇÃO! – Esse nosso povo não vale nada, com pequenas exceções! 2. Porém, existem os de bom senso! Ontem, ouvi uma entrevista com o jornalista Eugênio Bucci (outro que sabe onde tem o nariz). – Bucci já trabalhou nos “maiores” periódicos do Brasil. É formado em Comunicação Social e Direito, pela Universidade de São Paulo (USP). Foi professor de Ética Jornalística na Faculdade Cásper Líbero, nos anos de 2001 e 2002. Portanto, Bucci sabe o que é ética jornalística. E sabe quem é que não tem ética no jornalismo! – Ele tem vários livros publicados, incluindo sobre ÉTICA nos meios de comunicação. – E lançou, agora, “O Estado de Narciso”, pela Companhia das Letras. – Na entrevista de ontem, ele diz que não distingue corruptos da situação, nem da oposição. Porque todos são iguais, segundo Bucci. E isso é fato incontestável! – E ele citou o governo do Estado de São Paulo, como exemplo de mau exemplo e enganação. – Falou sobre a Sabesp, trens e metrôs etc. – Então, não é qualquer idiota aloprado, alienado, desinformado que vai contestar jornalistas desse porte! – NÃO! /.
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